A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) publicou um relatório bienal que alerta para o deterioramento do estado dos recursos pesqueiros no mundo.
O estudo revela que enquanto a taxa de populações de peixes que se pescam dentro dos níveis biologicamente sustentáveis diminuiu de 90% em 1974 para 67% em 2015, as capturadas fora desses níveis seguiram uma tendência inversa: de 10% para 33%.
De acordo com o diretor da FAO, Manuel Barange, em declarações à agência EFE, há uma “dicotomia” entre os países desenvolvidos, onde a gestão pesqueira está “a funcionar” e as populações estão a recuperar, e os países em desenvolvimento, nos quais a sobrepesca está a aumentar por “de recursos”.
“Não vamos por um bom caminho”, sublinhou.
Este aumento percentual está a contrariar a meta estabelecida para o desenvolvimento sustentável firmado pelas Nações Unidas para 2030, que procura acabar com a sobrepesca e restaurar as populações de peixes para níveis que possam produzir rendimentos máximos sustentáveis o quanto antes.
“Se estes países [em desenvolvimento] não levam a sério [o problema], abrem também a porta para a atividade ilegal, que vem mais de fora sabendo que não há controlo suficiente”, advertiu Manuel Barange.
De acordo com o perito, as piores áreas de sobre-exploração continuam a ser os mares Negro e Mediterrâneo, devido a “conflitos políticos e sociais”, seguidas das costas do Chile e da Argentina.
Há dois anos, a produção total de pesca alcançou um recorde de 171 milhões de toneladas, das quais 91 milhões foram provenientes de capturas, que se mantiveram estáveis, e 80 milhões da aquacultura, uma expansão mais moderada do que no passado.
A China – maior produtor mundial – e 15 outros países, na maioria asiáticos, foram responsáveis por quase 80% das capturas.
O diretor da FAO destacou a intenção da China em desenvolver medidas de gestão e redução dos volumes de produção pesqueira e aquacultura nos próximos anos.
Os dados também mostram que 59,6 milhões de pessoas trabalham globalmente na pesca e aquacultura – 14% desse número são mulheres – e avançam também que a pesca do bacalhau, no Alasca (Estados Unidos), voltou a ser a espécie mais pescada, e o noroeste do oceano Pacífico a zona mais produtiva.
Já o consumo ‘per capita’ alcançou os 20,2 quilogramas em 2015, percentagem que cresce em média a um ritmo anual de 1,5% desde 1961, o dobro do crescimento da população mundial.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação estima que até 2030 o consumo e comercialização de pesca aumente, mas mais lentamente.
Os fornecimentos deverão aumentar em todas as regiões, mas é esperada uma diminuição do consumo por pessoa em África.
Diante de um cenário no qual se prevê que aumentem a população e a sobrepesca no continente africano, Manuel Barange referiu que a solução pode passar pelo fomento da aquacultura com investimentos, infraestruturas, financiamento e apoio técnico.