“A Índia já estabeleceu projectos muitos interessantes com o Governo francês e é importante que faça o mesmo com Portugal. Neste âmbito, é muito importante que Portugal incentive a Índia a juntar-se como membro observador da CPLP. Faz pouco sentido a Índia ficar de fora, ainda tem falantes de português e tem longas ligações históricas com o mundo lusófono”, sublinhou o investigador da Brookings Índia, um instituto de pesquisa independente sediado em Nova Deli.
Para Constantino Xavier, Portugal “deve diversificar as suas parcerias” em vez de se retrair no espaço lusófono e deve apostar na revitalização da CPLP.
“Os países médios e pequenos têm interesse em desenvolver formas de cooperação diferenciadas”, comentou.
O especialista em política externa da União Indiana e segurança na Ásia do Sul assinalou que existe uma aproximação crescente da Índia a África, motivada por vários interesses.
Segundo o investigador, entre estes estão os recursos energéticos – a Índia quer diversificar as suas fontes de abastecimento e Angola e Nigéria estão entre os seus principais fornecedores de petróleo, a par dos países do Golfo – mas também o comércio, já que a Índia está também interessada em exportar os seus produtos para África, “um mercado em crescimento demográfico acelerado, com milhões de consumidores”.
Em causa estão também a segurança marítima e o combate à pirataria na orla costeira que vai da Somália até à África do Sul e por onde passa boa parte do comércio indiano, disse.
Constantino Xavier realçou que “em termos de relações históricas [a Índia] é um continente próximo de África”, sobretudo de países como Moçambique, que chegou a ser governado a partir de Goa nos séculos XVI e XVII.
A Índia é o principal destino das exportações moçambicanas (30,4%), acima da África do Sul (24,0%) e da China (7,1%) e reforçou os laços com Moçambique nos últimos meses. Além de visitas de governantes e missões empresariais ao país africano, a Guarda Costeira da Índia está a dar formação a militares da Marinha de Guerra e doou a Moçambique duas lanchas.
Além das vantagens da proximidade histórica e cultural, o modelo de governo democrático aproxima os dois países, apontou igualmente o académico, elogiando o “bom trabalho” das PME indianas nos países lusófonos.
A estes interesses, juntam-se ainda interesses geoestratégicos face à pujante China. “Há competição em termos de influência”, sublinhou o investigador da Brookings Índia, um instituto de pesquisa independente sediado em Nova Deli, lembrando que “a Índia investiu muito no seu relacionamento com África nos últimos dez anos” e anunciou recentemente a abertura de 18 embaixadas em África até 2021, chegando assim às 47 (a China tem 50).
Constantino Xavier destacou que a Índia apostou numa estratégia diferenciadora face à China que está a dar bons resultados: “A Índia é uma democracia com dificuldades burocráticas, muita diversidade étnica e um modelo de governação descentralizado, ao contrário da China. Nunca poderia fazer coisas com a mesma dimensão nem tão rapidamente”.
Por isso, em vez de competir “taco a taco” com o concorrente chinês, estratégia que não estava a resultar, decidiu aproveitar as suas vantagens competitivas, “trabalhando mais a nível da capacitação e formação de recursos humanos”, considerou.