Em entrevista à ONU News, o director do Escritório da Organização Internacional do Trabalho em Nova Iorque, Vinícius Pinheiro, aponta que o relatório não traz boas notícias. O representante refere que não há nada para se comemorar no Dia Internacional da Mulher em relação à igualdade de género no mercado de trabalho.
“O relatório traz um sinal de alerta porque nos últimos 20 anos, nas últimas duas décadas, houve pouco progresso em relação à igualdade de género. Somente 43% das mulheres participam no mercado de trabalho, enquanto este indicador para os homens é em torno de 78%. Existem 25 pontos percentuais de diferença. Mesmo olhando os mais jovens, sabemos que, no total, 20% dos mais jovens não estão a trabalhar ou estudar. Desse total, quase dois terços são mulheres, que estão fora do mercado de trabalho e fora da educação", sintetiza.
Pinheiro destaca que são preocupantes os dados do relatório com o título “Um salto qualitativo para a igualdade de género: para um melhor futuro do trabalho para todos”, pois representam uma perda para a economia e também da utilização da capacidade das mulheres em relação ao mercado laboral.
O director explica que o estudo traça linhas de base para medir o progresso no sector e que a mensagem é de que este não foi promissor. O relatório também é essencial para entender as causas do problema.
“Uma coisa que aparece muito claramente é que a educação não é uma das causas. Pensa-se que o nível de educação das mulheres é inferior à dos homens e por isso elas têm menos oportunidade no mercado de trabalho. Isso não é verdade. Na verdade, em muitos países as mulheres têm mais anos de estudo do que os homens, então, não é a educação que explica. Agora, um factor que é determinante, é justamente o tempo de trabalho que é dedicado à actividade não remunerada no domicílio. É o trabalho doméstico não remunerado, que é trabalho de cuidado das crianças, ou mesmo aos pais. Actualmente, 21.7% das mulheres dedicam-se à economia do cuidado. Enquanto para os homens essa percentagem é de 1.5%. De acordo com o relatório, se essas tendências forem mantidas, vai demorar 200 anos para que haja um nivelamento entre a participação dos homens e mulheres das actividades domésticas de uma forma mais equitativa.”
O relatório também aponta que as mulheres estão sub-representadas em termos de cargos mais altos, uma situação que mudou muito pouco nos últimos 30 anos. Menos de um terço dos gestores são mulheres, apesar de provavelmente elas serem mais instruídas do que os seus colegas do sexo masculino.
De acordo com o estudo, as mães passam por uma "penalização salarial da maternidade", que se acumula em toda a sua vida profissional, enquanto os pais desfrutam de um prémio salarial.
Mudanças
O relatório destaca também que para atingir igualdade de género no mercado de trabalho serão necessárias mudanças em políticas e acções em vários sectores.
“Em primeiro lugar, é importante investir em mecanismos que dêem oportunidades iguais a homens e mulheres. Então, o acesso ao mercado de trabalho tem que ser facilitado para que haja uma participação maior da mulher na força de trabalho. Em segundo lugar, é fundamental investir na eliminação da violência e no assédio no mercado de trabalho. Um dos elementos que explica essa baixa participação, particularmente em alguns países, é o medo que as mulheres têm em participar na força de trabalho em funções ou em tipos de profissões que são dominadas por homens.”
Para Pinheiro, é preciso reconhecer o valor do trabalho das mulheres da mesma forma que o dos homens. Em termos do futuro do mercado laboral, este passará por mudanças, devido à incorporação de novas tecnologias, mudanças climáticas e outros, o que pode aumentar os desequilíbrios em relação à igualdade de género.
Uma das propostas da OIT para evitar essa situação é “investir em meninas que queiram seguir carreiras científicas”.