Falta de coordenação de políticas migratórias criou "fratura" na Europa

PorExpresso das Ilhas, Lusa,16 abr 2019 17:38

O director-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM) alertou hoje para o crescimento do populismo não só na UE, mas também nos Estados Unidos, Canadá, México ou Quénia.

António Vitorino, que intervinha numa conferência em Paris, considerou que "as clivagens nas políticas migratórias dos Estados-membros da União Europeia se tornaram fraturas".

"Quando há clivagens nos Estados-membros, caso não haja uma resolução eficaz, elas tornam-se fraturas. Na crise da zona euro, houve clivagens que felizmente conseguimos conter, mas em termos de asilo demorámos demasiado tempo a tomar certas decisões e as fraturas já existem", disse António Vitorino.

O ex-comissário europeu participou hoje de manhã na capital francesa numa conferência organizada pela delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris e pelo instituto Notre Europe - Jacques Delors sobre o tema "Pensar em conjunto as migrações e o desenvolvimento".

Para Vitorino, familiarizado com a política a nível nacional e a nível europeu, há uma culpabilização dos Estados em relação à Europa que tem de ter limites já que "é normal mandar tudo para as costas de Bruxelas e culpar as instituições por tudo o que se passa", mas a competência de regular sobre os imigrantes económicos pertence inteiramente a cada país.

"Os tratados são claros quando dizem que a imigração económica é uma competência exclusiva dos Estados-membros, portanto, cada Estado tem o direito de adoptar as regras que quiser em relação a estes imigrantes e, a única coisa que pedimos, é que coordenem as suas políticas. É o mínimo", disse o também ex-governante português.

E é este desconhecimento de competências e de coordenação, que segundo António Vitorino estão a alimentar politicamente o populismo anti-imigração não só na Europa, mas em todo o Mundo.

"Há um sentimento crescente, em diferentes países, da rejeição da imigração. Se acreditarmos nas sondagens, e é preciso ter em atenção que nem tudo o que vemos nas notícias corresponde à realidade, nalguns países europeus, a seguir à crise migratória de 2015, há uma rejeição da imigração mais elevada do que antes", destacou.

"No entanto, se virmos também o que passa do outro lado do Atlântico, há um movimento político populista anti-imigração que cresce nos Estados Unidos e no Canadá", indicou, acrescentando que nos países do Sul há também "números muito elevados de rejeição dos imigrantes" citando o México, a África do Sul, a Nigéria ou o Quénia.

A solução para a Europa, segundo Vitorino, é "restabelecer a capacidade de diálogo entre os Estados-membros" já que "nenhum país, nem mesmo as grandes potencias, são capazes de resolver sozinhas os fluxos migratórios".

E, a longo prazo, o codesenvolvimento, adiantou.

"Mesmo os países europeus mais reticentes às políticas europeias de imigração, concordam que é preciso uma estratégia que faça ligação entre a imigração e o desenvolvimento. [...] Para mim, o maior capital para o desenvolvimento é a educação e aí têm de ser os países de origem a apostar nos seus sistemas de educação e na formação profissional", disse o antigo comissário europeu.

António Vitorino tentou ainda desconstruir alguns mitos, partilhando com a plateia que a maior parte dos fluxos migratórios acontece entre países do Sul, nomeadamente entre países africanos, e que a melhor forma de fazer chegar mão de obra qualificada à Europa e contribuir para a integração dos migrantes é começar a trabalhar nos países de origem com formação na língua dos países para onde querem ir e reconhecimento de capacidades profissionais.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,16 abr 2019 17:38

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 jan 2020 23:21

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