"Os partidos pró-permanência [na UE] obtiveram uma parcela maior de votos do que os partidos Brexit, de modo que o resultado dificilmente representa um mandato para "saída sem acordo" como Farage pretende", afirmou hoje o professor e Director do Centro de Estudos sobre o Brexit da universidade de Birmingham à agência Lusa.
Somando os votos dos partidos pró-europeus, os Liberais Democratas (20,3%), Verdes (12,09%), Change UK (3,4%), nacionalistas escoceses SNP (3,6%) e galeses Plaid Cymru (1%), o conjunto chega a 40,4%.
Apesar de terem concorrido separados, todos estes partidos defendem um novo referendo ao Brexit para desbloquear o actual impasse no parlamento britânico, antecipando fazer campanha pela opção de permanecer na UE.
Pelo contrário, embora o partido do Brexit (PB) de Nigel Farage seja vencedor destacado a nível individual, com 31,6% dos votos a nível nacional, só soma 34,9% se juntar a quota do UKIP (3,3%), a outra formação que também fez campanha por uma saída da UE sem acordo.
Alex de Ruyter antecipa que o desempenho do PB "vai colocar uma enorme pressão sobre os conservadores para que adoptem uma posição para um Brexit duro".
Porém, sem uma maioria no parlamento para um Brexit sem acordo significa que qualquer novo primeiro-ministro enfrente as mesmas limitações que Theresa May, nomeadamente a falta de disponibilidade da UE para alterar o acordo de saída.
May anunciou na semana passada que vai demitir-se a 7 de Junho, desencadeando uma eleição interna para a liderança do partido Conservador que deverá determinar um sucessor, que deverá entrar em funções antes do final de Julho.
O recesso parlamentar do verão e a temporada dos congressos anuais partidários em Setembro implica que "provavelmente não haja tempo suficiente para avançar nas negociações" com a UE ou na Câmara dos Comuns, lembra Alex de Ruyter.
Este calendário curto abre "a possibilidade de o Reino Unido pedir uma nova prorrogação adicional para além de Outubro", acrescentou, apesar de a saída sem acordo continua a ser opção por defeito.
Apesar de o Reino Unido ter votado num referendo em 2016 para sair da UE, o chumbo por três vezes no parlamento britânico ao acordo de saída negociado com Bruxelas obrigou o governo adiar a data do Brexit, cujo prazo foi diferido para 31 de Outubro.