Quase 24 horas depois de Donald Tusk ter anunciado a interrupção do Conselho Europeu perante a impossibilidade de chegar a um compromisso, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) retomam os trabalhos para definir as nomeações para os cargos de topo, pressionados pelo ‘timing’ da eleição do presidente do Parlamento Europeu, agendada para quarta-feira de manhã em Estrasburgo, França.
Os líderes dos 28 chegaram à cimeira europeia às 18:00 locais de domingo (menos uma hora de Lisboa) e estiveram reunidos, a 28 mas também em encontros bilaterais e várias rondas de consultas, durante 18 horas, antes que o político polaco reconhecesse o “fracasso” das negociações e agendasse o reinício da reunião extraordinária para as 11:00 de hoje.
Depois de já ter falhado um acordo na cimeira de 20 de junho, o Conselho Europeu voltou a não entender-se, em torno das soluções propostas, com vários líderes do Partido Popular Europeu (PPE) a oporem-se à solução negociada, em Osaka, entre a chanceler alemã Angela Merkel (PPE), o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez (Socialistas) e o Presidente francês, Emmanuel Macron (Liberais), que previa a designação do socialista holandês Frans Timmermans para a presidência da Comissão Europeia.
“Acho que tudo correu mal e obviamente o resultado é muito frustrante”, assumiu o primeiro-ministro, António Costa, após a suspensão dos trabalhos, lamentando “a incapacidade do Conselho de tomar decisões e de construir soluções que tenham o apoio maioritário quer no Conselho, quer no Parlamento Europeu” e apontando o dedo ao ‘quarteto’ formado por Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia (o chamado Grupo de Visegrado), bem como ao ministro do Interior italiano e líder da Liga do Norte (extrema-direita), Matteo Salvini.
Segundo António Costa, “houve infelizmente algumas forças que se deixaram capturar por aqueles que querem dividir a Europa, a partir do grupo de Visegrado ou de posições como a do senhor Salvini, e que, limitados por essas pressões, acabaram por ser incapazes de sustentar os acordos que foram sucessivamente sendo estabelecidos”.
Fontes europeias indicaram que as últimas propostas sobre a mesa na segunda-feira, que não reuniram apoios suficientes,
“Ninguém pode estar satisfeito com o que se passou durante tantas horas. Penso que este desfecho levanta problemas extremamente profundos”, advertiu o Presidente francês, estimando que a credibilidade do Conselho e da própria UE foi “profundamente abalada” por uma reunião “demasiado longa, que não conduziu a lado nenhum”.
Emmanuel Macron não poupou críticas ao Conselho Europeu, considerando que “o fracasso” negocial, motivado pelas divisões políticas no seio do PPE e pelas divisões geográficas Este-Oeste, deu “uma imagem da Europa que não é séria”.
O retomar dos trabalhos do Conselho acontece assim em cima do prazo limite para tentar encontrar um compromisso, uma vez que também hoje tem início, em Estrasburgo, a sessão inaugural da nova legislatura do Parlamento Europeu, na qual será eleito o presidente da assembleia, um dos lugares de topo negociados ‘em pacote’, de modo a serem respeitados os necessários equilíbrios (partidários, geográficos, demográficos e de género) na distribuição dos postos.
Com o aproximar da sessão constitutiva do PE resta pouco tempo aos líderes da UE para chegar a um entendimento que evite uma crise institucional na UE, e que, em último caso, forçaria a atual ‘Comissão Juncker’ a estender o seu mandato, que termina em 31 de outubro próximo.
O Parlamento Europeu já tinha decidido adiar a eleição do seu novo presidente, que estava agendada para hoje, para quarta-feira, esperando que até lá o Conselho chegue a um compromisso.