"Ao povo brasileiro: não troco a minha dignidade pela minha liberdade. (...) Quero que saibam que não aceito barganhar os meus direitos e a minha liberdade. Já demonstrei que são falsas as acusações que me fizeram. São eles e não eu que estão presos às mentiras que contaram ao Brasil e ao mundo", afirmou Lula, numa carta redigida manualmente e publicada nas redes sociais do ex-chefe de Estado.
O Ministério Público Federal (MPF) pediu na sexta-feira à Justiça para que Lula da Silva passe para o regime semiaberto, para cumprir o resto da sua pena, pelo que poderá deixar a cadeia durante o dia para poder trabalhar.
Lula, de 73 anos, está preso desde 07 de Abril de 2018 numa cela especial da Polícia Federal no Paraná. Na segunda-feira passada, completou um sexto da sua sentença de oito anos e 10 meses por corrupção, o que lhe dá direito de mudar para o regime semiaberto ou mesmo domiciliário.
Os procuradores da Lava Jato, maior operação contra a corrupção no país, incluindo o chefe da investigação, Deltan Dallagnol, assinaram um ofício segundo o qual Lula cumpre os critérios para um "regime mais brando".
Uma vez preenchidos “os requisitos objectivos e subjectivos”, Lula pode cumprir a "pena no regime mais benéfico", lê-se no texto.
Contudo, para o histórico líder do Partidos dos Trabalhadores (PT) sair da prisão sem ter a alegada inocência restabelecida não faz parte dos seus planos.
"Diante das arbitrariedades cometidas pelos procuradores e por Sergio Moro [antigo juiz da Lava Jato e actual ministro da Justiça], cabe agora ao Supremo Tribunal corrigir o que está errado, para que haja Justiça independente e imparcial, como é devido a todo cidadão", declarou Lula.
"Tenho plena consciência das decisões que tomei nesse processo e não descansarei enquanto a verdade e a Justiça não voltarem a prevalecer", acrescentou o antigo chefe de Estado.
De acordo com o advogado de Lula da Silva, Cristiano Zanin, o ex-Presidente brasileiro não é obrigado a aceitar a progressão para o regime semiaberto, que foi pedida pelo MPF.
Segundo Zanin, é direito do ex-Presidente não aceitar a progressão de regime: "O Estado não pode impor ao jurisdicionado nenhum tipo de condição”, afirmou à imprensa local.
"O ex-Presidente Lula não reconhece a legitimidade do processo e da condenação que lhe foi imposta pelo ex-juiz Moro, e que depois foi analisada, em parte, pelas instâncias superiores, a partir de elementos recolhidos a partir da condução de Moro”, afirmou o advogado, citado pelo portal de notícias G1.
Dessa forma, o advogado defende que a decisão do ex-Presidente não representa um incumprimento de determinação judicial, porque Lula não reconhece a legitimidade do processo que o condenou.
"Tudo o que os procuradores da Lava Jato realmente deveriam fazer é pedir desculpas ao povo brasileiro, aos milhões de desempregados e à minha família, pelo mal que fizeram à democracia, à justiça e ao país", concluiu Lula da Silva na carta.
Lançada em 2014, a Lava Jato, maior operação contra a corrupção no Brasil, trouxe a público um gigantesco esquema de corrupção de empresas públicas, implicando dezenas de altos responsáveis políticos e económicos, e levou à prisão de muitos deles, como Lula da Silva.