Em nota, o secretário-geral da ONU, António Guterres, diz que “a saúde mental foi esquecida durante muito tempo.” Para ele, é urgente mais acção e não se pode “permitir que o estigma continue a impedir as pessoas de receberem ajuda.”
Em entrevista à ONU News, o professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, José Bertolote, disse que existem duas tendências opostas nos últimos anos. O psiquiatra explicou que “nos países onde há uma política de prevenção do suicídio bem elaborada e bem implementada”, existe uma tendência de queda.
Por outro lado, em países “sem nenhum programa eficaz de prevenção”, as taxas sobem.
“Existem, inclusive, formas novas de suicídio, que são divulgadas através das novas tecnologias de comunicação. Essa quantidade de suicídio não chega ainda a representar um aumento significativo diante do grande número que temos. É importante que se saiba que temos mais de 850 mil suicídios por ano, o que é mais do que todas as mortes por causas violentas, inclusive homicídios, guerras e acidentes.”
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de países com estratégias nacionais de prevenção aumentou nos últimos cinco anos. Apesar do progresso, apenas 38 nações têm este tipo de estratégias.
Neste Dia Mundial da Saúde Mental, a OMS está a distribuir informação sobre as acções que funcionários de saúde, professores, jornalistas e outros podem tomar. Segundo a agência da ONU, as medidas com mais sucesso são a restrição de acesso aos meios, programas para jovens e acompanhamento de pessoas em risco.
José Bertolote, que também foi médico da OMS, explicou que as estratégias escolhidas devem depender da região.
“Nos países de Ásia, a maior parte dos suicídios são consumados com pesticidas, que estão proibidos na maioria dos outros países. E temos uma prova na Coreia do Sul. Há 12 anos, o país proibiu este pesticida e as taxas caíram radicalmente. Se os governos aceitassem proibir esse pesticida, teríamos na Ásia, onde se localiza o maior número de suicídios, uma grande redução mundial de suicídios.”
O especialista diz que nos países do ocidente, onde esses pesticidas já estão proibidos, a situação é diferente.
“Um factor muito associado com o suicídio são as doenças mentais, que em muitos países não recebem a atenção adequada. Portanto, a melhoria dos cuidados de saúde mental poderia resultar também numa grande redução das taxas de suicídio.”
Cerca de 79% dos suicídios ocorreram em países de baixo e médio rendimento, mas os países de alta renda apresentaram uma taxa mais alta, uma média de 11,5 casos por 100 mil habitantes.
O professor José Bertolote destacou a importância de aumentar a informação sobre o tema.
“Aqui, no mundo ocidental, o mais importante é que as pessoas saibam que o suicídio está sempre associado a uma forma de sofrimento psíquico e emocional em que é preciso de ajuda. Seja ajuda informal da comunidade, que vem de amigos, conhecidos, líderes da comunidade, líderes religiosos, seja da ajuda de profissionais de saúde. O importante é que as pessoas possam dar um passo para procurar ajuda. Outro elemento muito importante é que a comunidade perceba que a comunidade é um problema sério de saúde e se predisponha a ajudar quem dá sinais de estar em sofrimento.”
Segundo os últimos dados da OMS, a taxa global de suicídio em 2016 foi de 10,5 mortes por cada 100 mil pessoas. As taxas variaram de forma ampla, de cinco mortes em 100 mil em alguns países até mais de 30 por 100 mil.
Esta foi a segunda principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos. O fenómeno foi a segunda principal causa de morte entre meninas, após problemas relacionados com a maternidade. Nos rapazes, ficou apenas atrás dos acidentes na estrada.
Quase três vezes mais homens do que mulheres morrem por suicídio em países de alta renda. Nos países de baixa e média renda, as taxas entre homens e mulheres são mais parecidas.