Guiné-Bissau: Instituições do Estado estão a ser invadidas por militares

PorExpresso das Ilhas, Lusa,29 fev 2020 8:55

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, afirmou esta sexta-feira, nas redes sociais, que as instituições do Estado estão a ser invadidas por militares, num claro "acto de consumação do golpe de Estado".

“As instituições de Estado estão a ser invadidas por militares, num claro acto de consumação do golpe de Estado iniciado ontem (quinta-feira) com a investidura, de um candidato às eleições presidenciais", refere Aristides Gomes na sua página oficial no Facebook.

Umaro Sissoco Embaló, candidato às presidenciais dado como vencedor pela Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau e que na quinta-feira tomou simbolicamente posse como Presidente do país, demitiu hoje [sexta-feira] o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes.

Num decreto presidencial, divulgado à imprensa, é referido que "é exonerado o primeiro-ministro, Sr. Aristides Gomes".

O decreto, assinado por Umaro Sissoco Embaló, refere que a demissão de Aristides Gomes se justifica, tendo em conta a sua "actuação grave e inapropriada" por convocar o corpo diplomático presente no país, induzindo-o a não comparecer na tomada de posse e a "apelar à guerra e sublevação em caso da investidura do Chefe de Estado, que considera um golpe de Estado".

O decreto refere também que a demissão do primeiro-ministro teve em conta a "crise artificial pós-eleitoral criada pelo partido PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) e o seu candidato às eleições presidenciais, que põe em causa o normal funcionamento das instituições da República, consubstanciada nas declarações públicas de desacato e não reconhecimento da legitimidade e autoridade" do Chefe de Estado "eleito democraticamente, por sufrágio livre, universal, secreto, considerado pelo conjunto de observadores internacionais livre, justo e transparente e confirmado quatro vezes pela Comissão Nacional de Eleições".

Umaro Sissoco Embaló tomou simbolicamente posse numa cerimónia marcada pela ausência do Governo, partidos da maioria parlamentar e principais parceiros internacionais do país.

A cerimónia terminou com a assinatura do termo de passagem de poderes entre o Presidente cessante, José Mário Vaz, e Umaro Sissoco Embaló.

O Governo da Guiné-Bissau considerou o acto como um "golpe de Estado" e "uma atitude de guerra" e acusou o Presidente cessante de se auto-destituir e as Forças Armadas de "cumplicidade".


Presidente da Guiné-Bissau nomeia Nuno Nabian como primeiro-ministro

O autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embalo, nomeou esta sexta-feira Nuno Nabian para o cargo de primeiro-ministro, segundo um decreto presidencial divulgado à imprensa.

Nuno Nabian é o líder da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que fazia parte da coligação do Governo, mas que apoiou Sissoco Embaló na segunda volta das presidenciais.

Nabian é também primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular e foi nessa qualidade que indigitou simbolicamente Sissoco Embaló como Presidente na quinta-feira, numa cerimónia realizada num hotel da capital guineense, qualificada como "golpe de Estado" pelo Governo guineense.

Embaló demitiu esta sexta-feira Aristides Gomes do cargo de primeiro-ministro, justificando com a sua "actuação grave e inapropriada" por convocar o corpo diplomático presente no país, induzindo-o a não comparecer na tomada de posse e a "apelar à guerra e sublevação em caso da investidura do chefe de Estado, que considera um golpe de Estado".


Posse simbólica de Embaló como presidente sem parceiros internacionais

A sala do hotel onde Umaro Sissoco Embaló tomou quinta-feira simbolicamente posse como Presidente da Guiné-Bissau foi pequena para as muitas pessoas que quiseram assistir ao acto, marcado pela ausência de representantes dos principais parceiros internacionais do país.

O espaço acabou por se revelar pequeno e muito quente, devido a uma avaria do ar condicionado, para todos os que quiseram assistir, estando as janelas da sala, que acabaram por ser abertas, repletas de apoiantes com telemóveis em punho a transmitir a cerimónia.

Apesar da ausência de representantes dos principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau, estiveram presentes os embaixadores da Gâmbia e do Senegal, bem como vários líderes políticos guineenses e antigos dirigentes, incluindo Carlos Gomes Júnior, e o ex-presidente do parlamento Raimundo Pereira.

O Supremo Tribunal de Justiça e o Governo também não se fizeram representar, bem como os partidos da coligação no Governo, incluindo o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

O primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, considerou a tomada de posse simbólica "uma atitude de guerra" e que o Governo não obedecerá a uma autoridade ilegítima.

O presidente do parlamento guineense, Cipriano Cassamá, que conforme a lei do país é quem indigita o Presidente eleito, demarcou-se da cerimónia, alegando aguardar pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça ao recurso interposto.

"Juro por minha honra defender a Constituição e as leis, a independência e a unidade nacionais, dedicar a minha inteligência e as minhas energias ao serviço do povo da Guiné-Bissau, cumprindo com total fidelidade os deveres da alta função para que fui eleito", afirmou Umaro Sissoco Embaló, com o braço direito levantado, assinando depois o termo de posse.

De seguida, Sissoco Embaló foi indigitado pelo primeiro vice-presidente do parlamento, Nuno Nabian, que lhe colocou uma faixa perante os aplausos de uma assistência bastante animada.

Um curto discurso de Umaro Sissoco Embaló pôs fim à cerimónia, que durou cerca de duas horas.

A seguir à cerimónia, Sissoco Embaló, já com a faixa presidencial, seguiu, acompanhado pelo presidente cessante, José Mário Vaz, para o palácio da presidência, no centro de Bissau.

Já na presidência, foi feita uma nova cerimónia de transferência de poderes, após a qual o presidente cessante abandonou o Palácio Presidencial, juntamente com a sua mulher, onde milhares de apoiantes de Embaló festejaram.

"Estou contente, porque assim o país vai avançar. Vamos começar as aulas, tudo vai mudar", afirmou Amina Tá, 20 anos, uma das apoiantes que se encontrava na Praça dos Heróis Nacionais, situada em frente ao palácio, no centro de Bissau.

A mesma opinião foi transmitida à Lusa por Fatumata Cassamá, que afirmou que com o "Sissoco na presidência tudo vai mudar".

"É o presidente de consenso, de unidade nacional e vai unir os guineenses e levar o país rumo ao desenvolvimento", disse Seco Indjai.

Seco Indjai afirmou também que a Guiné-Bissau não precisa de apoio estrangeiro, porque tem tudo o que precisa para se desenvolver, mas sublinhou que, passados mais de 40 anos, "tudo o que é feito no país é por estrangeiros e organizações não-governamentais".

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,29 fev 2020 8:55

Editado porAntónio Monteiro  em  24 nov 2020 23:21

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