Direita brasileira do novo Congresso é hostil a Lula mas controlada pela ‘vergonha’ dos ataques

PorExpresso das Ilhas, Lusa,29 jan 2023 10:17

Partido Liberal de Jair Bolsonaro elegeu 99 dos 513 deputados federais
Partido Liberal de Jair Bolsonaro elegeu 99 dos 513 deputados federais

O congresso brasileiro inicia os trabalhos a partir de quarta-feira com muitas caras novas e com uma direita ‘bolsonarista’ fortalecida, mas os ataques aos três poderes deixam-nos com pouca manobra contra Lula da Silva.

O Partido Liberal de Jair Bolsonaro saiu reforçado nas eleições gerais de Outubro, conseguiu eleger 99 dos 513 deputados federais eleitos, contando ainda com 13 senadores (de um total de 81). O Partido dos Trabalhadores é a segunda força com 68 deputados.

Ainda assim, o cientista político, professor na UFPR e coordenador do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários (LAPeS), Bruno Bolognesi, disse à Lusa acreditar numa entrada de Lula da Silva relativamente fácil “tanto no Senado como na Câmara”.

“A oposição vai estar muito batendo a cabeça, a oposição mais radical, bolsonarista, para recuperar a própria reputação, tirar gente da cadeia, evitar o ministro seja preso, ver o que fazer com Bolsonaro nos Estados Unidos”, frisou.

“Ninguém mais tem boa vontade, judiciário não tem boa vontade, os partidos mais razoáveis de direita e centro não tem mais boa vontade com eles, por isso acho que Lula tem uma pequena vantagem”, enfatizou, apostando que este estado de graça durará até depois do 1.º semestre.

“Mas como toda a vontade política ela é provisória”, disse Bruno Bolognesi.

Lula da Silva conseguiu agarrar para si os partidos do ‘centrão’ - a direita clássica antes da era Bolsonaro - apoiando as recandidaturas tanto do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Partido Social Democrático) como da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), ambos pertencentes ao 'centrão'.

Tudo indica que as suas vitórias estão asseguradas, de acordo com analistas contactados pela Lusa.

A acrescentar, de forma a criar uma base mais ampla no Congresso, Lula da Silva distribuiu vários ministérios a partidos como MDB, PSD e União Brasil, que juntos somam uma bancada de 143 deputados federais.

“A articulação de convencimento e de atracção do Presidente Lula tenderá a isolar os extremistas eleitos agora que vão assumir pela primeira vez o mandato no Senado, em especial os mais radicais ligados ao Governo Bolsonaro”, afirmou à Lusa o professor permanente do programa de pós-graduação em ciência política e do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Urizzi Cervi.

Dos 37 ministérios, 26 foram dados a partidos que não o PT, tanto à esquerda como à direita.

Apesar deste aparente controlo, existe um “oposição forte, porque ela é numericamente forte, ela saiu fortalecida, tanto na Câmara como no Senado”, disse Emerson Urizzi Cervi.

Por outro lado isso não significa que possa existir uma prioridade em fazer oposição directamente ao Governo de Lula da Silva, até porque “embora ela tenha saído tão forte como saiu em 2018, agora esse sector da extrema-direita se entrar no debate sobre Governo terá de responder sobre as críticas” do Governo de Bolsonaro, considerou Emerson Urizzi Cervi.

O analista antevê uma estratégia similar utilizada pela extrema-direita em todo o mundo, recorrendo “aos temas de costumes, aos temas morais e tentar dar centralidade a esses temas dentro do parlamento”, numa tentativa de fugir das críticas do Governo anterior.

Com esta estratégia, considerou, os deputados e senadores bolsonaristas conseguem manter a sua base activa, atenta e mobilizada.

Emerson Urizzi Cervi aposta no regresso ao tema da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos que já foi aprovada em 2015 na Câmara dos Deputados, mas que tem estado congelada no Senado desde então.

“Esse é um tema que pode mobilizar a extrema direita”, sendo que os outros sectores políticos têm pouca força para questionar, disse, apostando: Se entrar em votação vai ser aprovado.

Outro dos temas que Emerson Urizzi Cervi vislumbra que será utilizado será a questão das quotas raciais nas universidades. No ano passado o Congresso deveria ter feito uma revisão 10 anos depois de ser implementada 2012, sendo que essa temática ficou por resolver para este ano

“Agora é o possível que eles coloquem esse tema em pauta, fogem com os resultados negativos na educação do Governo anterior”, disse.

“Tentando o máximo fugir da realidade”, frisou, acrescentando que o 8 de Janeiro é indefensável dentro das instituições políticas brasileiras.

“Colocou o bolsonarismo em defesa dentro das instituições, o que não quer dizer que não esteja a ser usada na base social. O que mobilizou o 8 de Janeiro  continua potencialmente vivo dentro de sectores da sociedade brasileira”, disse, acrescentando que a qualquer momento pode ser activado.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,29 jan 2023 10:17

Editado porJorge Montezinho  em  19 out 2023 23:28

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