Alice Wairimu Nderitu realizou uma visita de onze dias ao Brasil, onde conheceu em primeira mão a situação das comunidades indígenas e ‘quilombolas’, como são conhecidos os descendentes de escravos africanos que fugiram dos cativeiros que lhes eram impostos e criaram comunidade em zonas isoladas do país.
Segundo a especialista, embora as violações dos direitos humanos destas minorias se tenham intensificado nos últimos anos, estes são problemas "estruturais" que ocorrem no país "há muitos anos".
“Não estou a dizer que não deva ser investigado [como ocorreu nos últimos anos], mas devo dizer que há problemas estruturais muito antes disso”, salientou durante uma conferência de imprensa ‘online’.
“Sei que no último Governo algumas políticas tornaram ainda mais precária a situação das populações mais vulneráveis, mas não vamos perder a perspectiva estrutural”, acrescentou.
Durante sua visita, Alice Wairimu Nderitu, que também é subsecretária-geral da organização, viajou a Roraima, Estado fronteiriço com a Venezuela, para se reunir com lideranças da comunidade indígena Yanomami, e pôde constatar a grave crise humanitária que esta população vive.
“Vi a execução da população Yanomami, que sofreu várias violações ao longo das décadas”, frisou.
"Os Yanomami devem ser protegidos imediatamente", alertou ainda.
A conselheira especial da ONU para a prevenção do genocídio também acompanhou a situação da comunidade Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, onde perderam os seus territórios e são vítimas contínuas de violência e execuções devido à expansão de terras de fazendeiros.
"Fiquei chocado com a pobreza extrema dessa população. É um dos casos mais emblemáticos em relação a danos", sublinhou em declaração aos jornalistas.
Além das comunidades indígenas, a conselheira especial reuniu-se com lideranças dos afrodescendentes no Mato Grosso do Sul e no Rio de Janeiro.
No Rio, Alice Wairimu Nderitu visitou a favela do Jacarezinho, onde uma operação policial que decorreu há dois anos resultou em 28 mortos, a maioria negros, muitos deles sem registo criminal.
A especialista da ONU destacou também que existe "racismo estrutural" no país, e que são necessárias políticas públicas e capacitação para enfrentá-lo.
“Devemos fazer o possível para proteger as comunidades indígenas, afrodescendentes e minoritárias no Brasil”, destacou.