"O facto de ser – novamente – uma disputa entre os EUA e a Europa é uma verdadeira decepção, visto que as migrações afectam muito mais outras partes do mundo", disse à Lusa Marta Foresti, investigadora principal e ex-directora executiva do Overseas Development Institute (ODI), um 'think tank' independente com sede em Londres e focado no desenvolvimento internacional e questões humanitárias.
"Para mim, o principal problema com esta 'disputa' é que não é uma competição aberta com candidatos de um conjunto mais amplo de Estados-membros", frisou Foresti, que é também fundadora e CEO da LAGO, uma plataforma que liga "criativos, inovadores e formuladores de políticas" que trabalham localmente para enfrentar desafios globais.
Os únicos candidatos ao cargo são o actual director-geral da OIM, António Vitorino, nomeado por Portugal, e a vice-directora-geral para a Gestão e Reforma da OIM, Amy Pope, nomeada pelos Estados Unidos da América.
Em declarações à Lusa, Marta Foresti admitiu que este é "um limite do sistema internacional como um todo, não apenas da OIM e não uma crítica a qualquer um dos candidatos".
Porém, Foresti acredita que é necessária uma reforma para que a OIM seja credível e capaz de desempenhar um papel de liderança na gestão global de questões migratórias.
A candidatura de Pope marca a primeira vez nos 70 anos de história da OIM que um vice-director-geral em exercício contesta o cargo de um director-geral, um movimento incomum que tem preocupado especialistas devido ao potencial impacto que esta rivalidade possa ter na dinâmica diária da OIM.
Para ser eleita, a norte-americana terá que conquistar o bloco da União Europeia que apoiou Vitorino nas últimas eleições e que continua a apoiar o português, além de angariar votos de outros continentes cujas votações poderão oscilar para qualquer um dos lados.
Num artigo de opinião publicado no início do mês no jornal 'online' europeu EUobserver, Marta Foresti observou que as reformas e mudanças levam tempo, mas, em muitos aspectos, "a agenda da reforma migratória está a retroceder", apesar do sentido de urgência criado pela emergência climática e as consequências que isso representa para os migrantes.
"Enquanto isso, na Europa e além, continuamos a ver forças políticas nacionalistas a tornar mais difícil e perigosa a mobilidade das pessoas, seja por escolha ou necessidade. Com a elevada instabilidade económica e política em muitas partes do mundo, a vida dos migrantes está a ficar mais difícil a cada dia", escreveu a investigadora, que também já trabalhou como conselheira de Políticas no Ministério das Finanças italiano.
Apesar de em 2018, quando Vitorino foi eleito director-geral da OMI, Marta Foresti ter apelado à nova liderança para que promovesse mudanças e reformas, intermediasse acordos, fomentasse debates, promovesse inovações e identificasse oportunidades concretas e pontos de entrada para reformas, agora avalia que "não está claro se a OIM fez progressos suficientes”.
"Também incitei a OIM a trabalhar fora das suas parcerias típicas e previsíveis. Embora tenha havido algum novo envolvimento com o sector privado, que tem interesse nas migrações, precisamos de ver os empregadores falarem muito mais alto. Indústrias como tecnologia ou engenharia estão a prosperar devido às contribuições das migrações", indicou.