Em Março, o Presidente russo, Vladimir Putin, indicou que tinha já acertado com o homólogo bielorrusso, Alexander Lukashenko, a intenção de Moscovo instalar armas nucleares tácticas de curto alcance e de pequeno rendimento na Bielorrússia.
A assinatura do acordo ocorre numa altura em que a Rússia se prepara para enfrentar uma aguardada contra-ofensiva da Ucrânia.
Tanto os responsáveis russos como os bielorrussos consideram que a medida é motivada pela hostilidade do Ocidente.
"A instalação de armas nucleares não estratégicas é uma resposta eficaz à política agressiva de países hostis" à Rússia e à Bielorrússia, disse o ministro da Defesa bielorrusso, Viktor Khrenin, em Minsk, durante uma reunião com o homólogo russo, Serguei Shoigu.
"No contexto de uma escalada extremamente acentuada das ameaças nas fronteiras ocidentais da Rússia e da Bielorrússia, foi tomada a decisão de adoptar contramedidas na esfera militar-nuclear", acrescentou Shoigu.
O Ministério da Defesa bielorrusso afirmou que o acordo se refere à "instalação especial de armazenamento no território" da Bielorrússia.
Não foi anunciado qualquer pormenor sobre a data em que as armas serão instaladas na Bielorrússia, mas Putin já indicou que a construção de instalações de armazenamento para armas nucleares tácticas na Bielorrússia estaria concluída até 01 de Julho.
A decisão foi já criticada pela líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya.
"Temos de fazer tudo para impedir o plano de Putin de instalar armas nucleares na Bielorrússia, uma vez que isso garantirá o controlo da Rússia sobre a Bielorrússia nos próximos anos", disse Tikhanovskaya à agência noticiosa Associated Press (AP).
"Isso colocará ainda mais em risco a segurança da Ucrânia e de toda a Europa", acrescentou.
Aliaksandr Alesin, analista militar bielorrusso independente, afirmou que cerca de dois terços do arsenal russo de mísseis nucleares de médio alcance foram mantidos na Bielorrússia durante a Guerra Fria, acrescentando que existem dezenas de instalações de armazenamento da era soviética que ainda podem ser usadas para armazenar o armamento em causa.
As armas nucleares soviéticas que estavam estacionadas na Bielorrússia, Ucrânia e Cazaquistão foram transferidas para a Rússia num acordo mediado pelos Estados Unidos após a dissolução da União Soviética em 1991.
No entanto, os locais de armazenamento continuam intactos.
"Os documentos assinados em Minsk sobre a devolução das armas nucleares à Bielorrússia foram assinados de forma desafiadora precisamente no momento em que a Ucrânia declarou uma contra-ofensiva e os países ocidentais estão a entregar armas a Kiev", disse Alesin à AP.
"Esta varanda nuclear bielorrussa deve estragar o humor aos políticos no Ocidente, uma vez que os mísseis nucleares são capazes de cobrir a Ucrânia, toda a Polónia, os Estados Bálticos e partes da Alemanha", sublinhou Alesin.
O chefe da diplomacia bielorrussa também anunciou planos para "aumentar o potencial de combate do agrupamento regional de tropas russas e bielorrussas", incluindo a transferência para Minsk do sistema de mísseis Iskander-M, capaz de transportar uma carga nuclear, e do sistema de mísseis antiaéreos S-400.
A Rússia e a Bielorrússia têm um acordo de aliança ao abrigo do qual o Kremlin subsidia a economia bielorrussa, através de empréstimos e descontos no petróleo e no gás russos.
A Rússia utilizou o território bielorrusso como ponto de partida para a invasão da vizinha Ucrânia e mantém um contingente de tropas e armas no país.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de Fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).