O PAM tinha já suspendido há três semanas o envio de ajuda alimentar no norte de Gaza, assolado por mais de quatro meses de guerra, após um ataque israelita contra um camião de uma outra agência da ONU.
A distribuição de ajuda foi retomada no domingo, mas os seus camiões foram "pilhados" ou atingidos por disparos num contexto de "caos e violência", indicou a agência em comunicado.
O objectivo consistia em garantir diariamente a entrada nesta região do pequeno território palestiniano de dez camiões de ajuda alimentar e durante sete dias consecutivos, com o objetivo de "ajudar a conter a vaga de fome e de desespero que começa a comprometer a confiança da população sobre a perceção de que haveria suficiente alimentação para todos".
No domingo, uma coluna rodoviária que se dirigia para a cidade de Gaza "foi cercada por uma multidão de gente esfomeada". Os funcionários do PAM conseguiram deter os populares que tentavam subir para os camiões antes da ocorrência de "disparos" em Gaza.
Na segunda-feira, diversos camiões "foram pilhados" entre as cidades de Khan Younis e Deir el-Balah, e um motorista foi molestado.
"A decisão de suspender as entregas no norte da Faixa de Gaza não foi decidida de forma ligeira, porque sabemos que isso significa que a situação no terreno vai deteriorar-se ainda mais e que um número ainda maior de pessoas ficará ameaçada de morrer à fome", sublinhou a agência.
Ainda na segunda-feira, o PAM advertiu para uma alarmante escassez de alimentos, uma galopante malnutrição e uma rápida propagação de doenças que poderão implicar uma "explosão" do número de mortes de crianças na Faixa de Gaza.
Pelo menos 90% das crianças com menos de 05 anos na Faixa de Gaza estão afetadas por diversas doenças infecciosas, segundo um relatório da UNICEF, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do PAM.
"A fome e a doença são uma combinação mortal", declarou em comunicado Mike Ryan, responsável pelas situações de emergência na OMS.
Segundo a ONU, 2,2 milhões de pessoas estão ameaçadas de fome na Faixa de Gaza.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas, que desde 2007 governa na Faixa de Gaza, foi desencadeado pelo ataque do movimento islamita em território israelita em 07 de outubro.
Nesse dia, 1.139 pessoas foram mortas, na sua maioria civis mas também perto de 400 militares, segundo os últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que 134 permanecem na Faixa de Gaza.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, bombardeia desde então a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 29.000 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes -- e feridas cerca de 70.000, também maioritariamente civis. Cerca de 8.000 corpos permanecem debaixo dos escombros, segundo as autoridades locais.
As agências da ONU indicam ainda que 156 funcionários foram mortos em Gaza desde 07 de Outubro.
A Comissão de Proteção dos Jornalistas, associação com sede em Nova Iorque, revelou ainda que 70 dos 99 jornalistas e trabalhadores da comunicação social mortos em 2023 foram vítimas de "ataques israelitas a Gaza".
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.
Desde 07 de Outubro, pelo menos 392 palestinianos também já foram mortos pelo Exército israelita e por ataques de colonos na Cisjordânia e Jerusalém Leste, territórios ocupados pelo Estado judaico, para além de se terem registado 6.650 detenções e mais de 3.000 feridos.