“Precisamos de um cessar-fogo, porque a situação está a tornar-se absolutamente catastrófica e o que está a acontecer é injustificável, é um massacre de cidadãos, de mulheres e de crianças, de bebés, sobretudo”, disse à Lusa Yasmina, de 23 anos com nacionalidade libanesa, que foi à manifestação para “defender os direitos da Palestina e do Líbano”.
Com o mote “Acabar com o genocídio em Gaza”, milhares de pessoas foram-se juntando a partir das 14:00 horas locais (13:00 de Lisboa) na Place de la République entoando frases como: “Palestina livre”, “Do rio ao mar, a Palestina deve ser livre”, “Genocídio em Gaza e no Líbano” e “Israel assassino, Macron cúmplice”.
Yasmina defendeu ainda que é necessário que os países ocidentais, incluindo a França, parem de fornecer armas a Israel, o que acontece “há meses”, apesar dos esforços dos manifestantes e ativistas para que acabe.
“Continuam a fornecer armas, porque é bom dizer que propomos um cessar-fogo, mas não devemos propor, devemos impor um cessar-fogo”, acrescentou Yasmina.
O objetivo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, é “colonizar toda a Palestina e fazer o mesmo com o Líbano”, mas a libanesa acredita que o Líbano é “um país que sempre conseguiu se levantar de todas as catástrofes que sofreu”.
A mobilização, organizada pela Associação França Palestina Solidariedade (AFPS) e os seus parceiros do Coletivo Nacional para uma Paz Justa e Duradoura Entre Palestinianos e Israelitas, começou a ser pensada em solidariedade para com o povo palestiniano e um cessar-fogo em Gaza, acabou por se expandir para apoiar o Líbano.
“Quando é a Ucrânia em guerra contra a Rússia todos os europeus se ergueram dizendo que eles são como nós, mas o que significa ser como nós? Eu sou francês, sou negro e não sou fisicamente como os ucranianos ou os palestinianos, mas eu sou apenas humano”, disse à Lusa Malick, de 33 anos.
Para Malick, que foi à manifestação acompanhado da sua mulher e três filhos pequenos, “não é normal deixar as pessoas serem mortas no Sul do mundo e que ninguém reaja” e deve ser feita a distinção entre “governo israelita, os sionistas e o povo israelita”.
“Mas devemos também dizer que o Conselho de Segurança da ONU (Nações Unidas), a França, os Estados Unidos da América, os países ocidentais em geral, são cúmplices do que está a acontecer”, afirmou Malick, acrescentando que o primeiro-ministro israelita “é um criminoso que deveria ser levado à justiça e enfrentar prisão perpétua”.
Os manifestantes percorreram as ruas parisienses com centenas de bandeiras da Palestina e do Líbano, incluindo duas gigantes colocadas na praça, mas também outras de países africanos, e cartazes com frases como “Boicote a Israel”, “Palestina indestrutível”, “Sionismo com expansionismo” e também com a cara do Presidente francês com as palavras “cúmplice” e “criminoso de guerra”.
Eram também visíveis fotografias de alguns prisioneiros políticos palestinianos, bem como de cidadãos palestinianos que morreram após o ataque de Israel, numa das carrinhas que seguiu o percurso até à Place de Clichy, a oito quilómetros, juntamente com dezenas de carros da polícia que estava no local da manifestação mesmo antes de começar.
“Há um ano que há um genocídio e agora há um segundo que começa e talvez um terceiro que comece entretanto. Estamos perante a uma guerra de exterminação”, afirmou Fadi, de 50 anos, referindo que as Nações Unidas votaram “uma resolução que diz que a ocupação israelita dos territórios ocupados é ilegal”.
Para Fadi, “Israel deve sair de todos os territórios ocupados, Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Leste”, e é importante que as pessoas protestem para que o conflito acabe.
Sobre o governo israelita, Fadi refere que não sabe se “pode chamar-se de governo, é uma organização terrorista, que conduz guerras e ataca civis”.
Nawel e Inés, ambas com 23 anos, foram juntas mostrar apoio aos “povos palestiniano, libanês e iraniano”.
Para Nawel, “as armas são a coisa mais importante, são o fio condutor da guerra e, infelizmente, enquanto não houver um embargo de armas e a França não reconhecer o Estado da Palestina, os conflitos vão continuar”.
“É importante recordar que o Estado de Israel é um Estado genocida e que a justiça internacional declarou claramente que está a atuar ilegalmente”, afirmou Nawel.
Em 07 de outubro de 2023, o grupo islamita palestiniano Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel, matando 1.200 israelitas e fazendo 250 pessoas reféns, o que desencadeou uma guerra, com o exército israelita a destruir grande parte da Faixa de Gaza.
Mais de 41.000 palestinianos foram mortos desde então em Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de metade mulheres e crianças.
Entretanto, o conflito escalou espalhando-se por uma grande parte do Médio Oriente, com a intensificação das hostilidades entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah, aliado do Irão.
Desde 23 de setembro, Israel intensificou os bombardeamentos no sul, leste e na capital do Líbano, justificando o combate ao movimento xiita libanês Hezbollah.
Na terça-feira, o Irão lançou 200 mísseis contra Israel, em retaliação pelos assassínios do líder do Hamas, do chefe do Hezbollah e de um general iraniano.