Num comunicado enviado à agência Lusa, o governo da República Árabe Sarauí Democrática (RASD), liderado por Brahim Ghali, igualmente secretário-geral da Frente Polisário, refere que a posição do Presidente francês, Emmanuel Macron, "estimula o regime marroquino a continuar a sua política agressiva contra o povo sarauí".
Terça-feira, no segundo dos três dias de uma visita oficial a Marrocos, Macron reafirmou no Parlamento o apoio à soberania marroquina sobre o Saara Ocidental, algo quer tinha já afirmado em julho passado.
"Esta posição não é hostil a ninguém", afirmou o Presidente francês em resposta às críticas da Argélia, que apoia a Frente Polisário na luta pelo território contestado e administrado por Marrocos desde 1975.
"E também digo aqui com toda a veemência que os nossos operadores e as nossas empresas apoiarão o desenvolvimento destes territórios através de investimentos e de iniciativas sustentáveis e solidárias em benefício das populações locais", acrescentou Macron.
Depois de os Estados Unidos terem reconhecido a soberania marroquina sobre o território, Rabat intensificou a pressão sobre a França para que lhe seguisse o exemplo.
"A posição manifestada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, no parlamento marroquino exclui a França, enquanto membro permanente do Conselho de Segurança, dos esforços das Nações Unidas para pôr fim ao processo de descolonização no Sahara Ocidental", consideram as autoridas sarauís.
"O apoio do governo francês à ocupação militar marroquina ilegal do Saara Ocidental apenas levará a região do Norte de África e do Sahel à instabilidade e a uma nova escalada de tensões", sublinha a RASD no comunicado.
A França, acrescenta, "foi sempre o principal guardião dessa ocupação dentro do Conselho de Segurança e desde 1975 tem obstruído qualquer tentativa das Nações Unidas para descolonizar o território"
A 30 de julho, Macron, numa carta dirigida ao rei Mohammed VI, considerou que o futuro do Saara Ocidental se situava "no quadro da soberania marroquina", abrindo caminho a uma melhoria nas relações com Rabat e, por extensão, a uma nova crise com Argel.
Este realinhamento da posição francesa abriu caminho a esta visita de Estado, até agora sucessivamente adiada.
"A autonomia sob a soberania marroquina é o quadro no qual esta questão deve ser resolvida, e o plano de autonomia de 2007 [proposto por Marrocos] constitui a única base para alcançar uma solução política justa, duradoura e negociada, em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas', insistiu Macron.
A antiga colónia espanhola do Saara Ocidental foi ocupada por Marrocos em 1975, apesar da resistência da Frente Polisário, com quem permaneceu em guerra até 1991, altura em que ambas as partes assinaram um cessar-fogo com vista à realização de um referendo de autodeterminação.
As divergências sobre a elaboração do censo e a inclusão ou não de colonos marroquinos impediram que fosse convocado até agora.
O último revés para o povo sarauí foi o apoio dos governos espanhol e francês ao plano de autonomia marroquino, uma mudança de posição descrita como traição pela Frente Polisário, que recorda também que Espanha ainda detém por direito o poder administrativo do Saara Ocidental.