Trump lança plano de paz para Gaza; Hamas sob ultimato

PorExpresso das Ilhas,1 out 2025 11:28

O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apresentaram esta segunda-feira um plano de paz para Gaza, que coloca o Hamas perante um ultimato: render-se incondicionalmente ou enfrentar a continuação da ofensiva israelita, com "total apoio" de Washington. A proposta assenta em 20 pontos e prevê um governo provisório supervisionado por Trump. “Se ambas as partes concordarem com esta proposta, a guerra termina imediatamente”, lê-se no acordo divulgado. Falta agora a anuência do grupo islamita.

"É um dia memorável, potencialmente um dos melhores da civilização", declarou Trump durante a conferência na Casa Branca, numa afirmação que contrasta com as inúmeras incertezas que rodeiam a proposta. E acrescentou que Israel teria “total apoio” caso o Hamas não aceite o plano.

Netanyahu, por seu lado, garantiu que o plano "cumpre os objectivos de guerra" e prometeu que, caso o Hamas rejeite a oferta, "Israel acabará o trabalho por si mesmo".

O plano surge depois de meses de confrontos que deixaram mais de 66 mil mortos em Gaza. A proposta foi elaborada sem consulta ao Hamas, que denunciou não ter recebido sequer uma cópia do documento antes de este ser distribuído à imprensa pela Casa Branca.

Ultimato

O plano apresentado é, na prática, um ultimato ao Hamas. O grupo deve depor armas e terá 72 horas, após a aceitação formal, para entregar todos os 48 reféns israelitas, vivos ou mortos, que constituem a sua única moeda de troca. Em contrapartida, Israel libertaria 250 presos condenados a prisão perpétua e 1.700 palestinianos detidos desde 7 de Outubro de 2023.

A retirada das forças israelitas seria gradual: inicialmente após a devolução dos reféns e, posteriormente, com a criação de uma “Força Internacional de Estabilização”.

Avanços e recuos

Uma das mudanças mais significativas do plano é o abandono formal da ideia de expulsão em massa dos palestinianos que Trump havia defendido em Fevereiro. O documento estabelece que "ninguém será obrigado a abandonar Gaza, e aqueles que desejarem sair serão livres de fazê-lo e de regressar". Esta formulação representa um travão aos planos dos ministros mais extremistas do governo Netanyahu, que já projectavam empreendimentos imobiliários e colonatos na Faixa.

Contudo, o plano está longe de satisfazer as exigências da comunidade internacional. Não prevê a criação de um Estado palestiniano, apenas menciona a "aspiração" do povo palestiniano à autodeterminação como possibilidade futura, condicionada a reformas na Autoridade Nacional Palestina. O documento limita-se a prometer um "diálogo" entre Israel e palestinianos para acordar "um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera".

Tony Blair e Trump à frente de Gaza

Segundo o plano de paz, a governação de Gaza ficaria nas mãos de um comité palestiniano "tecnocrático e apolítico", supervisionado por um organismo internacional apelidado de "Junta da Paz". Este organismo seria presidido pelo próprio Trump e incluiria outros ex-governantes, nomeadamente o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

O papel da Autoridade Nacional Palestina, que legalmente deveria recuperar o controlo de Gaza segundo os acordos firmados com Israel desde os anos 90, fica remetido para um futuro incerto e carregado de condicionalidades. Só quando completar um "programa de reformas", que não foi especificado, poderá assumir o território.

A proposta prevê ainda que Israel não anexará Gaza, mas manterá uma "presença de perímetro de segurança" até que o território "esteja devidamente protegido de qualquer ameaça terrorista ressurgente". Na prática, as tropas israelitas manterão indefinidamente o controlo da zona tampão, mantendo a Faixa isolada do Egipto.

Entretanto, Gaza seria transformada numa "zona económica especial" com tarifas preferenciais, seguindo o que Trump denomina "um plano de desenvolvimento económico" para criar "cidades milagrosas modernas". A retórica recorda o vídeo de inteligência artificial divulgado pelo presidente em Fevereiro, que mostrava uma Gaza futurista semelhante ao Dubai, com pessoas sorridentes e prosperidade generalizada.

Precedentes

Até agora, as tentativas de paz em Gaza foram mal sucedidas. Em Janeiro passado, Netanyahu aceitou um acordo de cessar-fogo nos últimos dias da presidência de Joe Biden, recuperando 33 reféns. Dois meses depois, rompeu unilateralmente a trégua com bombardeamentos, com o apoio de Trump, que responsabilizou o Hamas pelos novos ataques israelitas.

"O acordo será um fracasso desastroso se Trump não convencer o grupo islamista e a comunidade internacional de que, desta vez sim, controlará Netanyahu", alertou o comentador Amir Tibon, no jornal israelita Haaretz. O histórico recente mostra que não será fácil.

Antes da reunião desta segunda-feira, Trump “obrigou” Netanyahu a pedir desculpas por telefone ao primeiro-ministro do Qatar pelo bombardeamento, há três semanas, de um edifício em Doha onde se encontravam dirigentes do Hamas, precisamente quando estes analisavam um rascunho do plano agora apresentado. Netanyahu pediu perdão, prometeu que não se repetirá, mas não pagou qualquer preço político pela tentativa de assassinato, observa o El País.

Mundo árabe aguarda

Trump assegurou contar com o apoio de "um bom número de países árabes e muçulmanos" com quem discutiu o plano, mas não especificou quais. Até ao momento, nenhum governo árabe se pronunciou publicamente sobre a proposta.

Se o grupo islamista recusar, como é expectável, o plano prevê que as medidas humanitárias e de reconstrução avancem apenas nas "zonas livres de terrorismo" entregues pelas forças israelitas à futura Força Internacional de Estabilização. Uma formulação que deixa antever a continuação da guerra nas áreas ainda sob controlo do Hamas.

O Hamas, até ao fecho desta edição, mantinha-se em silêncio.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1244 de 01 de Outubro de 2025.

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Autoria:Expresso das Ilhas,1 out 2025 11:28

Editado porClaudia Sofia Mota  em  5 out 2025 6:19

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