Os desafios da segurança e combate à criminalidade são transversais a todos os sectores da sociedade nacional. A criminalidade acarreta fenómenos como o terrorismo, o tráfico de drogas, branqueamento de capitais, tráfego de pessoas ou mesmo da corrupção que minam os mais profundos direitos humanos.
Existem várias estratégias que podem ser adotadas no sentido de minimizar estes fenómenos. O que me vou referir agora diz respeito ao policiamento de proximidade, ou policiamento comunitário, que é uma estratégia que aposta numa relação entre as populações e as forças de segurança. Aqui existe uma clara ênfase na participação ativa dos cidadãos no processo de resolução de problemas associados à criminalidade em que a polícia deixa de ser a única guardiã da lei e da ordem.
Não é um modelo novo e já mostrou resultados em países como Portugal, Canadá, Estados Unidos da América e Japão. Neste modelo existem reuniões periódicas com associações de bairro, clubes recreativos, escolas, comerciantes e outras entidades relevantes da área onde se quer atuar.
Cabo Verde, através do governo, anunciou que o foco no combate à criminalidade encontra-se na execução de medidas preventivas. Algumas das ações que podemos observar têm sido a utilização de programas ligados a promoção da atividade física e desporto, como é o exemplo da Rua Ativa e a corrida da Polícia Nacional (também conhecida pela Corrida da Proximidade). Esta corrida já vai na sua 9a edição. Várias associações comunitárias, como é o caso da escola de futebol Maracanã, a EFAT, o Arsenal de São Pedro ou a Academia de Karaté da Capelinha de Tira-chapéu, já utilizam o desporto como ferramenta de intervenção social na prevenção de entrada dos jovens no mundo do crime.
A nível internacional, um dos programas mais reconhecidos para combate à criminalidade é o “Fight For Peace” ou “Luta pela Paz”. O "Luta Pela Paz" é uma escola que ensina várias artes marciais às crianças e jovens no Brasil e Inglaterra. Em 2000, Luke Dowdney fundou um pequeno clube de boxe no complexo da Maré, uma área carente do Rio de Janeiro. O clube do complexo da Maré transformou-se no “Luta pela Paz”, uma organização que usa o boxe e artes marciais como meio de trabalho de prevenção de crianças e jovens de favelas locais a estarem envolvidas em violência, armas e drogas.
Embora fundada no treino de boxe e artes marciais, a “Luta pela Paz” enfatiza que os seus "Cinco Pilares" abrangem uma abordagem mais holística da educação. Além de ensinar habilidades de desportos de combate, a organização ensina o desenvolvimento pessoal e cidadania, além de fornecer orientação e treinamento vocacional para ajudar os alunos a se empregar. Os alunos mais velhos podem optar pelo programa acelerado “Novos Caminhos”, que enfatiza a educação formal.
Este é um excelente exemplo em que a comunidade, através de meios ligados à educação e empoderamento dos jovens, cria caminhos paralelos aos da criminalidade e que tende a ser uma solução ao combate à pobreza e descriminação.
O combate à criminalidade é um processo longo, complexo, mas que obrigatoriamente tem de pensar nos cidadãos como elemento nuclear para ultrapassar este desafio de desenvolvimento social.