O poeta do sol de (a)manhã, em raios de música

PorPaulo Lobo Linhares,7 set 2020 7:16

​Heróis musicais – expressão insuficiente para definirmos quem admiramos musicalmente.

Na verdade, acho que quando admiro os “meus” músicos, o estado é quase que de absorvimento, usufruir do prazer de… simplesmente observar. Olhar para os seus gestos, atitudes, uma vez que a música já a tenho bem guardada em mim. Bem… na verdade há sempre um lugar para mais, pois a própria grandeza desses “heróis” permite que nos reciclemos…qualquer coisa do género: agora é a vez desta parte para que o todo esteja (…o mais perto possível) do necessário. Bem…tarefa às vezes difícil…, mas é essencial que o consigamos.

É claramente o caso do músico que trago hoje, por ser aniversariante. No último dia de Agosto, nasce Paulino Vieira. A música de Cabo Verde ganhou alguém marcante na música.

Comecei a ouvir Paulino, e confesso que me arrebatou de imediato, sem contudo perceber minimamente quem era a figura que anos mais tarde viria a tornar-se uma das minhas maiores referências como ser humano-musical.

Como disse anteriormente, não seria possível falar aqui dele, por não ter competências, nunca conseguiria expressar o que sinto. Assim, proponho hoje trazer um episódio, o tal onde definitivamente vi quem era Paulino e acrescer mais dois pequenos episódios-estória-ensinamentos de que me lembro sempre ao ver Paulino.

Aquando do primeiro festival de Jazz de Cabo Verde, o Fesquintal de Jazz – no qual tive o privilégio de gerir um dos três palcos do evento criado por Mário Lúcio, num cartaz de músicos como Vasco Martins, Ildo Lobo, Simentera, Youssou N´Dour, Carlos Martins, Rhoda Scott, Maria João, Mário Laginha entre outros, Mário Lúcio terá convidado Paulino Vieira para o festival. Era a figura que abençoava o Festival com a sua presença. Tinha a liberdade de participar onde quisesse, sempre que os músicos o convidassem. Escusado dizer que Paulino fez inúmeras participações nacionais e internacionais…, mas foi sobretudo o Homem da Mochila (as vezes penso que ali guarda algumas das suas preciosas notas musicais) que vagueava pelo festival, por entre a música e os músicos. O festival durou três semanas e Paulino esteve connosco todo esse tempo. Tomava o pequeno-almoço (ainda me lembro: foi em 2004) sempre com cachupa e cuscuz. No primeiro dia acompanhei-o. Não foi necessário mais para ter passado a tomar diariamente o pequeno-almoço com o Paulino. Os dois sozinhos… Estava no Quintal da Música sempre por volta das 8.30 – hora que, para quem produzia espetáculos à noite é no mínimo…madrugador…bem, sigamos…deitava-me já com o bom dia do sol, mas diariamente la estava eu com Paulino. Do que falávamos? Ouvia-o, absorvendo coisas que me pareciam coisas tão naturais, mas que passado algum tempo (era ainda muito novo) viria a ter noção do que tinha ouvido há anos atrás…mostrou-me a naturalidade das coisas, a humildade do ser humano e o quanto a música para ser música, deverá ser simples, modesta, generosa e amada – pois é sim…sem dúvidas – a nossa arte suprema.

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Ainda guardo tudo, e se por acaso leres isto, meu querido Paulino, aproveito para te agradecer. Agradecer profundamente terem-me deixado conhecer-te. Não poderia fechar este artigo sem fazer referência a uma entrevista que acabei de rever pela enésima vez, onde pedem a Paulino que fale dele. Praticamente grande parte da entrevista passou-a a explicar a importância de termos de gravar os depoimentos de Luís Morais. São assim os mestres – promotores do conhecimento, não os deles, mas sobretudo dos que servem a música.

São simplicidades que marcam vidas, como, por exemplo, a confissão que o criativo compositor e músico Princezito fez-me ao ter dito que escolheu a carreira de músico de forma definitiva, quando ouviu o tema/disco “N´cria ser Poeta…. Pois Paulino, é assim - …é simples, não é?

Parabéns Paulino.

Obrigado Paulino.

Sempre Paulino.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 979 de 2 de Setembro de 2020.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,7 set 2020 7:16

Editado porSara Almeida  em  18 jun 2021 23:21

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