Foi o culminar da semana da música, que começou como o AME e terminou (por agora) com o KJF.
Se o AME trouxe-nos figuras maiores da indústria musical e oportunidades únicas para os músicos se mostrarem em possíveis festivais exteriores, onde, como diz a Label inSulada: os encontros musicais como base de tudo”, o KJF trouxe-nos de novo nomes maiores do mundo da música ao palco Cabo Verde.
Não era minha intensão entrar em nomes, pois penso que o KJF - assim como o AME – é um todo, que para tal conseguem carregar a energia que é trocada por emoção. Mas seria incontornável – pelo menos na minha opinião – não destacar 4 nomes – por motivos que citarei. Contudo que fique claro: todos os grupos presentes, por entre o AME (mais os jornalistas e produtores) e o KJF, foram indispensáveis ora para tudo, ora para todos.
Começo pelo KJF. Uma das maiores vozes do mundo esteve entre nós. Num espectáculo de superioridade notável, onde ela ia cantando e “conversando com a banda” tudo foi absolutamente notável. Foi o melhor espectáculo dela que já vi…talvez seja da brisa da nossa “Prasinha Skola Grandi”. Trouxe-nos um trio, onde cada um dos músicos se misturava som os instrumentos e tudo resultava em música delicada e rara.
Confesso que contava os dias para ver um dos grupos referência de sempre: a Orchestra Baobab. Contudo foi mais rápido que pensava e foi na minha “Prasinha Skola Grandi”.
Tckeka tem impregnado em si uma característica musical que o acompanha: é sempre bem-vindo e é sempre esperado. Assim foi.
Passando ao AME – obviamente que não poderia deixar de tocar na banda Bulimundo – os nossos Bulimundo que este ano, neste mês fazem 45 anos…escolheram também Abril…São transversais ao tempo.
Continuando, dois momentos que guardarei para sempre como memória deste KJF23:
o menino que oferecia música aos músicos e o pianista que partilhou experiências adquiridas com os mais novos numa tentativa de os incentivar a continuar a acreditar na música.
A música é partilha e foi emocionante ver Zumbi, menino-prodígio que um dia se apaixonou pela musica, a distribuir no fim de cada espetáculo, a cada elemento de cada grupo, discos do seu projecto. Na verdade, foi a primeira vez que o vi e é claramente o significado de música enquanto partilha. Zumbi recebeu de coração aberto o que os grupos lhe propuseram e quis também deixar em cada um deles um bocadinho do ele-musical. Ver Dee Dee Bridgewater com tanta ternura a receber os álbuns que Zumbi lhe oferecia, foi delicioso.
Um dia antes, numa manhã radiosa e cheia de sol, o compositor e pianista Carlos Matos trocou o sol da praia pelo brilho do olhar das alunas de piano da escola Pentagrama do Professor Tó Tavares. Reunidas, ouviram os concelhos do Maestro, fizeram perguntas e responderam também a perguntas feitas por Matos. Para os pais presentes, também momento de esclarecer alguns receios quando ouvem do filho: “pai…quero seguir a formação de música…”
…o Maestro aconselhou o caminho da paixão e liberdade – o tal que faz as estruturas da arte e de quem a escolhe… sim, é possível (também) ter a música como profissão.
Atento a tudo, o eterno aprendiz e formador de músicos – o professor Tó Tavares.
Na verdade, mais uma vez ficou cravado a máxima que defende que a música é partilha.
Não pode ser de outra forma. …e tudo continuara certamente…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1116 de 19 de Abril de 2023.