Dany Mariano e geração: irreverência musical e sonho, em formato de liberdade-concretizada

PorPaulo Lobo Linhares,25 set 2023 8:10

​Desde miúdo que tenho em mim este universo (que não conheci ao vivo, mas de ir ouvindo através do meu pai o possível) que reinou em São Vicente, creio que centrado em Mindelo, de grupos que para mim soavam a diferença.

 Talvez a palavra mais fácil de “catalogar” fosse “ser diferente”. Tinha o conhecimento musical de uma criança-adolescente que se interessava pela música. O meu conhecimento vinha das audições possíveis e de tudo que ia catando, no que o meu pai ouvia em casa… por entre vinis e K7s.

De entre muitos grupos da Era-Mindelo um dos que me marcou foi claramente os “Kings” e obviamente … permitam-me a sinceridade…o seu frontman, para mim, um dos maiores da nossa historia musical – Dany Mariano.

Tudo começou com o tema “Flor di nos Revolução”. …era eu criança e, sem perceber bem, sentia-me retratado nas palavras de Dany. Havia sim um mundo onde as crianças de então (e só poderiam ser elas) teriam a doce missão de o construir. Houve um início que teria de ser continuado. Lembro-me que me envolvia na melodia e com ela “brincava”. Lembro-me do meu deslumbre pelo solo do famoso teclado dos anos 70, 80.

Mais tarde viria a saber que o sr.-da-música-Primer-Cabral-falá… para além dos Kings, fez também parte dos “Pedra d’Calçada” grupo esse onde apareciam três nomes que também fazem parte destes “heróis” de um Mindelo de ontem e de hoje: Tey, Pinúria e Voginha. Como gostaria de os ter visto ao vivo….

Também soube que participou no projecto “Gota d’Aga, com outro nome deste movimento – Vasco Martins.

Soube ainda que foi um dos arquitectos de um dos nossos festivais de referência – o Baía das Gatas, festival este que não foge também dos parâmetros da irreverência e sonho lançado em formato liberdade concretizada.

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Hoje julgo que Dany Mariano, um dos compositores de relevo da nossa música, mais do que isso, foi frontman, cantor e líder de palco de excelência. Mostrou futuros num passado que muitos não valorizaram. Foi tempo à frente do hoje de então.… creio que um dia, quando forem estudados os frontmans da nossa musica, Dany Mariano será claramente um …ou o mais completo.

Voltando ao início do texto. Mariano foi parte de um movimento…passaram-me a ideia do quebrar do dito normal-musical, incutindo-lhe novas sonoridades, mesmo que vindas de fora, mas que passavam antes pela alma de cada um …deste precioso grupo de jovens. Não será isso o verdadeiro expressar da palavra-rainha da música: “Soul”? Acho que sim.

Num hoje em que tanto se acomoda musicalmente – principalmente os que estão directamente ligados ao lucro fácil – é cada vez mais essencial, precioso e preciso ouvir estes nomes…e ler o que fizeram. É preciso beber nos que fizeram a revolução e procuraram o alternativo. A música alternativa e necessária, é combustível para inovação e consequente evolução.

Há dias quando via a homenagem feita a Dany Mariano pela SCM, pensei: porquê só agora? – incluindo-me nesse grupo de “atrasados”. Contudo, segundos depois pensei: sim, foi agora e louvemos o que aconteceu.

… e se não nos atrasássemos mais?...e se procurássemos as pedras que fizeram as calçadas das ruas que foram fazendo os caminhos da nossa música…

Honremos e relembremos de todas as (r)evoluções. A história da música mundial está recheada de movimentos e géneros musicais que nasceram do instinto musical da juventude…os que fizeram e fazem a intervenção musical…assim foi com a luta dos artistas do movimento Soul 70, assim foi com os Beatles e com os Stones, assim foi com Marley, assim foi com todo o movimento da Factory, assim foi com os Bulimundo, assim foi com Pantera…e, obviamente, que a lista aumenta à medida em que formos pensando…

… e como toquei nos Bulimundo…como nota de rodapé, em termos de (r)evolução musical…é absolutamente necessário falar … todos os dias deste ano 45… do grupo que um dia resolveu trazer o funaná para os palcos. Hoje, esses palcos são mundo…assim o foi com os Bulimundo, com a geração Mindelo e com todos os demais músicos das nossas ilhas que não se retraíram em pôr os sonhos a andar movidos a paixão-emoção e não a tostão. Fizeram-no com legendas da tradição num só arquipélago-música. Assim sendo, são e serão história, pois o resto a música faz.

Nota: escrevo ao som do tema “Faroest”… cujo início do tema… há anos que me domina totalmente.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1138 de 20 de Setembro de 2023.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,25 set 2023 8:10

Editado porAndre Amaral  em  2 mai 2024 23:28

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