A decisão foi comunicada aos pais na quarta-feira, dia 18, através de uma mensagem de e-mail da actual directora do colégio, Ginga Melício, que autorizou ao Expresso das Ilhas fazer uso da mesma.
A escola, que vinha acumulando dívidas, atingiu uma situação financeira irreversível que ditou a decisão. No entanto segundo a sua proprietária, Nélida Araújo, o valor do edifício em que funcionava a escola é “suficiente para garantir as dívidas bancárias e todos os nossos compromissos”, para com professores e funcionários.
“Temos consciência plena e lamentamos profundamente o quanto esta medida poderá frustrar legítimas expetativas de pais que desejariam ver os seus filhos continuar neste Colégio. (...) Até à última hora tentámos – mas em vão! – salvar, através duma parceria promissora, uma situação que no plano financeiro se vinha agravando ano após ano e mais recentemente de forma irreversível”, esclarece Ginga Melício no anúncio feito e que apanhou os pais de surpresa.
“Ver cair uma casa que foi, acima de tudo, uma grande família para todos (trabalhadores, crianças e seus pais e encarregados de educação) não é de todo fácil. O nosso compromisso foi sempre e fundamentalmente com a qualidade de ensino e com a felicidade dos nossos pequenos”, desabafa.
A dona e primeira directora do Colégio Semear, Nélida Araújo, também endereçou uma mensagem aos pais dos alunos e aos trabalhadores da instituição recordando o percurso da instituição.
“Foi por compreender, como professora, a necessidade de haver uma oferta ao público dum ensino de outra qualidade – mesmo se reservado apenas a quem pudesse pagá-lo - e compreender a importância do ensino básico, como matriz de toda a qualidade do ensino a diversos escalões, que me decidi a abrir a escola, aproveitando a abertura desse nível de ensino à escola privada, ocorrida por lei de 1990.”
Nélida Araújo foi directora e professora do Colégio durante 14 anos, até 2012 quando passou o cargo à filha, Ginga Melício que abriu a escola às crianças com Necessidades Educativas Especiais que tinham no colégio um departamento de ensino especialmente voltado para elas.
“A essas crianças e esses pais, dirijo o meu profundo desejo de que realmente lhes seja reconhecido o direito, em qualquer escola, a uma educação de qualidade, a par de outras crianças”, sublinha Melício na nota.
A ex-professora não esconde a sua decepção para com o Estado que diz conceder vantagens a outras escolas privadas. “O Estado tem tido, e isso desde longa data, presumíveis compromissos políticos ou parcerias diversas, seja com Igrejas seja com Estados estrangeiros, pelos quais lhes concede vantagens que destroem toda a possibilidade de concorrência e nesse capítulo, parece não se colocarem já princípios como o da igualdade de tratamento”, analisa. E diz ainda que em Dezembro de 2016 tenteu interar-se destas eventuais condições especiais de parceria não tendo alcançado o intento.
“O que, cada vez mais conta, inclusive a nível do ensino e mesmo para o Estado, e merece todo o apoio, não é a qualidade e a utilidade social, mas apenas razões de ordem económica e política”, acrescenta.
“Neste momento em que o Colégio Semear terá de fechar as portas, por causas muito específicas e lamentáveis, sinto um discreto orgulho de o ver a cair de pé, num momento auge da sua qualidade e capacidade de serviço público e não a cair de podre, como se costuma dizer, como algo que foi perdendo qualidade e já não se aguenta”.
A direcção do colégio está agora a apoiar os pais no processo de transferência dos seus educandos, estando em contacto com várias escolas privadas e públicas da capital, sendo motivo de particular atenção as crianças com Necessidades Educativas Especiais, já que poucas são as escolas com as devidas condições para as acolher.