Antes de atracar no porto da Praia, na sexta-feira, o navio saiu de Lisboa a 20 de agosto, navegou para São Tomé, onde fez uma paragem curta, seguiu para Angola, onde esteve dez dias, regressou a São Tomé e seguiu para o Mindelo, em Cabo Verde, antes de atingir a capital cabo-verdiana.
"Foi um período intenso de cooperação, de relacionamento de parceiros e de países amigos, com especial incidência de países da comunidade da língua portuguesa na África Ocidental", disse à agência Lusa o comandante da missão Mar Aberto, na qual se insere a visita do navio "Viana do Castelo", um dos quatro 'patrulhões' da Marinha portuguesa.
De acordo com o capitão de mar e guerra Nuno de Noronha Bragança, ao longo desta missão foram reforçados "aspetos de conhecimento na área da segurança marítima", não sendo ignorada a "questão permanente do golfo da Guiné, que continua a estar na agenda".
Em Cabo Verde foi realizado "um trabalho exaustivo de treino, exercício de cooperação com a Guarda Costeira cabo-verdiana e, muito em particular, com a inspeção das pescas e a Polícia Marítima, num esforço conjunto na ação de fiscalização e vigilância da pesca".
"Tivemos a oportunidade de, conjuntamente com os inspectores de pesca, a Polícia Marítima e as equipas da Guarda Costeira de Cabo Verde, fazer uma série de acções de fiscalização de pesca, quer a navios estrangeiros licenciados para actuar nas águas de soberania de Cabo Verde, ou não, como também, na área de pesca, alertar para questões como a segurança no mar, a segurança marítima e os cuidados que as pessoas que andam no mar e na pesca devem ter", referiu.
Ao longo de quase três meses, a equipa da missão Mar Aberto actuou sempre "numa colaboração de apoio às entidades dos países. Esse é um dos propósitos da missão: dar autonomia às entidades do país".
"Exercemos muitas acções de fiscalização, felizmente não apanhámos ilícitos. Apanhámos presumíveis infractores que se prendem com as questões da segurança do mar", avançou.
Em águas cabo-verdianas, esteve presente no navio "Viana do Castelo" uma equipa de sete elementos da Guarda Costeira cabo-verdiana, com a qual os portugueses trocaram "experiências e conhecimento" e realizaram treinos de visita aos navios inspeccionados ou fiscalizados.
"Trocámos experiências e conhecimento com os inspectores de pesca, elementos da Polícia Marítima e da Polícia Judiciária que embarcaram connosco. É muito interessante essa transversalidade de multiagência", afirmou Nuno de Noronha Bragança.
O comandante da missão sublinhou que "todas as acções de fiscalização -- reais, não eram treinos" -- foram feitas com as equipas de Cabo Verde.
"Quem actuava era o inspetor de pescas e o agente da Polícia Marítima de Cabo Verde. Apenas actuámos como uma tutoria, um apoio próximo para partilhar experiências e para aperfeiçoar alguns processos", referiu.
O comandante destaca ainda as acções de apoio na área da saúde realizadas durante a missão, nomeadamente no Príncipe, Mindelo e Praia.
Para tal contribuiu a presença de um médico e de um enfermeiro na equipa, apoiados na enfermaria do navio que tem capacidade para pequenas cirurgias e estabilização de doentes, além de uma sala de isolamento. Está ainda dotada de um desfibrilador automático externo.
Ao comando deste navio está uma mulher, a capitão-tenente Vânia Filipa Carvalho, 40 anos, que destacou as "excelentes capacidades para o mar" da embarcação, que conta com uma guarnição de 44 elementos, reforçada com mais 10 nesta missão.
O navio "está vocacionado para exercer a autoridade do Estado do mar. Fazemos fiscalização e segurança das nossas águas, combate a ilícitos e salvaguarda da vida no mar", disse.
"Um navio como este tem de ser capaz de enfrentar o mar, ter um conjunto de sistemas e de equipamentos que nos permitam fazer a compilação do panorama de superfície, para podermos tomar as decisões necessárias relativamente à missão que estamos a cumprir", declarou, sublinhando a "automação muito grande" do "Viana do Castelo".
"Cumprir a missão e chegar ao porto de forma segura" é o objetivo do comandante do navio, para quem a principal dificuldade deste tipo de missões é "a distância da família".
"Isto é um espaço exíguo e as pessoas têm de saber aprender a viver umas com as outras, mas temos uma óptima equipa, uma guarnição que acaba por se congregar toda e criar um espírito de equipa e entreajuda muito grande e é isso que depois nos permite enfrentar o mar e cumprir a missão da melhor forma".
Manter a harmonia a bordo é também um dos papeis do comandante: "Manter a guarnição unida e segura e com elevados níveis de motivação para o cumprimento da missão".
Ao longo desta missão, o "Viana do Castelo" deverá navegar cerca de 10 mil milhas náuticas (mais de 18 mil quilómetros).