“Existem contactos com a Caixa Geral de Depósitos” para a compra do BCA

PorAndre Amaral,11 ago 2019 7:26

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Depois da apresentação pública do banco no passado dia 12 de Julho, o representante da international investment bank Holding (iibGroup) em Cabo Verde, César Martins Ferreira, explica o que levou esta instituição financeira com origem no Bahrein a investir em Cabo Verde.

O banco e seus accionistas vão participar no Fundo de Infraestruturas anunciado durante o recente Cabo Verde Investment Forum, realizado no Sal, e é um dos interessados na compra do capital que a Caixa Geral de Depósitos detém no BCA.

Porque é que o iibGroup veio para o mercado cabo-verdiano?

O iibGroup tem uma estratégia assente na presença em vários mercados. Uma presença crescente quer em África, quer no sudoeste asiático e também na Europa com especial incidência recentemente em Portugal. Cabo Verde surgiu como uma escolha natural tendo em consideração a estabilidade política, económica, o facto de ser uma economia com estabilidade cambial e um país onde se garante uma qualidade e tranquilidade ao investidor que outras paragens não apresentam.

Mas é, ainda assim, um mercado com uma dimensão reduzida.

É verdade. Mas é um mercado que pode claramente ser visto como um ponto de ligação entre a Europa e a África e também entre África e América do Norte e América do Sul. Achamos que o sistema financeiro pode desempenhar, aqui em Cabo Verde, também um papel de hub de ligação entre esses continentes, assente numa jurisdição que é bastante avançada, quando comparada com outras da região, e que permite a estabilidade e esta ligação.

Os sucessivos governos têm falado nessa questão de transformar Cabo Verde numa praça financeira internacional, mas a verdade é que se fala muito mas tem-se feito pouco. Este pode ser visto como um primeiro passo para esta transformação?

A presença do iibGroup indicia claramente que o potencial está cá. O potencial existe e há, de facto, a possibilidade de Cabo Verde se desenvolver como um hub financeiro. Na minha opinião pessoal, antes de se desenvolver como um hub financeiro, tem que se desenvolver e está a desenvolver-se como um hub para um conjunto de outra áreas que, em última análise, vão também arrastar a necessidade de um sistema financeiro mais forte, sofisticado, maior e talvez com um conjunto de players mais diversificados, apresentando diferentes capacidades. Aquilo que se está a passar ao nível dos transportes aéreos, do turismo, dos transportes marítimos são movimentos que vão claramente garantir um maior desenvolvimento do mercado. Associado a isso estará a ideia do hub financeiro. Agora, é importante ter em consideração que existem mais hubs financeiros na região e que estão em níveis de desenvolvimento claramente diferentes de Cabo Verde. Esse caminho é um caminho que outros países já iniciaram há 20 ou 30 anos atrás e de estão agora a retirar os benefícios disso. No entanto, é um caminho que pode e deve ser explorado. Eu acho que a presença de um grupo como o Grupo IIB em Cabo Verde demonstra que o potencial existe, que a confiança dos investidores no país e no sistema financeiro existe e pode catalisar que mais investidores surjam e que uma estratégia de hub no sistema financeiro se comece a desenvolver.

Falava há pouco dos transportes aéreos e o iib Cabo Verde participou num financiamento de 22 milhões de euros à Cabo Verde Airlines. Que sinal é este que o iib está a dar?

É um sinal claro de apoio e comprometimento do Banco e do Grupo com um sector de actividade que é perfeitamente estrutural em termos de desenvolvimento da economia em Cabo Verde. Todos nós sabemos das dificuldades graves pelas quais a TACV passou. Felizmente foi iniciado, com muita coragem, por este governo um processo de reestruturação que conduziu à limpeza do passivo da empresa com o apoio dos parceiros internacionais, nomeadamente o Banco Mundial, e nós no iibGroup vemos na Cabo Verde Airlines um parceiro de negócios estratégico em Cabo Verde. Por aquilo que ela representa, pelo facto de ser uma bandeira de Cabo Verde. Pessoalmente, e em nome do iibGroup, fico muito contente por termos concretizado, em conjunto com o EcoBank, este sindicato bancário que demonstra que duas instituições financeiras privadas, detidas maioritariamente por grupos financeiros com as suas “casas-mãe” fora de Cabo Verde, têm confiança suficiente para investir quantias desta dimensão num projecto desta natureza que, claramente, será um projecto estruturante para o país.

O iibGroup também anunciou no Cabo Verde Investment Forum e vai participar num Fundo de Infraestuturas...

Estivemos com muito gosto no Sal. Já tínhamos estado presentes no 1º evento, em Dezembro passado, em Paris. Acho que a recorrência e a continuidade da realização desses eventos é muito importante para o país pela atracção que traz em termos de investimento, pela facilidade que cria na perspectiva de juntar num único fórum um conjunto de intervenientes importantes em vários sectores, parceiros de financiamento, instituições financeiras multilaterais, o governo, os empresários e a banca. Foi com muita satisfação que vimos também contemplado, nesse Cabo Verde Investment Forum, a assinatura formal do memorando de entendimento para a implementação de um fundo de infraestruturas que pretendemos estruturar, garantindo a captação de um valor global de investimento de até 250 milhões de euros para suporte de sectores como comunicações, agua e saneamento, energia, infraestrutura tecnológica, transportes assim como o desenvolvimento de projectos relevantes que no âmbito do sector do turismo.

O iib, na apresentação pública que fez aqui na Praia, definiu-se como “o banco para quem não tem paciência de ir ao banco”. Será um banco a funcionar essencialmente pela internet? Num país onde ainda há dificuldades na área das comunicações, especialmente na internet, é um desafio.

A estratégia do iibGroup para o iib Cabo Verde, no que diz respeito à oferta e ao modo de interacção com os clientes, se fará em dois estágios. De facto, queremos ser cada vez mais o banco para as pessoas que não têm paciência para ir ao banco e o que isto quer primeiramente dizer é que queremos continuar a reforçar a capacidade de ter um atendimento personalizado, capacidade de entender as necessidades dos nossos clientes e dessa forma dar uma resposta pronta. Se isso, de uma forma imediata, se fará pelo desenvolvimento muito significativo dos meios alternativos como o internet banking, mobile banking ou outros, é algo que virá alinhado com a estratégia que o grupo tem para Cabo Verde, de uma forma gradual. Com a alteração da imagem corporativa do banco e mesmo da sua designação, lançamos em Julho uma nova solução de internet banking. Até ao final deste ano vamos lançar uma solução de mobile banking, que não dispomos neste momento. É através destas iniciativas que queremos garantir que os nossos clientes sintam que têm um nível de serviço e de cuidado por parte do banco que nos diferencie.

A estratégia do iibGroup passa pela banca de retalho?

A estratégia do iibGroup para o iib Cabo Verde passa fundamentalmente por actuar no segmento de banca corporativa, de empresas. Quando digo empresas digo pequenas, médias e grandes empresas, mas também servimos obviamente clientes particulares. Banca de retalho é uma questão de escala. Com a dimensão da população e a sua dispersão geográfica ao longo do arquipélago, qualquer Instituição que pretenda actuar no segmento de banca de retalho é obrigada a realizar um investimento muito significativo… e a esperar muito tempo pelo retorno desse mesmo investimento. O iib Cabo Verde tem um balcão na Praia e outro no Sal, mas faz parte do nosso plano de negócios e é nossa intenção continuar atentos a oportunidades de expansão da rede que possam surgir e fazer sentido. Eu diria que o natural será a abertura de uma agência em São Vicente, tendo em consideração o número e a relevância de clientes empresariais com que o banco, neste momento, já trabalha apesar de não ter qualquer agência em São Vicente. Mas respondendo à sua pergunta de uma forma muito clara, o iib Cabo Verde vai-se focar fundamentalmente no segmento de banca de empresas e de particulares, mas não de uma perspectiva de retalho ou mass market como outros players fazem – e de uma forma muito competente - aqui em Cabo Verde.

O BCA é um banco a ser vendido. Há interesse do iibGroup na privatização do BCA?

O iibGroup está de facto interessado em adquirir a participação que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem no BCA e que pretende agora vender. Ao mais alto nível, a intenção de avaliar a operação já foi por diversas vezes transmitida às Autoridades em Cabo Verde, designadamente junto do Ministério das Finanças, do Banco de Cabo Verde e da AGMVM. Em paralelo há vários meses que existem contactos em curso entre o iibGroup e a CGD, em Portugal, que é a entidade vendedora, sendo igualmente conhecido o modelo de venda, ou seja, através de um concurso competitivo… e sabemos que não somos os únicos interessados. O iibGroup está a acompanhar este dossier de uma forma muito séria, na certeza de que uma potencial entrada no capital do BCA deverá sempre ser avaliada tendo em consideração aquilo que são primordialmente os interesses do País e das suas Autoridades, tendo em consideração a dimensão, relevância e caracter sistémico que o BCA apresenta e, obviamente, por parte significativa do capital estar disperso em Bolsa ou controlado por entidades como o INPS e a ASA. Uma potencial aquisição do BCA permitiria ao iibGroup uma captação de quota de mercado imediata e uma presença efectiva no segmente de retalho que abriria sem duvida um maior e mais vasto leque de oportunidades em Cabo Verde.

Regressando à questão do Fórum do Sal. Dizia que há disponibilidade de investir em projectos até 250 milhões de euros. É isso?

Esta iniciativa é mais uma demonstração do compromisso do iibGroup com o desenvolvimento de Cabo Verde, sendo que que este memorando de entendimento assinado entre o iibGroup e o governo estabelece é a criação uma estrutura, de um fundo de investimento, para suporte a investimentos em projectos de infraestruturas. O objectivo é a concretização desta iniciativa em várias fases, com uma primeira dotação (“closing”) na ordem dos 50 milhões de euros, na qual o iibGroup, o Estado e diversas entidades financeiras multilaterais participem. Muitas destas entidades internacionais já tem experiência em colaborar com Cabo Verde, em determinados projectos específicos, o que se pretende com este fundo é fazermos confluir todas estas instituições para um objectivo comum que permita ter uma dimensão e uma capacidade de investimento maior do que cada uma, isoladamente, é capaz. O memorando de entendimento assinado reflecte uma primeira demonstração de intenções que é importante, mas existe ainda um caminho a ser percorrido, no sentido de um primeiro “closing”, demonstrando os benefícios desta iniciativa, permitindo mais e mais investidores a juntarem-se à mesmas. O fundo depois terá uma gestão autónoma, uma estrutura de governo e regulação de acordo com as melhores práticas internacionais, beneficiando da experiência acumulada do iibGroup neste campo. O objectivo é alcançar a fasquia dos 250 milhões de euros permitindo que possam ser apoiados de uma forma muito significativa sectores como as telecomunicações, água e saneamento, energia, comunicações, transportes e até mesmo turismo… portanto, um âmbito bastante alargado de actuação.

O Estado quer alienar 39% do capital que tem na Cabo Verde Airlines. Era um negócio que vos atrairia?

O iibGroup é um Holding de cariz financeiro que, na realidade, tem alguma afinidade com o sector do transporte aéreo, por ter apoiado algumas operações no sector, designadamente no Médio Oriente, para além de ter prestado aconselhamento financeiro a entidades neste sector. Eu prefiro responder a esta pergunta dizendo que, claramente, a Cabo Verde Airlines (CVA) é um hoje parceiro com quem queremos desenvolver uma longa e positiva relação de negócios quer ao nível do iibGroup quer através do Banco em Cabo Verde… a que não é alheio termos participado neste financiamento. Estamos disponíveis e temos interesse, não só em trabalhar com a CVA mas também com a Autoridades naquilo que possa ser a procura e identificação de potenciais investidores para a tranche de 39% detida pelo Estado, na exacta medida que isso sejam os interesses da CVA e do accionista Estado. Neste momento o nosso único desejo é que a Cabo Verde Airlines seja um verdadeiro caso de sucesso, que permita também potenciar um conjunto de outros sectores económicos em desenvolvimento no País e que ao mesmo tempo contribua para um significativo aumento da notoriedade de Cabo Verde na região e no Mundo.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 923 de 7 de Agosto de 2019. 

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Autoria:Andre Amaral,11 ago 2019 7:26

Editado porFretson Rocha  em  5 mai 2020 23:21

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