Cabo Verde completa no sábado seis meses desde o aparecimento do primeiro caso de covid-19, a 19 de Março, na ilha da Boa Vista (um turista inglês que acabaria por ser também a primeira vítima mortal no país), e desde então a doença atingiu oito das nove ilhas habitadas, 'escapando' apenas a ilha da Brava.
E também ainda não infectou o Paul (ilha de Santo Antão) e Santa Catarina (Fogo), que juntamente com a ilha-concelho da Brava são também três dos municípios mais pequenos do país.
Um feito que até agora enche de orgulho os respetivos presidentes de Câmara, que têm apostado na sensibilização da população e dizem estar minimamente preparados, caso a doença chegue.
“Para nós, é motivo de grande satisfação”, disse à agência Lusa António Aleixo, presidente da Câmara Municipal do Paul, que realçou o trabalho feito desde o início da pandemia na prevenção e sensibilização da população.
O autarca disse que todos já têm consciência da gravidade da pandemia, mas afirmou que muitos ainda ‘furam’ as regras, sobretudo com aglomerações, pelo que entendeu que ainda é preciso “fazer mais”.
“Ainda não temos nenhum caso e esperamos continuar desta forma e continuaremos a agir na prevenção”, garantiu Aleixo, destacando igualmente a boa adesão dos parceiros, nomeadamente o Ministério da Saúde, a Protecção Civil, as outras câmaras municipais da ilha e a sociedade civil.
Se surgir um caso da doença, o autarca disse que os encontros realizados com as autoridades de saúde da ilha mostram que o município está preparado, mas sublinhou que o melhor mesmo é não aparecer nenhum caso neste concelho de Santo Antão, ilha mais a norte do país e que recebe ligações marítima apenas a partir da ilha vizinha de São Vicente.
À semelhança de todo o país, o líder municipal disse à Lusa que tudo esteve parado por causa das restrições para evitar a propagação do vírus, iniciadas no final de Março, com muitos a perderem os empregos e rendimento, sobretudo na actividade turística.
Neste momento, indicou que apenas dois empreendimentos turísticos estão a tentar reerguer-se no concelho com cerca de 8.000 habitantes, situado no extremo nordeste da ilha de Santo Antão, com potencialidades no domínio agrícola, mas também no Turismo.
No outro extremo do arquipélago está a ilha da Brava, a mais pequena do país, com cerca de 5.500 habitantes e que também não registou qualquer caso de covid-19.
Para esta ‘resistência’, o presidente da Câmara Municipal, Francisco Tavares, destacou as medidas tomadas logo no início da pandemia, primeiro com as restrições e depois com o fecho total das viagens de passageiros para a ilha.
Depois disso, o autarca disse que houve um período de “consciencialização geral” sobre as consequências da covid-19, mas notou que também a Brava é uma ilha que recebe poucas pessoas, através apenas da ligação marítima com o Fogo.
Desde finais de Março, explicou, a autarquia, através da Protecção Civil, montou um sistema de desinfecção de cargas de todos os navios e as informações chegaram a todas todos os povoados da ilha.
“Talvez esse seja mais um dos motivos que fizeram as pessoas a tomar mais cuidados”, salientou o autarca, para quem todas as autoridades locais estão preparadas e já delinearam todos os passos a seguir na eventualidade de aparecer um caso positivo na ilha.
A Brava é uma das ilhas que sistematicamente reclama do seu isolamento em relação ao resto do arquipélago, mas o presidente da Câmara sublinhou que neste caso da covid-19, o isolamento “serviu positivamente”, mas a nível económico a ilha ficou também muito afectada.
Apesar de tudo, sublinha que a Brava nunca ficou isolada, já que mesmo no momento em que estavam proibidas as viagens interilhas de passageiros, foram realizadas três ligações semanais de barco para reabastecimento.
Além dos apoios sociais disponibilizados pelo Governo, Francisco Tavares realçou as ajudas diretas dos emigrantes às suas famílias na Brava, sobretudo vindas dos Estados Unidos, através de remessas “fora do comum”.
“Mesmo maiores do que as quantidades que costumam enviar para as épocas festivas do Natal e Final de Ano”, salientou o presidente, para quem essas ajudas permitiram que as populações da ilha ultrapassassem as restrições impostas pela pandemia sem grandes privações.
Cabo Verde contava até quarta-feira com 4.978 casos acumulados de covid-19, sendo o município da Praia o mais afectado, com um total de 2.916 doentes diagnosticados em seis meses.
Do total acumulado desde 19 de Março, o país contabilizava 47 óbitos, mas 4.430 pessoas já foram dadas como recuperados da doença.