“Nós temos a noção que as questões de género passam por uma grande construção social. Então, temos vindo a trabalhar ao longo desses anos e agora queremos colocar o foco [na masculinidade]. Para vencermos as outras etapas, para uma sociedade mais tolerante, mais igualitária, com menos violência, é necessário trabalhar os homens. Só se pode ganhar esta batalha se nesta luta os homens forem totalmente envolvidos. Esta não pode ser uma questão de mulheres ou uma luta só de mulheres”, referiu a presidente do ICIEG.
Em declarações ao Expresso das Ilhas, Rosana Almeida, sublinhou que para este ano - que as Nações Unidas proclamaram de "Ano da Igualdade para as Mulheres", em celebração dos 25.º aniversário da Declaração de Beijing - o instituto colocou na agenda a questão de “Paternidade e Cuidado” e “Masculinidade Positiva”.
Segundo apontou, há “muitos estereótipos” sobre a masculinidade, que foram criados e usados na sociedade ao longo dos anos, e que acabam por “incutir” uma mentalidade machista, traduzindo-se portanto numa cultura também machista
Nesse sentido, o ICIEG pretende fazer uma desconstrução e mostrar uma masculinidade positiva, que integra homens que participam nas tarefas domésticas, homens responsáveis, que assumem em pleno a paternidade e que encaram a defesa da mulher como uma questão dos direitos humanos.
Para isso, de acordo com Rosana Almeida, o ICIEG associou-se à Rede Laço Branco Cabo Verde que vai ministrar a formação.
“Estamos a começar pelas Aldeias SOS porque temos uma excelente relação no tratamento das vítimas e agora voltamo-nos também para a masculinidade, porque nas Aldeias SOS estão lá rapazes". Rapazes que terão incutidos conceitos de masculinidade assentes na cultura machista, em esteriótipos "do que é ser homem".
"Estamos a aproveitar esta classe para desconstruir [esses conceitos] e mostrar que ser homem não é ter aquela mentalidade, que os homens e os rapazes recebem da sociedade e da família”, explanou.
O objectivo é continuar com a formação de modo a conseguir ter, em cada município, núcleos de homens contra a violência, disponíveis e prontos para combater a desigualdade do género em Cabo Verde.
Nesta primeira fase serão formados 30 rapazes e já se encontra aberto um concurso para uma nova formação no dia 29.
“O mais interessante é que se inscreveram até professores universitários estrangeiros. Uma grande novidade, nesta formação de Homens sobre igualdade de género, é que o ICIEG conseguiu uma articulação a nível internacional e já está na rede internacional de empoderamento da mulher, empoderamento feminino, e esta formação vai estar dentro desta plataforma a nível internacional. Será seguida por grandes experts internacionais e será seguida também por todos quanto queiram em qualquer parte do mundo”, disse.
A capacitação é promovida pelo ICIEG e as Aldeias SOS com o apoio da PNUD e terá uma duração de 35 horas. A formação abordará temáticas como "Género como construção Social"; "Violência Baseada no Género (VBG) & Direitos Humanos"; "Paternidade e cuidado" e "Novas Formas de Masculinidade".
Segundo o Censo Prisional (2018), os riscos associados aos comportamentos derivados da masculinidade tóxica fazem com que nas cadeias cabo-verdianas das 1567 pessoas presas, 1521 sejam homens (97,1%) e 46, mulheres (2,9%). E este é só um exemplo de como essa mentalidade estereotipada prejudica os homens e toda a sociedade.