São Vicente : A aflição de um Dezembro a zeros

PorNuno Andrade Ferreira,5 dez 2020 8:00

Quartos e mesas vazios, carros na garagem. Hotelaria, restauração e rent-a-car de São Vicente enfrentam quadra atípica.

Tradicionalmente, Dezembro é mês de dinâmica económica. Além do comércio, o período das festas é sinónimo de movimento acrescido para restaurantes e unidades hoteleiras e de aumento de procura por vários outros serviços, como o rent-a-car. Este ano, porém, a pandemia baralhou as contas. Em 2020, os empresários não terão um balão de oxigénio que ajuda a equilibrar as contas.

A poucos dias do Natal, as lojas decoram as montras a pensar nos clientes que por lá deverão passar para as compras da época. Não se sabe ao certo como é que, para os comerciantes, decorrerá a quadra festiva. Para restaurantes, hóteis e rent a car, porém, o mês está perdido. Sem jantares de empresa, sem turistas e poucos emigrantes, não há reservas e não há esperança.

Alexandre Novais, proprietário do hotel Prassa 3, explica que a unidade está de portas fechadas desde Março. Talvez reabra dentro de dias, sem grande entusiasmo.

“Tínhamos pensado abrir a 1 de Novembro, mas depois vimos que, sem turismo, seria uma aposta muito complicada. Mas mesmo assim, nós queremos abrir as portas, em princípio, a 15 de Dezembro, para voltarmos a entrar no ritmo outra vez”, explica.

“Reservas, não temos. Temos tido é anulação de reservas que tinham ficado sem anular, do período anterior. Uma ou outra pessoa, com esperança de que poderia vir, mas que acabou por anular, também. Praticamente, a dinâmica do hotel é nula. Pode ser que, estando aberto, tenha alguma movimentação local”, espera.

A parte de restauração tem estado a funcionar, mas igualmente sem grandes expectativas.

“Sem turistas, muito dificilmente poderemos ter uma expectativa animadora. Mantemos o restaurante aberto, temos a nossa clientela local. Consideramos que este tipo de estabelecimento é um compromisso para com a cidade. Temos que fazer um esforço de o manter aberto. Não sabemos até quando conseguiremos fazê-lo. Quando o mundo abrir lá fora, alguma coisa chegará aqui”, deseja.

Em anos anteriores, e por esta altura, o MindelHotel, a poucos passos da Praça Nova e do Prassa 3, estaria com o mês garantido, com uma taxa de ocupação próxima dos 100%. Eliane Almeida diz que o movimento tem sido muito reduzido.

“Estamos com expectativa de que agora, nessa época festiva, as coisas melhorem. Esperamos poder vir a ter, nem que seja, metade das pessoas que normalmente costumamos ter no mês de Dezembro. Costumamos estar quase cheios. Não temos tido muitas reservas, mas estamos com esperança”, desabafa.

No serviço de restauração, a situação é um pouco diferente, com uma boa procura pelo delivery.

“Temos tido muitos pedidos ao domicílio e, mesmo no local, a procura tem sido razoável”, confirma.

Entregas ao domicílio ou take away fazem agora parte da estratégia da maioria dos restaurantes. As medidas, pensadas como resposta à menor procura e às regras de controlo da pandemia, são alternativas na luta pela sobrevivência. Insuficientes, porém, para compensar as salas vazias numa altura em que, normalmente, estariam cheias.

Auxília Delgado, proprietária do restaurante Grills, não esconde o pessimismo.

“Não há nenhuma expectativa. Os casos estão a aumentar em SãoVicente e, obviamente, as pessoas não vão para o restaurante. Habitualmente, estaríamos cheios até fim de Dezembro. Costumamos recusar reservas. Neste momento, temos zero reservas”, lamenta.

Flávia Alves, da residencial e restaurante Sodade, confirma a tendência.

“No ano passado, já estávamos com 50% de reservas para o mês de Dezembro. Neste momento, não estamos com quase nada”, afirma.

Carros na garagem

Também nos serviços de rent-a-car a desilusão é grande. A Turiscar prevê que o negócio de aluguer de viaturas continue como tem estado desde Março: inexistente.

“A nossa expectativa está a zero. A realidade é esta. Não tenho nenhuma reserva para o mês de Dezembro. Normalmente, nós trabalhamos com emigrantes e com turistas, mas não se vislumbra qualquer abertura nesse sentido. De facto, o mês de Dezembro é um mês de algum movimento. Às vezes, ficamos sem carros, mas para o resto deste ano, e até para o início de 2021, vamos ter que gerir muito bem, para poder manter a empresa”, comenta Jorge Pires, quadro da Turiscar, no Mindelo.

A venda de viaturas é que tem impedido uma situação mais complicada.

“Para além do rent-a-car, a Turiscar também comercializa viaturas. Comercializamos duas marcas e isso é que nos tem salvo”, sublinha.

No início de Novembro, o Banco de Cabo Verde admitiu que a recessão esperada para 2020, causada pela pandemia de covid-19 será mais profunda do que inicialmente estimado, com o PIB a recuar na casa dos 11%.

Em todo o mundo, e até esta terça-feira, estavam confirmados 63,8 milhões de casos de infecção por SARS-CoV-2. Desde 19 de Março, Cabo Verde já efectuou mais de 10,7 mil diagnósticos positivos para o novo coronavírus.

*com Fretson Rocha

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 992 de 2 de Dezembro de 2020. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,5 dez 2020 8:00

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  8 set 2021 23:21

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