Imadoeno Cabral – PCA do Hospital Agostinho Neto: O HAN para além da covid

PorSara Almeida,23 jan 2021 7:21

A covid-19 voltou todas as atenções para si e colocou as estruturas hospitalares a funcionar a dois ritmos. Mas há vários investimentos e novos serviços que estão a ser implementados em outras “áreas” da saúde. Estão previstas, por exemplo, quatro inaugurações no Hospital Agostinho Neto e várias mudanças na oferta desta estrutura hospitalar, que estão em curso. Imadoeno Cabral, PCA do HAN, fala dos desafios da covid, mas também, essencialmente, destas apostas e mudanças do maior hospital de Cabo Verde.

Durante cerca de nove anos, Imadoeno Cabral esteve na administração do Hospital Regional Santa Rita Vieira (HRSRV), em Santa Catarina, “um hospital de média complexidade”. Há pouco mais de três meses, a 6 de Outubro, tomou posse como Presidente do Conselho de Administração do maior hospital do país, o Hospital Agostinho Neto (HAN). Uma estrutura que para além dos milhares de pacientes, é também uma das maiores “empresas” do país, em termos de Recursos Humanos, com cerca de 900 trabalhadores directos.

Gerir o HAN é pois, “um desafio muito grande, mas trabalha-se com base nos princípios de governança, tentando fazer uma gestão com base no perfil das pessoas”, diz, em conversa com o Expresso das Ilhas.

Mobilizar os funcionários, todos eles, é uma prioridade. Gerir com base nos objectivos, outra. E ter uma equipa capacitada e chefias, “sobretudo os directores de serviço”, alinhadas com os princípios da gestão de topo, um propósito.

Olhando para estes três meses, o balanço de gestão [dos RH] é, entretanto, positivo. O “índice de satisfação aumentou consideravelmente”, diz, com base nas conversas que tem tido, anonimamente (“faço visitas. Normalmente as pessoas não me conhecem, aproveito esta oportunidade para falar”) com os pacientes e funcionários. “Tento fazer uma gestão de proximidade”, garante.

Mas nem só dessa gestão vive o hospital. É preciso investimentos e serviços.

“Fizemos um investimento forte e temos 4 serviços para inaugurar já no próximo final de semana, em menos de 3 meses de gestão”.

Estão previstas a inauguração da “primeira unidade de gastroenterologia do país; a remodelação da sala de estar do banco de urgência e uma nova plataforma para gerir o tempo [de espera] das pessoas; a inauguração do serviço de imagiologia e do laboratório de analises clínicas”.

Inaugurações, mas não só. Há muito a acontecer no HAN para além da luta contra a covid.

Unidade de gastroenterologia

Um investimento importante é a unidade de gastroenterologia, a primeira no país, cuja inauguração está prevista para esta sexta-feira, 22.

Actualmente, há um elevado número de pacientes que é evacuado devido a doenças do foro digestivo, inclusive para fazer biopsias no exterior.

“Acreditamos que será uma grande mais valia para reduzir a evacuação, sobretudo nesta fase em que os países têm uma pressão também a nível da estruturas de saúde. Queremos fazer o investimento cá, para responder às necessidades actuais do Hospital dr Agostinho Neto”, diz o PCA.

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Outra inauguração prevista é a sala de espera no serviço de urgência de adultos, que há muito precisava de uma intervenção. A esse “arranjo” junta-se uma nova forma de gerir/conhecer o tempo de espera.

Entretanto, o que o país ainda não tem é uma Unidade de Cuidados Intensivos. Há uma unidade de cuidados especiais, mas, na opinião de Imadoeno Cabral seria importante ter, de facto, uma UCI “sobretudo para que os doentes muito críticos, que normalmente são evacuados para o exterior, possam ter seguimento em Cabo Verde”.

Já está projectado um serviço com 6 a 8 leitos, que será garantido por profissionais nacionais. “Mas haverá também um acordo com países da UE para disponibilizarem recursos humanos para virem dar seguimento aos pacientes e treinar os profissionais de saúde”, avança.

HAN (finalmente) com TAC

A COVID tem sido a protagonista da saúde desde há quase um ano o que tem levantado, um pouco por todo o mundo questões em relação à eventual falta de investimento no combate e tratamento a outras doenças. Questionado sobre esta questão, tendo em conta, por exemplo a falta de um TAC no HAN, além de outros equipamentos importantes, Imadoeno Cabral garante que a sua gestão não se centra na COVID.

“Já havia um plano, uma directiva. Entrei já com um plano de trabalho específico para responder às necessidades da retoma pós-covid, e tivemos que investir fortemente em meios de diagnóstico”, conta.

Neste momento, conforme avança, “o equipamento de tomografia [TAC] já se encontra no hospital”, sendo que se está na “fase da instalação e formação da equipa técnica”.

Desde há bastante tempo que o HAN não tinha um aparelho TAC, mas garante o PCA, “nunca nenhum paciente deixou de fazer qualquer exame”. Em caso de necessidade, e com comparticipação do INPS, esses pacientes realizavam os exames no sector privado.

Um outro aparelho que deverá chegar ao HAN em breve - de princípio em Fevereiro - é um novo mamógrafo, para reforçar a resposta a este nível (o HAN tem neste momento apenas um).

Novo laboratório

Além do TAC há outros investimentos feitos, com destaque para os novos equipamentos de análises clínicas, sobretudo para a área de hematologia.

“Vamos ter um novo laboratório de análises clínicas tendo em conta a sua particularidade, e a sua importância a nível da prestação de cuidados”.

Anualmente, o HAN realiza mais de 500 mil exames laboratoriais usando para tal “equipamento projectado já há 18 anos”.

Os novos equipamentos já estão a ser instalados e irão triplicar a capacidade de resposta.

“Acreditamos que o hospital, já no próximo mês de Março, vai ser um hospital diferente nesta matéria”, diz.

Entretanto, aos investimentos já referidos, juntam-se novos sistemas informáticos que vão facilitar a vida, por exemplo, das pessoas com covid. Evita-se assim a aglomeração de pessoas, e será já disponibilizado o “sistema de gestão do laboratório que vai permitir aos pacientes ter acesso ao agendamento via telefone e também via portal” que “vai ser inaugurado, juntamente com o nosso serviço”. Está previsto que isto ocorra ainda este mês, conta.

Os novos sistemas informáticos vão permitir também aos profissionais de saúde, sobretudo aos médicos especialistas “acompanhar a evolução do estado do exame do paciente”.

Pacemaker em Fevereiro

“As áreas em que nós estamos a prever fazer um investimento com maior enfase são áreas cirúrgicas”, revela ainda.

Na área de cardiologia, por exemplo, Fevereiro deverá ser um mês marcante.

“Estamos a prever fazer a nossa primeira intervenção cirúrgica com a implantação do Pacemaker. Será um grande investimento.”

Também a área de ortotraumatologia irá ver reforçada a capacidade instalada, com mais equipamentos para intervenções cirúrgicas, bem como a área de oftalmologia.

“São áreas que nós queremos investir, na cirurgia especificamente”. Isto, a par de outras medidas no sentido de diminuir a mortalidade geral e também as evacuações.

Todos estes investimentos vêm garantir que o HAN tenha condições para funcionar melhor.

“O hospital de referência do país exigia este investimento”, resume o PCA.

SAGU e outras medidas “facilitadoras”

Para facilitar o acesso aos seus serviços, o HAN tem também promovido várias medidas. Novos sistemas informáticos relativos aos exames serão postos em uso, como referido, mas há mais e muito já foi inclusive feito.

No âmbito do projecto da modernização administrativa, dos Serviços de Atendimento, em Julho passado, ainda sob a liderança do anterior PCA, Júlio Andrade, foi inaugurado o Serviço de Admissão e Gestão de Utentes (SAGU), em parceria com a Casa do Cidadão. Trata-se de um serviço que reduz as “idas e vindas” às estruturas da saúde, permitindo o agendamento de consultas, e exames “quer via telefone, quer a nível presencial”, e também a recepção de resultados usando as novas tecnologias.

Nas palavras de Imadoeno Cabral, “é um serviço mais próximo das pessoas e que também tem uma outra facilidade que é a integração com outros serviços”, como as Casa do Cidadão, e que permite agendamento de consultas e exames num único local/meio. E é “um serviço mais vocacionado para o utente, não só para o doente”, explica.

Em curso, entretanto, está a operacionalização a nível do HAN da linha verde, 8002008.

“Neste momento está em processo de desenvolvimento. Com a pandemia teve um recuo, mas é um serviço que foi criado”. Através dessa linha, pretende-se, o utente “pode ter acesso aos serviços hospitalares, fazer os agendamentos” através deste contacto universal.

“Neste momento o hospital regional Santa Rita Vieira já tem disponível esta linha e o HAN seria na 2ª fase, acreditamos que será privilegiado ainda este ano”, avança.

HAN, hospital Universitário

Além dos investimentos, ainda este mês o HAN terá um novo estatuto.

“O hospital vai passar a ser um hospital universitário de referência a nível do país”, destaca Imadoeno Cabral.

Neste momento já estão a receber os alunos que terminaram a licenciatura em medicina. “Estão a fazer estágio de integração aqui no HAN e acreditamos que isso será um grande passo até para projectar o hospital a nível da sua competência, em termos de capacidade dos médicos”.

Para além desta novidade, o novo estatuto irá possibilitar um regulamento interno diferente, incluindo um novo horário.

“Neste momento estamos a funcionar normalmente das 8 às 16h, mas com o novo estatuto, o hospital vai ter um atendimento normal das 6h da manhã, até às 22h da noite”.

E por fim, entre várias iniciativas e investimentos, destacados nesta conversa, o PCA do HAN refere a Unidade de saúde ocupacional, cuja criação está prevista ainda para o 1.º trimestre do ano, destinada aos profissionais do HAN.

“As pessoas querem ter um espaço específico para também receberem cuidados de saúde. Por vezes pensamos mais no utente e os profissionais de saúde ficam com problemas, e às vezes, quando notamos, esse problema está já numa fase mais avançada.

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COVID-19

Tudo isto ocorre num momento em que a pandemia ainda retém a atenção de todos e os seus efeitos a tudo afectam. A saúde, claro, é um sector fortemente afectado.

Em geral, conforme avalia Imadoeno Cabral, a pandemia criou “algum ambiente de desconforto a nível das estruturas de saúde, sobretudo atenção hospitalar”.

Os hospitais dividiram-se em dois ritmos. Um, de resposta aos doentes infectados pelo SARS- CoV-2, e outro para os restantes pacientes, ou seja, a dinâmica ‘normal’ do hospital.

“As estruturas de saúde não estavam preparadas nem a nível de infra-estrutura física, nem em termos de equipamentos, nem em termos de recursos humanos”, recorda.

Imadoeno Cabral assumiu as suas funções no HAN em Outubro, numa altura de pico de casos de infecção por SARS-CoV-2 se acumulavam e a capital era o principal foco da doença provocada por esse coronavírus.

“Tivemos de reforçar as medidas sobretudo na questão de equipamentos e também na organização, em termos da equipa técnica para poder dar resposta”. Mas pouco depois, a situação começou a melhorar. “Neste momento a situação está muito controlada”, diz, “o hospital está a responder e esta muito mais tranquilo”.

Neste momento, avança ainda o PCA, está-se já numa “fase da retoma”, com um esforço adicional para responder a todas as situações além covid.

Contudo, e apesar da situação controlada, “estamos conscientes de que poderá haver a segunda vaga e estamos organizados para, em caso de eventualidade, dar resposta”, garante.

O HAN continua com 13 quartos destinados aos doentes de covid, e conta com quatro ventiladores para estes pacientes. No hospital há ainda cinco ventiladores distribuídos por outros serviços, e mais “quatro de reserva para usar em caso de necessidade”, contabiliza. Até agora, garante, não houve essa necessidade.

Há, entretanto, um outro dado positivo. A nível de recursos humanos, não tem havido ‘baixas’. “Desde que cheguei cá, praticamente não tivemos registo de incidência de profissionais infectados”, congratula-se.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 999 de 20 de Janeiro de 2021.

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Autoria:Sara Almeida,23 jan 2021 7:21

Editado porSara Almeida  em  21 out 2021 23:21

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