Ao Expresso das Ilhas, a fisioterapeuta Patrícia Camões, também sócia-gerente da clínica de fisioterapia Vitallity Fisio, explica que o pilates é um método universal de exercícios que foi criado pelo seu mentor Joseph Pilates, de origem alemã, que fundou o seu primeiro estúdio em Nova Iorque.
“A razão por ter criado este método foi que ele era uma criança muito debilitada com asma, febre reumática e, desde cedo, começou a notar que sentia menos as consequências se praticasse atividades físicas”, conta.
Patrícia Camões segue narrando que, por influência do pai, que era malabarista, Pilates sempre se interessou pelo movimento humano. Daí, ter começado a estudar anatomia e biologia e a perceber ainda mais que o corpo humano quanto mais activo, menos doente fica.
“Com isso, Pilates interessou-se pelo desporto, tornou-se boxeador em Londres, mas depois da primeira Guerra Mundial, por ser alemão, foi preso num campo de concentração e foi ali que começou a colocar em prática tudo que tinha estudado de biologia e anatomia nas pessoas que estavam presos com ele”, acrescenta.
Lá, refere esta fisioterapeuta, Joseph Pilates viu que os reclusos, ou não adoeciam ou, simplesmente, recuperavam-se mais rapidamente.
“Quando a guerra terminou, por estar insatisfeito com a situação na Europa, emigrou para os EUA onde, em 1920, em Nova Iorque, criou o primeiro estúdio”.
Método universal e vantajoso
Patrícia Camões realça que o pilates é um método universal pela sua característica reabilitadora. Tanto é, explica, que mesmo depois da morte do seu fundador, em 1967, o legado continuou, tendo a prática ganhado cada vez mais adeptos, desde atletas de alta competição, idosos, crianças, pessoas com patologias graves de coluna, de joelhos, dentre outros.
“As vantagens são inúmeras. Com o pilates conseguimos, além de fortalecer a musculatura de uma forma global de todo o corpo, também ganhar alongamento, flexibilidade, lubrificar as articulações”, defende.
“Um ponto muito positivo é que por o pilates ser uma prática sem impacto, protege as articulações, então mesmo que seja uma pessoa muito acometida, por exemplo, com patologias reumáticas, pode praticá-lo dado que não tem nenhum impacto dependendo dos exercícios aplicados ao paciente. Além disso, o corpo humano, estando activo, consegue melhorar o sono, ter um sono mais profundo, o humor, ganhar fortalecimento e alongamento”, acrescenta.
Em Cabo Verde
Esta fisioterapeuta revela que a clínica da qual é sócia não foi a primeira a oferecer o método em Cabo Verde. Pois, antes já havia outras. Mas, desde 2015 quando iniciaram em Mindelo, garante, a procura tem sido satisfatória, facto que levou ao aumento de turmas e até à abertura de uma nova filial, na cidade da Praia.
“Fiz o curso de pilates solo em Madrid, iniciei com a clínica em São Vicente. Depois, com o sucesso dos exercícios e da prática, adquirimos as máquinas para São Vicente e decidimos abrir em 2020 uma filial da clínica na Praia, tendo ficado com dois estúdios de pilates”, prossegue.
Patrícia Camões afirma ainda que decidiram oferecer aulas de pilates pelo conhecimento que a própria adquiriu aquando da realização do seu primeiro curso da modalidade. Diz que descobriu todo esse mundo que o pilates leva as pessoas a conhecerem e, como fisioterapeuta, interessou-se mais ainda porque, diz, viu que era um método que, além de proporcionar bem-estar físico aos clientes, podia usá-lo como uma ferramenta.
“Vi realmente na prática que os efeitos eram adquiridos rapidamente pelos praticantes. Também vi que havia a necessidade de haver mais espaços que oferecessem o pilates porque em Cabo Verde ainda há um caminho longo a percorrer”, continua, frisando que, mesmo assim, há cada vez mais pessoas à procura do pilates.
Já lá fora, afirma Patrícia, o método é conhecido desde que Joseph Pilates o criou em Nova Iorque. Em Cabo Verde, reforça, é recente, mas cada vez mais, devido às redes sociais e testemunhos de pessoas que já começaram a praticá-lo, o pilates tem ganho um número significativo de adeptos.
“As pessoas vêem um praticante nas ruas e notam logo a diferença na postura corporal, no bem-estar de uma forma física, então foi isso que acabou por levar a maioria das pessoas também a procurar o pilates, a princípio algumas por curiosidade, acabando por experimentar depois, gostam e continuam. Nós temos alunas que já têm os mesmos anos da clínica, ou seja, cinco anos”, revela.
Os pacientes são atletas, pessoas com alguma patologia, pessoas que apenas querem garantir o seu bem-estar físico, dentre outros. Esta fisioterapeuta conta que a clínica tem uma aluna veterana de 79 anos de idade.
“As pessoas vêem as vantagens que o pilates tem no bem-estar físico e na melhora do estado emocional, principalmente nesta fase em que vivemos de isolamento devido à pandemia, de distanciamento social... É uma boa ideia para tentar combater esta clausura em que vivemos e que acaba por afectar o nosso estado emocional”, defende a entrevistada, acrescentando que a procura aumentou depois do fim do estado de emergência, o que, de certa forma, ajudou a clínica a se lançar melhor no mercado.
O diferencial
Patrícia Camões afirma que muitas pessoas acham que o pilates é um método de exercícios fáceis, que não têm muito resultado. Isto porque estão acostumadas somente à prática de outros exercícios. Mas, explica, Pilates, seu mentor, inspirou-se em outras práticas desportivas, assim como na medicina tradicional chinesa, pelo que muitos exercícios são aqueles que as pessoas já estão acostumadas a realizar.
“A diferença é que no pilates colocamos na postura correcta, ensinamos a respiração correcta. E quem o prática vê que realmente não é um exercício tão fácil, as pessoas veem que o pilates é um mundo muito maior e acabam por se apaixonar por esta prática”, argumenta.
Antes de iniciar a prática, explica Patrícia, faz-se sempre uma avaliação ao paciente ou ao aluno. Pois, relata, cada um tem o seu objectivo e, por isso, cada um tem o seu plano de treino, o seu objectivo a alcançar e da mesma forma, cada pessoa tem as suas limitações. Depois de seis meses repete a avaliação para se fazer o ponto da situação.
“Assim, cada treino é individual e personalizado. Há quatro máquinas criadas por Joseph Pilates: Cadillac, Reformer, Chair e Barrel. Ainda no nosso estúdio na Praia, por ter uma área um pouco maior, também mantemos e preservamos alguns exercícios originais de solo”, completa.
A finalidade de cada aparelho, explica, é baseada na ideia do mentor, assente em princípios básicos do pilates que são concentração, centralização, precisão, respiração, controle e fluidez. Todos, conta, trabalham, de uma forma global, todos os músculos superiores, inferiores, abdómen, lombar, glúteos, ou seja, um fortalecimento generalizado.
“Se um aluno é mais debilitado, se não consegue realizar um exercício de forma sentada ou de pé, fortalecemos o mesmo músculo numa posição que melhor o favoreça. Cada aula, o instrutor, que neste caso é o fisioterapeuta, prepara-a consoante o objectivo de cada aluno”, complementa.
Devido à situação actual de pandemia, informa Patrícia, em cada aula o aluno realiza um treino somente numa máquina, isto como forma de precaução devido à COVID-19. Depois dos treinos, as máquinas passam por um processo de desinfecção.
Patrícia diz ainda que a melhor forma de conhecer o pilates é solicitando uma aula experimental.
“É um exercício que é seguro pelo pouco impacto nas articulações, não é um exercício monótono. Muitas vezes as pessoas acham que é monótono e não procuram o pilates, é bem divertido e o efeito é imediato. Mesmo Joseph Pilates dizia que em 10 dias o praticante nota a diferença, em 20 dias o corpo começa a mudar e em 30 dias as pessoas perguntam ao praticante o que está a fazer e o porquê desta diferença”, finaliza.
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Testemunhos
A jogadora de basquetebol, Ailine Pires, conta que descobriu o pilates por causa da Patrícia, que conhece desde criança.
“Ela disse-me que ia abrir uma classe de pilates na Praia. Eu conhecia o básico do pilates, o que eu via ser praticado nos ginásios, quando abriu cá passei a conhecer melhor. Decidi praticar mais por causa da Patrícia e depois descobri que há inúmeras vantagens não só para mim como atleta, já que me ajuda muito com a respiração e o basquetebol é um jogo muito intenso”, relata.
Esta atleta acrescenta ainda que o pilates tem-na ajudado muito com a sua postura corporal, contribuindo assim para a prevenção e a recuperação de lesões.
“Comecei a fazer pilates logo que abriu, há cerca de 6 ou 7 meses. Noto a diferença no corpo na hora de vestir, o corpo está mais definido já que trabalha músculos diferentes dos que normalmente são trabalhados nos ginásios. O corpo apresenta muitas diferenças. O pilates e o basquetebol são complementares, nota-se logo que o pilates complementa o treino, já que são exercícios que não são praticados nem nos ginásios nem no basquetebol. O que ajuda a ter um melhor rendimento no jogo”, conta.
Ailine Pires diz ainda que antes pensava que o pilates era fácil. Mas, agora diz que é “complicado” e “puxado”. Apesar disso, vê vantagens e até pensa em levar mais atletas para essa modalidade.
Há tempos os atletas da selecção masculina de basquetebol tiveram uma aula experimental e agora dizem que querem passar a fazer sempre”, relembra.
Já a electricista, Oio Candé, conta que conheceu o pilates através da sua mãe e da irmã.
“Primeiro a minha irmã começou a fazer, depois a minha mãe e quando vi que eu tinha muito tempo disponível comecei a fazer também. Além disso, por ser bom para a minha saúde fazer algum tipo de exercício físico, resolvi inscrever-me. Senti muita diferença no meu corpo. Eu não engordava, por mais que comesse. Mas, depois de fazer pilates, os meus músculos estão melhor do que antes. Estou a pesar mais, mas não estou inchada, tudo é massa muscular. Por enquanto pretendo continuar por muito tempo com pilates”, frisa.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1001 de 3 de Fevereiro de 2021.