Ministério da Educação e directores esperam um ano lectivo normal

PorSheilla Ribeiro,13 set 2021 8:26

Há um ano, o Ministério da Educação (ME) antevia um ano lectivo atípico devido à pandemia da COVID-19. No passado dia 1 de Setembro arrancaram as actividades lectivas para 2021/2022, com a formação dos professores, sendo que as aulas começam hoje. Serão presenciais e a tempo integral, como não acontece há dois anos.

A menos de uma semana do início das aulas, o processo de vacinação, a nível nacional, está avançado. Mais de 70% da população tem pelo menos uma dose de vacina, 21,8% está completamente vacinada e 64% dos professores e funcionários afectos às escolas estão imunizados.

Embora, segundo avançou o ministro da Saúde à Rádio Morabeza, a perspectiva de vacinação dos jovens abaixo dos 18 anos esteja prevista apenas para quando o país atingir 70% da população adulta completamente vacinada, o ME e as escolas estão expectantes num ano lectivo quase normal sem ensino a distância.

O agrupamento I de Santa Catarina de Santiago, que abarca 12 escolas daquele concelho, espera cerca de 5 mil alunos desde o 1º ao 12º ano. O director do agrupamento avança que há cerca de 15 dias foram atribuídos a cada escola sabonetes líquidos, álcool gel e materiais de limpeza para garantir a segurança sanitária dos professores e alunos.

Manuel do Rosário Tavares garante que, uma vez que as aulas vão decorrer em tempo integral, será feito o distanciamento social necessário, embora não seja possível um distanciamento de um metro. Isto porque as turmas estão quase todas cheias.

“Mas vamos sempre dar orientações para que os alunos evitem tocar uns nos outros. Também reduzimos o tempo dos intervalos que antes eram 10 minutos e passam a ser de cinco minutos”, indica.

Já o agrupamento I de São Filipe, na ilha do Fogo, também tem em curso a manutenção e o reforço das medidas de segurança sanitária nas suas quatro escolas, para receber um pouco mais de 2.100 alunos.

Ao Expresso das Ilhas, a directora daquele agrupamento, Joaquina Rodrigues, assegura que o uso das máscaras nos recintos escolares será obrigatório. Na entrada de cada escola haverá álcool gel, aparelho de medir temperatura e lavatórios para lavar as mãos.

Por sua vez, o director do agrupamento VI da Praia, José Augusto Fernandes, informa que são esperados cerca de 4 mil alunos, nas três escolas que dirige.

Uma vez que as aulas estão prestes a começar, precisa que no passado dia 6, os professores daquele agrupamento foram recebidos numa conversa aberta motivacional, relacionada com os desafios daqueles profissionais no retorno à normalidade das aulas face às ansiedades e fragilidades emocionais em termos de pandemia.

Quanto às medidas de sanitárias, José Augusto Fernandes sustenta que o agrupamento VI vai reforçar o mesmo plano de contingência do ano anterior.

“É continuar a ter espaços de higienização das mãos, álcool gel distribuídos em todos os lugares, arejamento dos espaços, evitar sempre a aglomeração dos alunos. Vamos reforçar as medidas de utilização de máscaras, evitar que os alunos saiam para o intervalo, aliás os intervalos serão de cinco minutos e aulas de cinquenta minutos”, enumerou.

Expectativas

A nível do agrupamento VI da Praia, segundo José Augusto Fernandes, 90% dos funcionários e professores estão vacinados e àqueles que se recusarem a vacinar serão exigidos, a cada 14 dias, testes PCR ou de antigénio com resultados negativos, para evitar o risco de propagação do vírus nas escolas. Assim, as expectativas para o ano lectivo que se inicia são boas, apesar das cautelas.

“Conforme o lema do ano lectivo, resiliência e confiança numa educação de qualidade. Significa que os professores vão ser o olho do combate da pandemia. Então, fazemos toda a questão em dar-lhes ferramentas indispensáveis para verem se podem combater os desafios de retornar à normalidade, sabendo que ainda convivemos com o vírus”, ressalta.

Conforme especifica, trata-se de dar aos professores ferramentas no sentido de não entrarem em pânico e evitar situações de medo, de forma a ter um ano lectivo com um clima de maior confiança.

Tendo em consideração que em 2019 não houve aulas durante o terceiro trimestre e que no ano passado as mesmas iniciaram-se, na cidade da Praia, no mês de Novembro com 50% de aulas presenciais, José Augusto Fernandes considera desafiante o regresso às aulas presenciais a 100%.

“Por isso, vamos gerir para que as aprendizagens que não foram cumpridas nos anos anteriores se cumpram e retomar, de acordo com o diagnóstico que será feito, sem que haja sobrecarga dos nossos professores”, salienta.

Também mais de 90% dos professores do agrupamento I de Santa Catarina de Santiago estão vacinados, de acordo com Manuel do Rosário Tavares. Desta feita, aqueles que já possuem o cartão de vacina ou certificado que comprove pelo menos uma dose de vacina, já têm disponíveis os seus respectivos horários.

“Com mais de 90% dos funcionários vacinados as expectativas para este ano lectivo são boas. Pensando que tivemos dois anos lectivos com muitas alterações, com muita atrapalhação, esperamos que este ano os conteúdos que ficaram para trás sejam recuperados”, expressa.

Para Manuel do Rosário Tavares “é normal” a sobrecarga dos professores devido aos conteúdos atrasados. Contudo, este responsável mostra-se confiante nos professores do seu agrupamento, tendo em conta que a maioria tem mais de 15 anos de experiência.

“No agrupamento I de Santa Catarina, acredito que os professores estão em condições de leccionarem sem correr com os conteúdos para que os alunos não fiquem prejudicados. Vamos simplesmente evitar a perda de tempo”, julga, completando que não houve muitos prejuízos de aprendizagem no ano anterior.

Joaquina Rodrigues alega que 98% dos professores que integram o agrupamento I de São Filipe estão vacinados e acredita que até o final desta semana estarão nos 100%.

“Há uma boa parte dos nossos alunos que estão vacinados. No entanto, a partir do dia 13, em parceria com a Delegacia de Saúde vamos abrir um espaço no Liceu, para que aqueles com idade igual ou superior a 18 anos possam ser vacinados”, profere.

Confiante nos efeitos positivos da vacinação, a directora tem boas expectativas para o novo ano lectivo, considerando que a probabilidade de retornar a normalidade “é grande”.

Os professores, diz, não ficarão sobrecarregados com o facto de terem de recuperar os conteúdos atrasados por estarem cientes da situação vivida no país.

“Vislumbrando a situação de pandemia mais amena, os professores estão todos preparados e não se vão sentir sobrecarregados. Muito pelo contrário, todos estão engajados e temos a noção de que perdemos muito tempo, os alunos ficaram um pouco prejudicados por causa das matérias, embora tenha sido feito de tudo, pelo menos para o essencial, com a cobertura do ensino a distância”, relata.

Isolamento das turmas com casos de COVID

Os directores dos agrupamentos de Santa Catarina de Santiago e de São Filipe concordam que deve ficar no passado a medida de isolamento de turmas inteiras, ou escolas perante um caso positivo de infecção.

“Acho que no caso de aparecimento de uma infecção, isso de fechar a escola ou turma deve ficar no passado. Se aparecer um caso, vamos tentar isolar aquele aluno ou professor, em sintonia com as autoridades sanitárias, vamos tomar as decisões que são as mais adequadas. Mas, para nós, fechar as escolas está fora de hipotese”, afirma o director do agrupamento I de Santa Catarina.

Por sua vez, Joaquina Rodrigues descreve que no passado ano lectivo, numa turma que fosse detectada com três casos consecutivos de COVID-19, era fechada por três dias.

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Contudo, prossegue, este ano a situação é diferente por confiar que já se aprendeu a lidar com a COVID-19. Aliás, frisa, não houve contágio nas escolas daquele agrupamento no ano lectivo passado, apesar de terem aparecido alguns casos que levaram à paralisação de escolas durante 10 dias.

“Mas, este ano, a situação é diferente e acredito que não teremos a mesma situação de antes. Convivendo com a COVID-19, conhecendo melhor a pandemia, acredito que não teremos a necessidade de fechar as turmas por causa dos casos. Vamos saber lidar com os eles de forma a proteger os outros”, considera.

No que diz respeito ao agrupamento VI da Praia, o director afiança que as escolas irão funcionar de acordo com o plano de orientações da Delegacia de Saúde do concelho.

“O importante é ter saúde, ter condições sanitárias criadas desde que não gere momentos de pânico. É normal que um aluno ou outro seja infectado e muitas vezes o foco de contaminação nem é a turma, pode ser comunitário. No caso do aluno estar de quarentena devido a alguns sintomas, evitando o contacto com outros colegas de turma, então vamos ver qual será o procedimento”, assegura.

DNE espera ano lectivo tranquilo e sereno

Ao Expresso das Ilhas, a directora nacional da Educação, Eleonora Sousa, declara que a Direcção Nacional está expectante com o início das aulas com carga horária completa e os alunos nas salas de aulas todos os dias da semana.

“Estamos muito expectantes e muitos esperançados de que vamos ter um ano muito mais tranquilo e sereno que o ano anterior. Numa primeira fase, porque já sabemos quais são as medidas para a prevenção contra a COVID-19. É a vacinação e continuar as regras de higienização e distanciamento social”, assevera.

Eleonora Sousa acredita que ainda não há 100% dos professores vacinados, porque muitos estavam de férias. Entretanto, revela que a DNE vai partir para a sensibilização por forma a atingir esta percentagem ou pelo menos uma maior percentagem do que a conseguida até esta data.

“Estas são, portanto, as medidas adicionais às medidas implementadas no ano passado, relativamente à higienização e à utilização das máscaras. São as orientações do Ministério da Saúde que nós tentamos cumprir na íntegra”, destaca.

À semelhança do ano passado, Eleonora Sousa garante que a DNE vai trabalhar em estreita articulação com o Ministério da Saúde, visando dar as respostas mais assertivas no caso de surgimento de casos de COVID-19 nas escolas.

“Mas, tranquilizamos os pais, a comunidade de uma maneira geral, que vamos estar muito atentos e a trabalhar de forma articulada com o Ministério da Saúde para darmos as respostas mais efectivas no caso de surgimento de casos de COVID-19 nas escolas”, realça.

Recuperar conteúdos e revisão curricular

Eleonora Sousa declara que no caderno de orientações enviadas a todas as escolas, consta que nas duas primeiras semanas os professores apliquem um diagnóstico que servirá para conhecer o nível do conhecimento dos alunos ou as perdas relativamente aos conteúdos pedagógicos.

Na sequência desse diagnóstico, os professores irão elaborar um plano de recuperação das aprendizagens para as suas turmas. Deste modo, poderão avançar com conteúdos que servirão de base para que os alunos possam acompanhar os conteúdos do ano que estão a frequentar.

“Tudo isso no sentido de nivelar as turmas antes de partir para a introdução de novos conteúdos, cientes de que vão ter sempre que recorrer ou dar conteúdos que não foram trabalhados”, observa.

Segundo a DNE, não haverá a sobrecarga dos professores uma vez que estes vão trabalhar no horário normal. Por esta razão, não serão recrutados novos docentes.

No que diz respeito à revisão curricular, a responsável afirma que não haverá alterações no Ensino Básico.

“Estamos a finalizar a reforma do Ensino Básico. Este ano entram mais dois manuais no âmbito da revisão curricular, o manual da Língua Portuguesa e o manual de Matemática do 8º ano que contamos ter nos postos de venda a partir de meados de Outubro”, frisa.

Contudo, prossegue, vai-se avançar com a revisão curricular no Ensino Secundário. “Este ano vamos iniciar com novos programas no 9º ano e assim sucessivamente. Vamos iniciar a revisão curricular no ensino secundário”, disse. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1032 de 8 de Setembro de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,13 set 2021 8:26

Editado porAndre Amaral  em  20 jun 2022 23:21

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