A preocupação foi colocada por Manuel Fortes Almeida, que também é docente da área de máquinas marítimas e gestor do sistema de qualidade, diretamente ao Presidente da República e ao ministro do Mar demissionário, Paulo Veiga, no âmbito de uma visita efectuada, esta segunda-feira, 15, à instituição.
Em entrevista à Rádio Morabeza, o responsável esclarece que está a falar de docentes específicos que, para ministrar aulas nesses cursos, devem ter um back ground marítimo, que se consegue através dos oficiais da marinha mercante. Mas as condições actuais em terra não são atrativas.
“Muito difícil vamos conseguir tê-los aqui com o salário que neste momento é praticado em terra, o que não incentiva os oficiais da marinha mercante, tanto de ponte como de máquina, deixarem o mar e dedicarem à docência. Eu diria que neste momento estamos com cerca de três docentes na área de navegação e apenas dois na área de máquinas marítimas. Desses cinco que referi, praticamente três já estão na idade de reforma, o que quer dizer que é urgente darmos atenção a essa questão. Já tivemos muito mais no passado e estamos à procura de docentes que nos possam substituir”, explica.
Para a contratação de docentes para as áreas de navegação e máquinas marítimas, Manuel Fortes Almeida, que está no sector há 34 anos, defende a criação de um estatuto da carreira docente específico.
“Lembro-me perfeitamente que, na altura, viemos para a instituição com o dobro do salário praticado em terra na época. Foi a única forma de nos atraírem para terra. Para além disso, houve um investimento em nós no sentido de nos enviar para instituições internacionais para fazermos um ou dois anos de formação para que, de facto, pudéssemos garantir a formação marítima até essa data. É isso que penso que tem que ser feito”, defende.
A mesma fonte considera mesmo necessário “uma certa revisão” dos estatutos que criou a Universidade Técnica do Atlântico (UTA) para integrar, novamente, os cursos marítimos no actual ISECMAR.
“Os cursos marítimos antes ministrados na anterior instituição não foram contemplados no novo estatuto que criou a UTA. Penso que a nível interno e a nível do Governo devem estar a trabalhar um processo de, talvez, resolver essa questão que é extremamente importante, porque o aspecto legal e institucional é indispensável para que os cursos também possam ser reconhecidos. Ou seja, internacionalmente eles querem saber qual é a instituição que, efectivamente, continua a dar essas formações. E neste momento paira uma certa incógnita”, aponta.
O director do Departamento dos Transportes Marítimos do ISECMAR realça que a instituição é a única no país, que desde 1984 ministra cursos de certificação marítima reconhecidos internacionalmente e responsável para que os marítimos cabo-verdianos, que trabalham dentro e fora do país, mantenham os seus postos de trabalho. Isto tendo em conta que os profissionais devem regressar de cinco em cinco anos à instituição para revalidar os seus certificados junto da administração marítima.
“Isso quer dizer que para garantirmos e continuar a manter isso teríamos que ter pessoal docente qualificado, mais recursos humanos, mais investimento em termos das instalações, de simuladores e uma maior sensibilidade para essa questão que é crucial”, realça.
Manuel Fortes Almeida destaca o facto de Cabo Verde estar na Lista Branca da Organização Marítima Internacional (IMO), e para que isso seja mantido considera fundamental dar atenção a área de formação marítima, em específico a certificação marítima.