A ilha do Fogo, sobretudo a localidade de Monte Grande, é produtora de um queijo de cabra bem conhecido e muito procurado mesmo fora da ilha devido às suas peculiaridades, mas encontra-se no mercado indiscriminadamente tanto o queijo bom, produzido com mais cuidado, como o queijo mau confeccionado sem os necessários critérios de bom fabrico, respeitando as boas regras tradicionais de produção.
A primeira edição da Festa do Queijo arrancou esta terça-feira, 24, com uma oficina formativa e troca de experiência sobre o fabrico de queijo e decorrerá até o dia 29 com a realização do concurso “Melhor Queijo de Monte Grande” restrito aos produtores locais.
Segundo a Inforpress, a oficina conta com a participação do criador e fabricante do Planalto Norte, Santo Antão, Ramídio Ramos Cruz que vai acompanhar durante dois dias os criadores e produtores no processo de fabrico de queijo com leite cru.
A mesma fonte acrescenta que se inscreveram na oficina menos de dez participantes, quase todos do sexo feminino. Já para o concurso “Melhor Queixo de Monte Grande” que se realiza no dia 29, inscreveram-se perto de duas dezenas de criadores.
“A inscrição já fechou, mas os concorrentes podem entregar o queijo até o dia 26”, diz Pedro Matos, ao lado de Leão Lopes, do Atelier Mar, um dos promotores do evento.
Aliás, como conta o professor universitário especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, a ideia para a criação da Festa do Queijo partiu de Leão Lopes durante uma visita a um amigo em Monte Grande.
“A ideia inicial era fazer um museu do queijo, mas a sugestão do Leão Lopes foi que não, que se devia começar com uma festa que incluísse a comunidade e se desenvolvesse para uma coisa maior. Então o Atelier Mar tem um papel fundamental: está organizando, está puxando boa parte das actividades da Festa do Queijo e surge como o principal organizador do evento em termos logísticos e também da articulação entre os parceiros”.
Objectivos da Festa
O primeiro objectivo da festa do queijo, cujos promotores esperam que ganhe uma envergadura maior nas próximas edições, é reunir a comunidade de Monte Grande em torno do desenvolvimento da localidade a partir do queijo, transformar e valorizar esse produto com vista a aumentar a qualidade de vida dos criadores de cabras e produtores de queijo da região.
O segundo objectivo, diz Pedro Matos, é oferecer uma complementação técnica para a produção de um queijo corado. Ou seja, introduzir a ideia da valorização do produto através do queijo curado.
“O objectivo final é isso: partilhar ideias e saberes em torno do sabor do queijo. Enquanto estivermos a degostar o queijo vamos discutindo novas ideias, novas formas, novos mercados, novos parceiros, da forma o mais informal possível, informal no sentido de não ser uma coisa que exclui a participação da comunidade que tem as suas práticas, a sua maneira de falar. Isso tudo será valorizado como uma componente cultural, antes de ser incluindo na questão gastronómica”.
Turismo gastronómico
Nesse sentido, outro grande objectivo da Festa do Queijo é a criação de um turismo local e tornar Monte Grande num potencial destino turístico gastronómico em que as pessoas quando visitarem os principais pontos turísticos da ilha do Fogo, passem também por Monte Grande para saborear um queijo. “Isso pode gerar uma renda aos jovens que estão lá. Então, se os jovens perceberem que esta actividade está aumentando a renda familiar e gerando outras economias a probabilidade de os jovens permanecerem neste sector é grande”, considera Pedro Matos.
Monte Grande
Monte Grande é uma pequena localidade que fica no Município de S. Filipe. A economia gira à volta da pequena agricultura local e da criação de cabras para a produção de leite para o consumo familiar e para a produção de queijo para o sustento da família. É uma localidade pacata, não tem muitas actividades, por isso a necessidade de dinamizar a comunidade a partir de actividades geradores de recursos económicos. Por outro, em termos de representatividade da população é uma das localidades com maior número de quadros formados.
“Em Monte Grande você chega rapidamente a uma casa e lá pode encontrar uma pessoa que já tem o ensino superior e está desempenhando altos cargos aqui nas ilhas ou no exterior. Todas as famílias de Monte Grande têm no mínimo uma pessoa com o ensino superior completo e desempenhando cargo importante: temos deputados; temos padres, já tivemos presidente; temos professores universitários; temos médicos, investigadores; e advogados”, realça Pedro Matos.