Projecto Tintaedes testa, em Tira-Chapéu, tinta que mata mosquitos da Dengue, Zika e Paludismo

PorSheilla Ribeiro,29 mai 2022 5:53

Moradias do bairro de Tira-Chapéu, cidade da Praia, foram escolhidas para um estudo que testa a eficácia de uma tinta com inseticida, criada na Espanha, que pode matar os mosquitos transmissores da Dengue, Zika e Paludismo.

Segundo a coordenadora nacional do projecto Tintaedes, Lara Gomez, a ideia é usar uma nova estratégia de controlo dos mosquitos. Daí, a utilização de tintas em que são colocadas nanopartículas inseticidas.

Com esta tecnologia, a tinta evita, durante dois anos, a permanência dos mosquitos dentro das casas.

“Com isso estamos a evitar problemas com doenças como Dengue, Zika ou Paludismo. A ideia foi seleccionar os bairros mais vulneráveis em relação a estas doenças, como Várzea e Tira-Chapéu, que já têm um histórico de problemas de doenças transmitidas por mosquitos”, avança.

O projecto visa pintar 300 casas, 150 em cada um. São casas devidamente identificadas e próximas umas das outras, para que a população possa sentir o efeito da eficácia deste método.

Lara Gomez avança que há 5.240 litros de tintas disponíveis e em cada bairro serão utilizados cerca de 2.600 litros.

O Tintaedes é levado a cabo por várias instituições, coordenado pela Universidade de Jean Piaget em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), a empresa Sita, uma empresa espanhola que vende as tintas, e as associações Black Panters, na Várzea, e Associação Unidos para o Desenvolvimento de Tira-Chapéu.

As tintas têm de ser utilizadas em paredes condicionadas. Por esta razão, para as casas que não estão em condições ou que têm problemas com reboco, o projecto conta com parceiros como a Cimpor e Carlos Veiga que ajudam com o material de construção necessário para rebocar as habitações.

Vantagens das tintas insecticidas

Este tipo de combate aos mosquitos tem várias vantagens em relação aos outros métodos, segundo Lara Gomez.

Por exemplo, ao contrário da pulverização das casas que afasta os mosquitos durante alguns meses, a tinta insecticida garante protecção durante dois anos.

“É um método mais respeitoso com o meio ambiente, porque estamos a pulverizar em massa, o que acaba matando outros organismos do ecossistema. Isso evita a resistência dos mosquitos ao insecticida, ou seja, a possibilidade de o mosquito resistir à inseticida diminui”, esclarece.

A coordenadora deste projecto afirma que gostaria de alargá-lo a outros bairros do país, entretanto, o financiamento “foi modesto” e suficiente apenas para a quantidade de tinta disponível.

“Achamos que indirectamente este projecto vai trazer um bom resultado para todos e esperamos depois que esta medida seja abraçada como uma estratégia de controlo no país junto com as outras actividades de controlo vectorial”, manifesta.

Por enquanto, Lara Gomez diz que a tinta insecticida está disponível apenas para o projecto Tintaedes, mas que a Sita tem a ideia de começar a introduzi-las no país.

Conforme garante, há dois anos que a tinta é testada em laboratório e, portanto, está comprovado que realmente mata mosquitos num efeito por contato, sem fazer mal aos moradores.

Em Tira-Chapéu cerca de 30 casas já se encontram pintadas e na segunda metade do mês de Junho será feita uma avaliação da eficácia da tinta.

“A ideia é elaborar um questionário aos moradores para ver se realmente sentiram alguma diferença e além de alguns ensaios com mosquitos vivos que vamos colocar nas paredes para observar que realmente morrem”, frisa.

O projecto Tintaedes é financiado pelo governo regional do arquipélago espanhol da Canárias, através da Fundação Canária para o Controlo das Enfermidades Tropicais (FUNCCET).

“Tintaedes está orçado num total de 47 mil euros e grande parte do montante foi gasto nas tintas e no transporte das mesmas para Cabo Verde, uma parte foi para a formação dada aos voluntários que aderiram e alguns gastos de logística”, informa.

Desafios na concretização do projecto

Em declarações ao Expresso das Ilhas, Nelson Mendes membro da Associação Unidos para o Desenvolvimento de Tira-Chapéu e responsável pelo projecto naquele bairro reporta que têm encontrado vários desafios.

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O primeiro desafio, segundo aponta, tem a ver com a disponibilidade dos voluntários. Inicialmente, conta, cerca de 20 jovens das várias associações da zona receberam uma formação na pintura, tendo em conta que a maioria não era pintor. Mas, neste momento apenas 11 estão a pintar as casas.

“Precisamos de mais jovens voluntários e os jovens para pintar querem algo em troca e este projecto não tem dinheiro. Dos que tomaram formação apenas 11 apareceram e há dias que aparecem apenas cinco para trabalhar. Se o bairro não abraçar o projecto não será possível concretiza-lo”, observa.

Neste sentido, Nelson Mendes realça que a associação pretende sensibilizar as famílias, para que pelo menos um elemento receba uma formação e possa ajudar na pintura da sua própria casa.

Um outro desafio apontado por este entrevistado, tem a ver com a falta de água e por vezes de comida para os voluntários.

“Às vezes pintamos durante o dia e muitas vezes falta água para fazer a tinta, para lavar os materiais e na hora do almoço se as pessoas oferecessem um prato de comida, poderíamos evitar a perda de tempo quando os pintores se deslocam para as suas casas para comer”, lamenta.

Referindo-se ainda à perda de tempo, Mendes salienta que mesmo com o aviso prévio, muitas vezes ao invés de começar a trabalhar às 08h00, começam depois das 10h00 porque os residentes estão a dormir, ou porque se esqueceram de desarrumar a casa.

Até agora, de 150 casas a serem pintadas, Mendes ressalva que apenas 60 foram identificadas.

Quanto ao critério da escolha das casas, Nelson Mendes relata que estão localizadas em áreas onde há muito o Ministério da Saúde instala armadilhas para os mosquitos, que posteriormente são estudados.

Contudo, a Associação Unidos para o Desenvolvimento de Tira-Chapéu deu uma atenção especial às residências de pessoas mais vulneráveis, “porque não tarda muito esta tinta estará disponível no mercado e aqueles que têm uma condição melhor poderão comprar. Não vamos marginalizar pessoas com melhores condições de vida, mas, é claro que o nosso foco são as pessoas mais vulneráveis”, assevera.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1069 de 25 de Maio de 2022. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,29 mai 2022 5:53

Editado porFretson Rocha  em  30 mai 2022 11:37

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