Ao Expresso das Ilhas, a presidente e fundadora da Humana, Claúdia Semedo, afirmou que a Fundação pretende abrir o Centro devido à existência de muitos doentes crónicos no país sem cuidados adequados. “São pessoas que podiam ter controlo sobre a doença. Em muitos países, muitos doentes com diabetes morrem num número bastante inferior ao que ocorre em Cabo Verde, onde ainda não existe um lugar específico para acolher os diabéticos”, argumentou.
Além das pessoas que têm diabetes, Cláudia Semedo refere que falta um lugar que possa acolher e fazer o seguimento de casos que não têm cura, por quem o Hospital já nada pode fazer.
“Porque o hospital actua na fase aguda, quando há situações de emergência ou urgência. Cuidados avançados e paliativos, a pessoa poderá fazer o seguimento depois de o hospital já ter feito o principal trabalho. Ou seja, [o médico] viu o que é que a pessoa tem, qual o seu problema, mas a pessoa precisa ser acompanhada e o hospital não pode ficar com o doente” pelo resto da sua vida, explica.
Assim, o Centro da Fundação Humana poderá acolher e acompanhar diabéticos, casos de hipertensão, doentes com cancro e outras doenças.
Cláudia Semedo explica que o Centro terá uma equipa formada por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros profissionais.
Financiamento e localização
Cláudia Semedo adianta que a Fundação Humana já submeteu o projecto do Centro à Fundação Calouste Gulbenkian, tendo já sido aprovada a primeira fase. A ideia é construir, do zero, um Centro na zona da Trindade, Praia, por ser um “lugar calmo”. Porém, o valor pedido pelo terreno escolhido pela fundação tem constituído um obstáculo para avançar com o financiamento, por ser “exagerado”.
“A ideia é construir o Centro na Trindade, mas ainda não temos nada concluído porque tivemos alguns obstáculos. Precisamos do terreno para poder avançar com o financiamento, mas o valor que estão a pedir é um bocado exagerado. Ainda estamos em negociações, porque vamos construir um Centro de raiz e, mesmo tendo financiamento, uma coisa de raiz, sobretudo algo hospitalar, requer muitos custos”, acrescentou.
Cláudia Semedo é, entretanto, de opinião de que quanto menos custos tiver, melhor será para o projecto que, inclusive, já tem projecto de arquitectura. Conforme revelou, só esta primeira fase está orçada em 195 milhões de escudos.
Neste momento, conta esta responsável, estão a recolher dados mais recentes, solicitados pela Fundação Calouste Gulbenkian, que mostram a incidência e a prevalência de doentes paliativos e doentes crónicos em Cabo Verde.
“Os dados que fornecemos eram de 2010, muito desactualizados. Estamos a fazer um estudo próprio para ter esses dados. Estamos a fazer recolha digital e alguns dos nossos membros vão ter de ir para o terreno, além de ver se conseguimos alguns dados do hospital.”
Os mentores da Humana querem, segundo Cláudia Semedo, que tanto o Ministério da Saúde, como o da Família e Inclusão Social, sejam seus parceiros, por considerarem que são duas áreas que têm de andar lado a lado.
Salários
Quanto ao pagamento dos profissionais, Cláudia Semedo informou pretender contar com financiadores para arcar com esta despesa, uma vez que, segundo ressaltou, os doentes pagarão de acordo com as suas condições.
“Se o Estado aceitar a parceria, poderá participar com algum valor. Somos uma organização não governamental, mas os profissionais e técnicos precisam ser remunerados”, acrescentou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1080 de 10 de Agosto de 2022.