A informação foi avançada ao Expresso das Ilhas pela médica especialista em neurologia e directora do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário Agostinho Neto, Albertina Lima, no âmbito do Dia Mundial do AVC, celebrado hoje.
“O AVC, também conhecido por trombose ou derrame, é uma doença dos vasos sanguíneos do cérebro. Segundo os dados do Ministério da Saúde, o AVC é a primeira causa de morte no nosso país. É responsável por cerca de 300 mortes por ano”, avançou.
Conforme salienta a especialista, trata-se de uma doença que pode ser prevenida e tratada. A prevenção, explica, consiste na adopção de hábitos de vida saudável desde a infância.
Por ser uma doença que pode ser prevenida, diz, os factores de risco são as causas do AVC.
“Um dos factores de risco é a hipertensão arterial. Um doente só pelo facto de ser hipertenso tem seis vezes mais chances de ter um AVC do que um doente que não é hipertenso. Diabetes, dislipidemia ou a gordura no sangue, a obesidade, falta de exercícios físicos, o tabagismo, o uso de álcool e outras drogas, problemas cardíacos como a arritmias, são responsáveis por cerca de 90% dos AVC”, indica.
Além de ser a principal causa de morte no país, Albertina Lima afirma que o AVC é também uma das principais causas da incapacidade.
“A sequela mais conhecida é a paralisia no lado do corpo, temos outros tipos de sequelas como dificuldade para falar, alterações visuais, perda da memória e depressão”, clarifica.
Tipos
Há, conforme explica, dois tipos de AVC. O isquémico, que ocorre quando há o bloqueio de uma artéria, impedindo que o sangue chegue até o cérebro e o hemorrágico, que ocorre quando há ruptura de um vaso intracraniano.
“O jovem, principalmente aquele que faz o uso exagerado de álcool e outras drogas têm AVC hemorrágico que é de maior gravidade. Ainda não temos dados estatísticos claros, mas sabemos que tem aumentado em jovens, doentes com menos de 50 anos”, refere.
Quanto ao AVC isquémico agudo, a especialista refere que novas terapêuticas surgiram para o tratamento.
É o caso da terapia trombolítica, actualmente disponível em Cabo Verde. Trata-se de um tratamento com um impacto altamente positivo.
“O doente chega ao hospital com uma paralisia num lado do corpo e pode sair sem sequelas ou com sequelas mínimas. Entretanto, para o efetivo sucesso deste tratamento, é necessário o rápido reconhecimento dos sinais e sintomas do AVC, ou seja, uma pessoa que apresenta, de repente, dificuldade em falar, boca ao lado e falta de força num braço, deve ser levado imediatamente ao serviço de urgência hospitalar, pois a trombólise só é eficaz até quatro horas e meia a partir do momento do AVC", especifica.
No que tange à recuperação, a especialista frisa que leva em média um ano, dependendo do caso. A reabilitação envolve não apenas a fisioterapia, mas também de terapia da fala e o apoio psicológico, já que muitos ficam com problemas de depressão e de esquecimento.
Durante o mês de Outubro, várias foram as atividades formativas desenvolvidas pelos médicos junto das principais estruturas de saúde de Santiago, mas também de outras ilhas por forma a partilhar conhecimentos, perceber as dificuldades locais e assim melhorar a abordagem geral do AVC.