Aldeias SOS apostam em aplicativo para denúncias

PorSheilla Ribeiro,6 nov 2022 8:00

As Aldeias SOS Cabo Verde projectam abrir, no próximo ano, as portas na ilha do Fogo e ali fazer “intervenções robustas”. A instituição também pretende ter disponível, ainda no primeiro trimestre de 2023, um aplicativo onde as crianças de todo o território nacional poderão denunciar toda e qualquer forma de violação dos seus direitos e maus-tratos.

As informações foram avançadas ao Expresso das Ilhas pelo director nacional das Aldeias SOS de Cabo Verde, Dionísio Pereira. Conforme informa, actualmente, as Aldeias SOS trabalham, apenas em Assomada com 91 crianças e 76 em São Domingos. 

“Isto considerando as casas familiares e crianças ou jovens que estão na Praia, Portugal ou em qualquer outro ponto recebendo subsídios nossos para formação profissional ou formação superior. Nós temos igualmente, ao nível de São Vicente, nos chamados programas de reforço às famílias, um total de 509”, diz. 

Segundo o director daquela ONG, o período de confinamento imposto pela pandemia da COVID-19, em que muitas empresas encerraram, causou muitos constrangimentos. Entretanto, frisa que apesar das dificuldades, a instituição pôde sempre contar com a solidariedade tanto a nível nacional, como internacional. Como exemplo, refere à colaboração das Aldeias SOS de Alemanha, que de imediato respondeu ao seu apelo e possibilitou uma intervenção forte, sobretudo em São Vicente. 

“Ao nível nacional, foi possível contarmos com créditos, com a flexibilidade de muitas instituições financeiras e, nesta fase agora de recuperação dos nossos parceiros, do ponto de vista financeiro, estamos a saldar estas dívidas e, por conseguinte, a qualidade do trabalho que devemos prestar não sofreu tanto”, considera. Por outro lado, Dionísio Pereira, alega que a guerra da Ucrânia reduziu o poder de compra das Aldeias SOS. 

Por exemplo, aponta, que se antes apoiar uma família de oito crianças mais uma mãe, com refeições suficientes para um mês, custava cerca de 60 mil escudos, neste momento, essa soma não é suficiente para garantir o mesmo tipo de alimento. 

“Neste momento já estamos com os dados apurados e estamos a preparar uma nova dinâmica de mobilização de recursos para o incremento de alguns outros contributos para as despesas familiares.

Mas, igualmente, a guerra na Ucrânia ensinou-nos a prestar atenção na racionalização dos meios e na poupança”, relata. Dionísio Pereira afirma que a instituição está a trabalhar na mobilização de mais meios de modo a não baixar a qualidade e evitar o choque de perda de poder de compra, mas igualmente na educação para o uso racional dos recursos e educação para a poupança. O director das Aldeias SOS de Cabo Verde apela às pessoas, empresas e instituições que atendam à proposta do International Investment Bank(IIB)e assim aumentar o seu capital, mas também contribuir para a realização do seu trabalho. 

“Estamos a projectar no próximo ano, 2023, entrar na ilha do Fogo. Já temos um acordo com a Câmara Municipal e vamos fazer intervenções robustas. Estamos a criar condições para seguirmos para as ilhas de Boa Vista e do Sal”, assegura. 

Depósito a prazo indexado solidário 

Em parceria com o Internacional IBB, as Aldeias SOS lançaram, no passado dia 17, o depósito a prazo indexado solidário. Um protocolo que, segundo Dionísio Pereira, consiste numa modalidade de vinculação, em parte, do Banco à acção da organização. 

“Nós temos tido parcerias com várias entidades quer do sector público, quer do sector privado e com organizações da sociedade civil. Mas, no contexto das organizações ou instituições financeiras temos procurado sensibilizar essas entidades para que canalizem as suas contribuições, em matéria de responsabilidade social, para a causa da nossa organização”, começa por dizer. 

É neste sentido que o IIB avançou com o produto designado de depósito à prazo indexado solidário e que consiste na sua realização, por parte das entidades interessadas tanto em ganhar mais dinheiro, quanto em apoiar em causas sociais. “Há um montante mínimo de deposito que podem realizar na ordem de 5 milhões de escudos cabo-verdianos. O produto está disponível até 30 de Dezembro do corrente ano e tem um prazo de dois anos”, detalha. As entidades que fizerem este deposito, prossegue, podem beneficiar de uma taxa que pode ir até 3,10%. Ao se proceder desta forma, coloca a disposição do banco o referido montante que não pode ser movimentado pelo depositante durante dois anos. 

Os proventos que resultarem depois das aplicações feitas com um montante de depósito, vão proporcionar o ganho à entidade que tiver feito o depósito. Mas ramvém parte daquilo que será o benefício do banco IIB, será revertido para o trabalho das Aldeias SOS, segundo Pereira. 

“É uma acção tripartida em que todas as partes saem a ganhar e nós podemos ter meios que poderão reforçar o nosso trabalho em matéria de cuidados de crianças e de reforço às famílias”, garante. 

Desafios 

Dionísio Pereira precisa que a insuficiência de recursos limita a realização de vários projectos da ONG, mas que com a colaboração do IIB, as Aldeias SOS pretendem colmatar algum déficit existente, a nível do orçamento. “Insistentemente temos lançado campanhas de apadrinhamento por altura do início do ano lectivo nós temos feito campanha de mobilização de material escolar para os beneficiários dos nossos programas e temos tido muitos gastos ao nível das prestações no que diz respeito aos cuidados de saúde com os nossos beneficiários”, declara. 

No que tange à saúde, este director menciona que apesar de a maioria das crianças da ONG estarem bem, há casos que escapam a capacidade interna nacional uma vez que os meios de diagnósticos são bastante limitados. 

Nestes casos, Dionísio Pereira diz que são obrigados a enviar tanto as crianças, quanto os cuidadores para o Senegal, dado que para Europa há mais complicações devido a dificuldade em obtenção do visto. 

A deslocação, estadia, assistência médica e medicamentosa, implicam elevados custos, conforme frisa. 

“A rotação tem sido na ordem de uma dezena. Não se trata de uma dezena por ano, mas de pessoas que já estiveram no Senegal, mas seguem uma determinada medicação e têm de regressar num determinado momento para novos exames e, eventualmente, nova aplicação. É um universo de 10, mas em termos de ida, durante o ano, podem viajar uma ou duas vezes”, elucida. 

Entretanto, as Aldeias SOS de Cabo Verde têm tido a contribuição dos seus homólogos do Senegal que têm acolhido crianças e colaboradores que vão a procura de tratamento médico. 

Pereira assevera que a ONG vem trabalhando na criação de um fundo específico de modo que sempre que surjam casos em que há necessidade de evacuações, possam ser feitos sem perda de tempo na procura de meios. 

“Em Dezembro do ano passado estivemos a desdobrar em contactos no Senegal junto de algumas embaixadas acreditadas em Cabo Verde mas que estão sedeadas no Senegal e fizemos isto em colaboração com a nossa embaixada no Senegal”, avança. 

Além das demandas da saúde, Dionísio Pereira informa que a instituição tem feito campanha de mobilização de modo a responder casos pontuais de solicitações de outras organizações que actuam no mesmo campo, ou organizações que não actuando no mesmo campo, desenvolvem trabalhos que complementam o que as Aldeias SOS têm vindo a realizar. 

O responsável indica ainda como desafio da ONG os problemas nutricionais, problemas de cuidado e atenção para com as crianças e a capacitação das famílias. 

“Nós entendemos que dar cesta básica, alimentar em termos de comida não é suficiente. Temos um projecto que precisa ser sustentado, nomeadamente a escola família, em que as pessoas precisam ser capacitadas e preparadas para cuidarem porque nem toda gente sabe o que significa cuidar do seu filho”, evidencia. 

As Aldeias SOS têm um projecto piloto que precisa de sustentabilidade e que tem a ver com a promoção do emprego e do empreendedorismo da camada jovem. 

“Não apenas a juventude que temos nos nossos programas e que assistimos directamente, mas, igualmente de jovens que estão ligados às famílias que têm alguma carência e que se essa juventude for qualificada poderá estar em condições de encontrar espaço no mercado e gerar algum rendimento capaz de apoiar a família”, reitera. 

Aplicativo 

Um outro projecto piloto das Aldeias SOS refere-se a um aplicativo no qual qualquer criança do país possa denunciar não apenas maus-tratos, mas também toda e qualquer situação que viole os seus direitos. 

“Nós queremos que seja um aplicativo que poderá ser alojado em qualquer dispositivo digital. Num computador, num tablet, num telemóvel e que não deverá implicar custos para quem faça o seu uso. Em qualquer outro ponto do país a criança que se sinta em perigo, abusada, violentada, com os seus direitos violados, deverá poder aceder a esse aplicativo e passar a informação”, argumenta Dionísio Pereira. 

Uma vez passada a informação, prossegue, a instituição poderá fazer o devido acompanhamento ou encaminhamento do caso para que a criança seja protegida. 

“Estamos a desenvolver o aplicativo com técnicos em Cabo Verde e acreditamos que até o primeiro trimestre do próximo ano podermos tê-lo disponível, pelo menos para os primeiros testes”, perspectiva.

Texto publicado originalmente na edição nº1092 do Expresso das Ilhas de 02 de Novembro

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Autoria:Sheilla Ribeiro,6 nov 2022 8:00

Editado porFretson Rocha  em  5 jul 2023 23:28

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