O município de Santa Catarina, no interior da ilha de Santiago, o terceiro maior concelho de Cabo Verde, composto por 56 localidades, foi criado em 1834. Com uma superfície de 243 quilómetros quadrados, é considerado um concelho rural, onde 86% da população vive em áreas rurais e essencialmente da agricultura de sequeiro, da criação de gado, da avicultura, da pesca e do comércio retalhista.
No próximo dia 25 de Novembro, o município de Santa Catarina comemora 188 anos, data em que se celebra o Dia do Município e da santa padroeira, Santa Catarina. No âmbito das comemorações desta efeméride, o Expresso das Ilhas foi perceber qual é a leitura que os munícipes fazem da actual Cidade Assomada.
Desenvolvimento e emprego jovem
Segundo o porta-voz dos sapateiros, Avelino, a Cidade de Assomada está parada, não tem emprego, o desenvolvimento está estancado e a cada dia aumenta as dificuldades.
“Depois da morte do ex-presidente, Beto Alves, em 22 de Dezembro de 2020, podemos dizer que Assomada foi-se com o Beto, a Câmara Municipal de Santa Catarina (CMSC) foi-se com o Beto. Toda a infraestrutura que vemos na Assomada são obras do ex-presidente, depois da sua morte nem a pintura da praça foi refrescada. Nós aqui na praça, pagamos para estarmos aqui a trabalhar, já pedimos diversas vezes uma intervenção para melhorar as condições de trabalho, porque quando chove temos que trabalhar sobre as caixas porque a água invade toda essa parte onde é destinada aos sapateiros. O que a edilidade poderia fazer por nós, até agora não fez, já não precisa fazer, não queremos nada da CMSC”.
Carolina Rodrigues é uma artesã que vive em Assomada desde 1974, considera a evolução da cidade como algo impressionante ao longo do tempo, mas sublinha que embora hoje a cidade esteja melhor que anos atrás, poderia estar num patamar melhor de desenvolvimento visto que é um dos maiores municípios de Cabo Verde.
“Sou testemunha da evolução desta cidade, em termos de infraestruturas. Assomada mudou bastante. Aliás a mudança é visível em todo o município de Santa Catarina. Hoje podemos dizer que uma das maiores fragilidades do nosso município é o emprego, principalmente o emprego jovem. Temos jovens com formação superior em empregos precários. O que se deve fazer é desenvolver políticas para ocupar estes jovens com empregos dignos.”
Maria dos Anjos é uma vendedeira ambulante que considera as infraestruturas como o ponto alto do município de Santa Catarina, mas sublinha que a maioria dessas obras está no centro da cidade, o que impede esta santa-catarinense considerar que o seu concelho é um município desenvolvido.
“Se comparamos a Assomada dos anos 90 com hoje, houve muito desenvolvimento, mas o município poderia estar ainda mais desenvolvido se, por exemplo, tivéssemos uma autarquia mais activa. O município desenvolveu-se de tal maneira que hoje temos universidades. Em relação ao emprego jovem Assomada está parada, não temos emprego, o município tem ainda uma forte influência do partidarismo, temos jovens com formação superior à espera de estágio curricular e não têm uma oportunidade para fazer um estágio curricular e quem dirá ainda um estágio profissional que tem alguma remuneração. A solução em Assomada é entrar na política, mesmo não gostando e não querendo, temos que incentivar os jovens para a vida política porque não tem outro ramo”.
Segurança e condições de vida
Belita Lopes é responsável de um comércio no centro da Cidade que actua no ramo da estética. Natural de Santa Catarina esta comerciante garante que a cidade tem potencial para mais desenvolvimento e garantir melhores condições de vida. Belita admite que a economia do município está abalada e associa o “aumento da criminalidade” na cidade ao desemprego jovem.
“Assomada em termos de desenvolvimento, fazendo uma análise comparativa anual, particularmente não vi muita mudança em relação ao emprego. Assomada precisa de políticas neste sentido. Hoje podemos ver muitos jovens a desviarem-se para a criminalidade por conta da falta de oportunidades. Aqui no estabelecimento sofremos dois assaltos nos últimos meses. Penso que se tiver mais oportunidade para os jovens o município vai desenvolver e teremos mais segurança. Acredito que Assomada tem boas condições para se viver”.
Por seu turno a jovem Jacira Monteiro que trabalha numa das lojas no perímetro urbano da cidade confessa que não tem motivos para incentivar outras pessoas a fazerem de Assomada sua morada. Natural de Santa Catarina, a jovem com formação superior, conta que a sua luta não é individual, pois à semelhança de outros jovens do município, Jacira Monteiro não conseguiu emprego na sua área de formação.
“Assomada não está nada desenvolvida, podemos dizer que a cidade estava num bom ritmo de desenvolvimento, mas hoje está estagnada. Não temos boas condições de vida, aqui na loja podemos constatar e também pelo relato dos clientes que Assomada hoje não tem condições para as pessoas pensarem em estabilizar na cidade. Por outro lado, podemos ouvir reclamações dos jovens, adultos e até mesmo crianças. Assomada teve um retrocesso em termos de desenvolvimento municipal, estava num bom ritmo, mas hoje está parada. Em relação ao emprego, alguns empresários recebem os jovens para o estágio, para nos ajudar, mas o salário é menor, no final temos que conformar com o emprego precário”, lamentou.
Elton Moreira, estudante/trabalhador, considera que a situação de Assomada hoje deixa a desejar, e o jovem acredita que viver no município de Santa Catarina já não é por preferência, mas por falta de opção. “O emprego jovem é precário, saúde também deixa a desejar, mas isso não é uma particularidade de Assomada é uma problemática do país inteiro, em relação à cultura, só o festival em celebração a santa padroeira tem-se mostrado um marco, mas no geral, incentivar e promover a actividade cultural para impulsionar a economia não é uma prioridade em Assomada. Temos uma rua pedonal sem dinamismo, a autarquia falha em termos de oportunidade para o empreendedorismo, falta políticas para desenvolvimento, empreendedorismo e a falta de emprego tem gerado outros males sociais como o aumento da criminalidade e abandono escolar”, referiu.
Texto publicado originalmente na edição nº1095 do Expresso das Ilhas de 23 de Novembro