“Tive um bom encontro [na segunda-feira, em Lisboa] com António Costa, primeiro-ministro de Portugal. Convidei-o a participar no Ocean Summit, que se realiza em Mindelo por altura da Ocean Race, convite prontamente aceite”, afirmou o chefe do Governo, numa mensagem colocada na sua conta oficial na rede social Facebook.
“Será oportunidade para a celebração de acordo sobre o financiamento climático. Conversámos sobre a mobilidade no espaço da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. A partir de 01 de Janeiro entrará em vigor a revisão lei de estrangeiros de Portugal que acomoda o princípio da mobilidade da CPLP”, recordou o chefe do Governo.
O primeiro-ministro defendeu em 19 de Julho a necessidade de transformar a dívida externa do arquipélago em “capital climático”, para financiar a adaptação às alterações no clima, assumindo que já há uma estratégia delineada com o Governo português.
“Financiamento climático: está assumido, está escrito, está pouco realizado. E é importante que isso aconteça para que, de facto, os compromissos assumidos possam ter suporte financeiro para a sua realização”, afirmou o primeiro-ministro.
Com o arquipélago de Cabo Verde a viver uma seca severa há cerca de quatro anos, ainda a recuperar das consequências económicas da pandemia de covid-19 e enfrentando agora a escalada de preços, nomeadamente na energia, face à guerra na Ucrânia, Ulisses Correia e Silva explicou que “a transformação da dívida externa em capital climático e capital natural” é uma “ideia interessante” em que Cabo Verde está a trabalhar.
“Isso significa que se nós temos metas de, até 2030, ultrapassar os 50% da penetração de energias renováveis [actualmente cerca de 20%] isso vai pressupor um investimento de 400 milhões de euros. Então, parte desse financiamento pode vir da transformação da dívida para poder fazer investimentos que possam atingir essa finalidade, esse objectivo”, apontou.
“A mesma coisa relativamente a objectivos e metas que possam ter implicações a nível da redução de emissões, objectivos e metas que têm a ver com a protecção dos oceanos, a questão problemática da água. Então esse é o capital climático, o capital natural. E essa substituição da dívida pode provocar esse efeito que nos vai tornar num país muito mais resiliente, porque reduzimos a exposição a choques externos futuros”, disse ainda.
De acordo com o primeiro-ministro de Cabo Verde, o processo para transformar parte da dívida externa em investimento e medidas para mitigar as consequências das alterações climáticas está mais avançado com Portugal, um dos credores do país.
“Estamos em negociação já muito avançada com o Governo português relativamente a esta matéria, com uma estratégia bem delineada com documentos de suporte para apoio à decisão e poderá ser um bom instrumento também para convencer outros parceiros, outros credores e para demonstrarmos que podemos, de facto, tornar efectiva esta necessidade de instrumentos para o financiamento climático e, a partir daí, poder alargar para outras modalidades”, disse.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também vai visitar Cabo Verde em Janeiro, durante a passagem da Ocean Race pela ilha de São Vicente, anunciou este mês o primeiro-ministro cabo-verdiano.
Igualmente numa mensagem colocada na sua conta oficial na rede social Facebook, o chefe do Governo cabo-verdiano referiu que António Guterres “aceitou” o seu convite para “visitar Cabo Verde e ser o orador principal no Ocean Summit que terá lugar, à margem da passagem do Ocean Race por Cabo Verde, na cidade do Mindelo, 20-25 de Janeiro de 2023”.
A Ocean Race é considerada a maior e mais antiga regata à vela de volta ao mundo.
“Com a passagem do Ocean Race, Cabo Verde será o centro do mundo nesses dias e é essa a visão do Governo - promover Cabo Verde como líder mundial na economia azul; Cabo Verde ‘hub’ no centro médio do atlântico; Cabo Verde destino turístico de excelência; Cabo Verde centro de grandes eventos mundiais”, lê-se ainda.
“A presença da regata The Ocean Race em Cabo Verde representa o reconhecimento mundial da confiança e da credibilidade que hoje o nosso país já granjeou, bem como da crescente capacidade organizativa de eventos internacionais de topo em Cabo Verde”, afirmou o chefe do Governo, antecipando o lançamento do “Ocean Race – 100 Days to Go”, em Outubro passado.
“Representa ainda a capacidade de atractividade de Cabo Verde e uma oportunidade de mostrar ao mundo um Cabo Verde como plataforma da economia marítima, turística e de organização de grandes eventos desportivos. Por outro lado, é uma oportunidade para o desenvolvimento da nossa economia local, em especial reforçando e modernizando os portos nacionais, em concreto o Porto Grande do Mindelo”, disse Ulisses Correia e Silva.
O Governo anunciou anteriormente que vai instalar uma “Ocean Race Village” no Mindelo, com a construção de instalações para atracagem e acolhimento da Ocean Race, considerada a maior regata à vela do mundo.
A estrutura pretende criar condições logísticas para receber a passagem, pela primeira vez por Cabo Verde, da 14.ª edição daquela regata, com partida prevista para 15 de Janeiro de 2023 de Alicante, Espanha. Essa primeira etapa, de 1.900 milhas náuticas (3.520 quilómetros) termina na Baía do Mindelo, Cabo Verde, e a segunda, com destino à Cidade do Cabo, África do Sul, deverá iniciar-se em 25 de Janeiro, depois da paragem de cinco dias em São Vicente.
A competição - que chegou a estar planeada para o período de 2021/2022, mas foi adiada para 2023 devido à pandemia de covid-19 - deverá percorrer ao longo dos seis meses de competição de volta ao mundo, por cerca de 32.000 milhas náuticas (59.296 quilómetros), em categorias separadas, até terminar no Verão em Génova, Itália, quando se comemoram os 50 anos desta prova, segundo a organização.
No espaço da frente marítima na ilha de São Vicente serão instalados pontões para atracagem, além da reabilitação da zona em terra, estando previsto, segundo o Governo de Cabo Verde, o reaproveitamento de algumas infra-estruturas agora a construir para o futuro clube náutico do Mindelo.