Na sua mensagem de Ano Novo, José Maria Neves, lembrou que 2022 foi um ano difícil, sob os efeitos da tripla crise que se instalou, mas que apesar das incertezas, que ainda persistem quanto ao futuro, acredita num 2023 bem melhor.
“Estamos a encerrar um ano que entrou já sob o signo de uma policrise, com um feixe enorme de problemas atrelados. Destaco a pandemia e os seus efeitos devastadores, tanto sociais, económicos, sanitários ou políticos, com perdas muito profundas, e nunca antes imaginadas, que se traduziram em mais desemprego, pobreza, desigualdade e exclusão social. E como se não bastasse, a deflagração de conflitos, com destaque para a guerra na Ucrânia, fez disparar o custo da energia e condicionou as cadeias de abastecimento, com o consequente aumento dos preços dos alimentos”, destacou.
O mais alto Magistrado da Nação apontou a interacção entre estas diferentes crises que tem como resultado um mundo mais precário, mais disruptivo e de aparente caos, com evidentes reflexos num pequeno país como é o caso de Cabo Verde.
“Mas o quadro só ficaria completo se a nossa visão abarcasse também as mudanças climáticas e as suas severas consequências, nomeadamente para o nosso arquipélago, bem como o retrocesso nas democracias, em alguns países. A interacção entre estas diferentes crises tem como resultado um mundo mais precário, mais disruptivo e de aparente caos, com evidentes reflexos num pequeno país como é o caso de Cabo Verde. Mas a nossa conhecida esperança e a já demonstrada capacidade de resiliência, que nos permitiram enfrentar e vencer as diferentes crises, como as secas, fomes e mortandades, também nos ajudarão a superar esta conjuntura adversa”, expôs.
Profundas mudanças
O Presidente da República afirmou que conhecendo a têmpera do cabo-verdiano sabe que o povo terá recursos de energia suficientes para enfrentar as crises. José Maria Neves acredita que face às actuais circunstâncias, os actores políticos, saberão ser mais sensíveis aos fenómenos que o país enfrenta neste momento.
“Porém, temos que admitir que os tempos actuais vão exigir profundas mudanças. E quero crer que, face às actuais circunstâncias, todos, principalmente os actores políticos, saberão ser mais sensíveis aos fenómenos que o país enfrenta neste momento. Isto significa disponibilidade para o diálogo e consensos entre as lideranças e as forças políticas para aperfeiçoar o funcionamento e proteger as instituições da República, de forma a garantir maior normalidade, melhorando o desempenho dessas instituições”, referiu.
O mais alto magistrado da Nação defende que a hora é de mobilização geral, o que não se compadece com a excessiva politização, pois, qualquer desperdício seria pernicioso para o país, afectando particularmente a recuperação da economia.
Segundo José Maria Neves, impõe-se a criação de uma sociedade da amizade, em que os diferentes partidos políticos, os colegas de trabalho, os vizinhos, todos, possam viver em paz e harmonia e se entendam. O Presidente da República defende ainda que a que evitar a erosão das instituições na certeza de que uma sociedade dividida e com crispações não avança.
“Espero que esta quadra festiva e o chamado “espírito de Natal” sejam bons conselheiros para conseguirmos estes propósitos, nomeadamente, rever a forma de fazer política, mudar o relacionamento entre o Estado e a Sociedade Civil, inovar em matéria de políticas públicas e na busca de consensos com vista a uma maior e melhor partilha de poder, e ser mais célere e sofisticado, com mais qualidade nas decisões. Talvez resida aqui a diferença entre um país maduro, avançado e moderno e um país subdesenvolvido”.
O presidente da República sublinha que vivemos uma situação de emergência económica e social e é nesta altura que a atenção se deve dirigir para as famílias que hoje enfrentam maiores dificuldades, por serem vítimas de uma divisão “desigual” de oportunidades e de rendimentos.
“O Estado tem um compromisso indeclinável para com os mais pobres. Complementarmente, e lá onde o Estado não chega, cabe às ONG’s, Sociedade Civil e cidadãos em geral, canalizar os esforços para contribuir para que ninguém fique para trás. Numa conjuntura de enormes desafios face ao incremento da pobreza e das desigualdades, temos que reconhecer e saudar o excelente trabalho dos actores sociais que não têm poupado esforços para, através da sua acção benemérita e de fraternidade, levar um pouco de solidariedade àqueles que mais precisam, principalmente nesta época festiva”, defendeu.
Desejos para 2023
José Maria Neves na sua mensagem de Ano Novo fez votos para que o ansiado crescimento económico seja materializado, e que seja igualmente portador de desenvolvimento, beneficiando prioritariamente aqueles que hoje enfrentam a situação de extrema vulnerabilidade e de insegurança alimentar.
“Faço votos para que este Novo Ano seja portador de mais paz, harmonia, civilidade e segurança, e que consigamos dar um bom combate à violência urbana, com destaque para a cidade da Praia. Cabo Verde é a terra da morabeza e todos os seus cidadãos e visitantes devem poder desfrutar de um clima de tranquilidade”, desejou.
Em relação à onda de insegurança, José Maria Neves indicou que o país deve concentrar as acções nas medidas preventivas ao invés de uma atitude reactiva e de resultados questionáveis.
“Deixo um apelo para que se debruce à volta das causas e do que estará na génese da escalada da violência urbana, reflectir sobre o que terá falhado ou que correu menos bem. Isto sempre na certeza de que, em diversos graus, existe uma corresponsabilidade quanto à actual situação, e que devemos concentrar as ações nas medidas preventivas ao invés de uma atitude reactiva e de resultados muito questionáveis”, apelou.
O mais alto Magistrado da Nação afirmou ainda que regista, “com agrado”, o exemplo de jovens que, no passado, participaram em gangs armados, estiveram em conflito coma lei e foram presos, mas que se recuperaram e hoje mudaram de vida e de lado, estando nos seus bairros a liderar outros jovens, mas desta vez com bons exemplos e boas acções.
“É importante fazer tudo para consolidar as instituições do Estado de Direito Democrático, com realce para o aperfeiçoamento, maior sincronização e reforço das capacidades dos órgãos encarregados da administração da justiça, da segurança e do combate à criminalidade. A nossa atenção deverá igualmente recair sobre a recorrente situação de morosidade da justiça e a sensação de impunidade”, pontuou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1101 de 4 de Janeiro de 2023.