Em declarações à Inforpress para trazer um outro olhar sobre esta data marcante, o investigador avançou quatros pontos que julga importante, nesta matéria, focando o primeiro no facto de ter posto fim ao Estado Novo, um regime político autoritário, que vigorou, de 1933, ano da aprovação da Constituição de Salazar, a 25 de Abril de 1974, dia em que jovens capitães espoletaram a “Revolução dos Cravos”.
O segundo, do seu ponto de vista, deveu-se a data por ter aberto portas para uma eventual democratização de Cabo Verde, entretanto conforme explicou, adiada e morta à nascença pela aliança “MFA-PAIGC”, e o terceiro, porque permitiu, em ambiente crispado, intolerante e antidemocrático, a descolonização de Cabo Verde, uma colónia sem colonialismo.
O quarto e último defendido por Daniel dos Santos tem a ver com a transferência, unilateralmente, do poder ao PAIGC, que, segundo disse, reintroduziu o partido único em Cabo Verde, quando este reunia todas as condições para que o país fosse independente e democrático.
“O povo cabo-verdiano passou, em 1974/1975, por uma injustificada infelicidade histórica. Abril não cumpriu o prometido na noite de todos os sonhos e utopias: a descolonização e a democracia”, reiterou, para considerar o processo consensual de “desastre”, dado que as autoridades portuguesas negociaram apenas com o PAIGC o processo de independência, à margem do qual ficaram a União Democrática Cabo-verdiana (UDC) e a União do Povo das Ilhas de Cabo Verde (UPICV).
Prossegue, sublinhando que tudo não passou de uma miragem, cujos primeiros sinais vieram à tona já nos últimos dois meses de 1974, apresentando factos documentados do MFA e o PAIGC, que proibiram, a 01 de Novembro, uma manifestação pacífica da UPICV, em Santiago e a de 09 de Dezembro, em que militantes do PAIGC, com a cumplicidade do MFA, tomaram de assalto a “Voz de São Vicente”, uma rádio privada.
Nesta altura, realçou o investigador, o MFA e o PAIGC detêm, de 14 a 16 de Dezembro, dezenas de cabo-verdianos, que, depois, enviam para o Campo de Tarrafal, após os que são deportados para Portugal, tendo a 19 de Dezembro, o PAIGC e o governo português assinado o acordo de independência sem auscultar o povo cabo-verdiano e tão pouco a UDC e a UPICV.
“Atendidas a todas estas razões, pode-se dizer que Abril foi um paradoxo, além de ter incumprido as duas grandes promessas que se impôs a si próprio: democracia e descolonização”, enfatizou Daniel dos Santos.
O investigador relata ainda que, enquanto em Portugal, as forças políticas se batiam pela democracia, nas suas antigas colónias ultramarinas, o governo, em Lisboa, entregava o poder aos chamados movimentos de libertação para reimplantar o monopartidarismo, já não português, mas dos “filhos da terra”.
Apesar de tudo isso, admite que Abril foi necessário, em vista do seu maior objectivo: depor o “Estado o Novo” e decretar o fim do colonialismo em África, a que se junta o espoletar da terceira vaga da democratização do mundo.