Eco-espaços tornam-se destinos preferidos para lazer e eventos

PorSheilla Ribeiro,20 jul 2024 8:41

Com as altas temperaturas na Cidade da Praia, muitos buscam por locais mais frescos para escapar do calor, principalmente durante o Verão. A apenas 12 quilómetros da capital, em São Domingos, podemos encontrar dois eco-espaços que se têm tornado o destino preferido de muitas pessoas que com um microclima agradável criado pela abundância de plantas, não só oferecem momentos de lazer em família, mas também têm sido o cenário ideal para eventos como casamentos e baptizados.

Podemos estar no centro de São Domingos sufocados pelo calor e encontrar um refúgio verdejante, não muito longe. O Eco Centro, administrado por Joseana Rodrigues, é um destino que combina aprendizado, lazer e um profundo respeito pela natureza.

“O Eco Centro surgiu há muitos anos, mas foi oficialmente inaugurado em 2016. Surgiu quando eu e a minha família viemos morar em São Domingos, 22 anos atrás, eu tinha na altura apenas dois anos,” conta Joseana.

Segundo relata Joseana Rodrigues, o Eco Centro surgiu com o pai e a mãe que queriam um espaço onde plantas e animais pudessem coexistir e prosperar. O que antes era apenas uma casa familiar, foi crescendo.

Após o retorno do pai, Filomeno Rodrigues, de Portugal, onde se especializou em energias renováveis, a ideia de criar um centro de promoção ecológica ganhou forma. Desde então, o espaço cresceu e transformou-se num centro de educação ambiental e inovação ecológica.

Educação ambiental e tecnologias sustentáveis

O Eco Centro é mais do que um local de visitação; é um espaço educativo, já que visa dar a conhecer as diferentes espécies de plantas. “O nosso principal objectivo é promover a ecologia e tecnologias amigas do ambiente”, afirma Joseana.

Durante o ano lectivo, o espaço enche-se de estudantes ávidos por aprender sobre práticas sustentáveis e convivência harmoniosa com a natureza. “Pagam uma taxa irrisória de cinquenta escudos por criança das 09h30 ao meio-dia, ou 100 escudos de manhã à tarde. Usamos esse dinheiro mais para a manutenção do espaço, para comprar ração e outros mantimentos,” detalha.

Além das actividades educativas, o Eco Centro abriga diversos protótipos de tecnologias sustentáveis, como painéis solares e um forno eco eficiente. “O forno eco eficiente foi desenvolvido por meio de pesquisas. Foi feito com tijolos de barro que conservam mais energia e consome menos lenha,” explica.

Com mais de 800 espécies de plantas, o Eco Centro, segundo Joseana, é um verdadeiro paraíso botânico.

“Temos aqui mais de 800 espécies de plantas que variam entre espécies endémicas, ornamentais e fruteiras. Temos aqui plantas de todos os países que visitamos. Quando estudava no Brasil, por exemplo, sempre trazia plantas diferentes”, narra.

Relativamente às espécies comestíveis, o Eco Centro tem papaia, coco, pêssego, couves, espinafres, tomate, entre outros. Mas, também há dragoeiros e plantas medicinais.

O Jardim de Darwin, uma das atracções principais do Eco Centro, é parte do programa Caminhos de Darwin e abriga plantas endémicas de várias ilhas de Cabo Verde.

O cuidado com os animais também é uma prioridade. “Temos tartarugas de água doce, coelhos, patos, galinhas, pombas, codornizes, macaco verde de Cabo Verde, galinha-do-mato, que também é endémica, pavão, peru, periquitos e porcos-da-índia,” enumera Joseana.

Segundo diz, a parte dos animais actualmente está “um pouco fraca”, depois de vários roubos. Mas garante que o Eco Centro está a trabalhar para voltar a ter caprinos e outras espécies.

Sustentabilidade em cada detalhe

Sustentabilidade é a palavra-chave do Eco Centro, conforme garante Joseana Rodrigues.

“Aqui nada é desperdiçado. Toda a nossa água é reutilizada. Por exemplo, a água da piscina quando fica suja é usada na rega,” explana.

A alimentação também segue princípios sustentáveis. “O nosso principal objectivo é plantar o que comemos... sem muitos agrotóxicos, pesticidas e adubos para termos alimentos saudáveis”, diz Joseana.

Quando não é possível consumir o que é produzido no espaço, compram nos produtores locais.

A horta é irrigada pelo sistema gota-a-gota e futuramente Joseana assegura que será implementado um biodigestor para produção de biogás.

O Eco Centro recebe visitantes nacionais e estrangeiros. O espaço conta com parceiros como agências de viagens que mandam os seus turistas por 150 escudos, enquanto os guias independentes pagam 200 escudos para levar os turistas.

“Os nacionais vêm aqui mais para almoços, principalmente nos fins-de-semana,” comenta.

Projectos e comunidade

Joseana Rodrigues diz que o Eco Centro está a considerar um ecoponto para carregar carros eléctricos. Além disso, há planos para expandir as actividades de ecoturismo e construir mais bangalós para “home stay.”

O Eco Centro também é um espaço de celebração e convivência. “Recebemos eventos, casamentos, baptizados. A integração com a comunidade é uma parte essencial da missão do Eco Centro, criando um espaço onde todos podem aprender e crescer”, enfatiza.

A gerente acredita que o Eco Centro tem um grande impacto ambiental pela diferença de clima que se nota, comparativamente ao centro de São Domingos.

“Quando estamos no centro de São Domingos sentimos um calor infernal e ao chegar aqui o ambiente é totalmente diferente devido às plantas que aqui estão e que criaram um microclima diferente de outros lugares de São Domingos”, considera.

Do amor pelo verde, o Eco Paraíso

Também em São Domingos podemos encontrar o Eco Paraíso que assim como o Eco Centro, começou como uma casa familiar.

Rodeada de plantações e plantas ornamentais, a casa, além de ter frutas variadas, destacava-se pela abundância de cana-de-açúcar. Daniel Vicente, consultor nacional e especialista em camada de ozónio há 12 anos, e sua esposa Dulce Vicente, começaram a perceber o potencial do lugar durante a pandemia.

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“Quando o espaço ficou muito verde, tornou-se atractivo aos olhos dos nossos amigos. Nós não víamos nada de especial no Eco Paraíso, víamos apenas o verde e aquilo animava-nos porque nascemos e crescemos no interior e somos filhos de agricultores,” conta Daniel.

As visitas frequentes dos amigos e as sugestões de vender plantas ou produzir grogue de cana-de-açúcar foram o impulso inicial para transformar a propriedade.

Durante os meses de confinamento, o casal começou a multiplicar as plantas e, com o fim das restrições, as pessoas começaram a comprar não só plantas, mas também a aguardente produzida no local.

“Estávamos na pandemia, estávamos há três meses em casa e pensamos em desfazer dos vasos de plantas e transformá-los em mais plantas,” relembra o consultor.

Em Agosto de 2022, quando abriram as portas do Eco Paraíso como um espaço de eventos, muita coisa mudou. “Fizemos algumas obras para readaptar a casa de família para se tornar numa pousada. Desde que existe o projecto de Eco Paraíso, em Fevereiro de 2022, fizemos muitas alterações, construímos uma piscina, ampliamos o espaço,” explica Daniel.

A casa familiar transformou-se num local acolhedor para diversos eventos, com uma pousada composta por nove suítes e um projecto em andamento para construir uma sala de conferências com capacidade para 200 pessoas.

“A sala de conferências do Eco Paraíso não será uma sala convencional. Será uma sala de conferências ao ar livre, com palha de cana, ramo de coco, pedras e árvores dentro da sala,” detalha.

Uma experiência de sustentabilidade em conexão com a natureza

O nome Eco Paraíso reflecte a proposta do local: oferecer aos clientes uma experiência de lazer em meio à natureza.

“O Eco Paraíso concentra recursos da terra. Desde a entrada temos pedras de Cabo Verde, de Ribeirão Chiqueiro”, diz Daniel, que, com a esposa e um amigo, foram buscar as pedras numa mina local e com elas fizeram a nascente e outras decorações do espaço.

Além da ambientação natural, o Eco Paraíso promove práticas sustentáveis, reaproveitando tudo e qualquer recurso, desde a acácia, carriço a folhas secas.

“Nós aproveitamos não só a acácia, mas todos os ramos secos. Se as nossas árvores secam, não serão queimadas, reaproveitamos tudo,» afirma Daniel.

Segundo descreve, no espaço é reaproveitado água de chuva, restos de plantas para decoração e utiliza-se energia solar para reduzir a dependência de fontes fósseis. “Instalamos painéis solares com capacidade de mais ou menos 24 quilowatts/hora. Na época de muito sol, esquecemo-nos da Electra,” revela.

Durante a temporada de chuvas utilizam a energia da Electra apenas quando necessário, por exemplo, nos grandes eventos. Aliás, Daniel Vicente salienta que o Eco Paraíso destaca-se não só pela beleza natural como também pela variedade de actividades oferecidas.

“O Eco Paraíso congrega actividades desde eventos, banho na piscina, restauração e bar. Também começamos a disponibilizar quartos para dormidas,” menciona.

O espaço, acredita, é um refúgio para quem busca paz e contacto com a natureza. Aliás, menciona, há cada vez mais pessoas à procura de espaços com “muito verde” que oferecem paz para realização de casamentos, baptizados e passar fins-de-semana, atraídas pela combinação de elementos naturais e ambiente rústico.

Impacto e visão para futuro

Daniel Vicente acredita que o Eco Paraíso trouxe impactos não só para São Domingos, mas também para a ilha de Santiago. A busca pelo certificado de utilidade turística revelou, conforme diz, que o espaço se destaca pela preservação ambiental e inovação no uso dos recursos naturais.

O casal Vicente tem planos sustentáveis para o futuro. Além de concluir a sala de conferências, planeiam construir bangalós feitos de pedra de Ribeirão Chiqueiro e palha de cana.

“Vamos construir uns três bangalós, cada um com dois quartos, para atingir 15 quartos. Quem estiver cansado do ‘luxo’ ou dos quartos no estilo europeu e quiser algo mais rústico, pode ficar nos bangalós,” partilha Daniel.

Para Daniel e Dulce, investir no natural e no sustentável tem sido um diferencial. “Nós não temos dificuldades em promover o nosso negócio porque ele promove-se automaticamente. A pessoa chega aqui, tira uma foto e as pessoas começam a perguntar onde fica o lugar e depois fazem visita,” comenta Daniel.

Mais do que um negócio de sucesso, Daniel e Dulce almejam ser uma referência de sustentabilidade a nível nacional.

“O nosso grande objectivo é tornar o Eco Paraíso uma referência de sustentabilidade a nível nacional. Sabemos que não será fácil, mas estamos comprometidos,” afirma. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1181 de 17 de Julho de 2024.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,20 jul 2024 8:41

Editado porAndre Amaral  em  20 nov 2024 23:25

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