"Eu tenho dores no pé e quando cheguei cá disseram que não há consultas porque estão de greve e eu não sabia", afirmou Sandra Ribeiro, à entrada das urgências do Hospital Agostinho Neto, na cidade da Praia.
A paralisação, que arrancou às 08:00, está a afectar todos os departamentos e serviços de saúde do país, abrangendo médicos, enfermeiros, técnicos de análises clínicas, laboratórios, trabalhadores de serviços gerais, anti-vectoriais, condutores e outros profissionais.
Para Sandra Ribeiro, a greve não é uma boa medida, porque afecta várias pessoas que procuram as estruturas de saúde para fazer as consultas.
"Fui surpreendida, quando desci do carro encontrei uma multidão” em frente ao hospital, no Plateau, relatou, em referência à concentração dos profissionais de várias estruturas de saúde da ilha de Santiago.
Sandra reside na ilha do Sal, mas está de férias na Praia, e ainda tem esperança de conseguir fazer a consulta, mas em clínica privada, porque precisa da declaração médica para apresentar no local de trabalho.
Zelino Correia tem a mãe internada no mesmo hospital há dois dias e teme que esta possa ficar sem alguma assistência nos próximos dias.
"Consegui entrar [no hospital], mas depois colocaram todas as pessoas para fora por causa da greve", relatou, considerando que a medida "não é muito boa".
"Não podem deixar os doentes em cima da cama para irem fazer greve, mas é o direito deles", afirmou o jovem, residente da zona de Calabaceira.
Sentada nas escadarias do centro de saúde de outro bairro, Ponta D´Água, Edna Tavares teve melhor sorte e conseguiu fazer curativos nas pernas.
"Muitas pessoas que vieram cá fazer consultas já foram para casa. Eu tinha uma análise para entregar hoje, mas não consegui", disse, considerando que três dias de greve são exagerados, mas entendendo que os profissionais de saúde “devem ser reconhecidos".
A paralisação também está a afectar os negócios nas imediações dos serviços de saúde, que diariamente são frequentados por dezenas de pessoas, mas hoje estão às moscas, constatou Fátima Pires, vendedora em frente ao Centro de Saúde de Tira-Chapéu, que, no primeiro dia de greve, ainda não facturou quase nada.
"Quando cheguei cá disseram-me que havia greve e muitas pessoas que vieram para fazer consultas já foram para casa", relatou a moradora do mesmo bairro, que vende donetes, iogurtes, pastéis e sumos no local todos os dias.
Como alternativa, disse que vai colocar os cestos à cabeça e começar a vender os seus produtos em outros pontos da capital do país, para não se estragarem.
O Governo requisitou mais de 300 profissionais de saúde para trabalhar durante a greve, após falhar o entendimento com os sindicatos quanto aos serviços mínimos.
Em declarações à Lusa em frente ao hospital Agostinho Neto, a presidente do sindicato dos médicos cabo-verdianos, Eunice Almeida, disse que até ao momento a adesão dos profissionais é de 95%, acima dos 70% previstos inicialmente.
Eunice Almeida garantiu que a intenção dos profissionais é paralisar até sábado de manhã, referindo que uma possível suspensão só pode ser feita se o Governo aceitar as reivindicações das classes.
A médica reconheceu que os pacientes vão ser prejudicados, já que não serão assegurados serviços como consultas externas, vacinas, curativos, cirurgias e outros que não são de emergências.
"Estamos nessa luta justamente para melhorar essas condições e quem mais vai sair a ganhar são os utentes. Temos profissionais em todas estruturas para cobrir as urgências e emergências, os serviços não estão desprotegidos”, garantiu a porta-voz.
A greve, que incluiu hoje uma marcha dos profissionais pelas ruas da Praia, termina às 08:00 de sábado, e acontece após falta de acordo entre o sindicato e o Governo sobre aumentos salariais e outros pontos.
Entre as reivindicações estão a aprovação e implementação dos respectivos PCFR (Plano de Carreiras, Funções e Remunerações) das carreiras médicas, de enfermagem e do Instituto Nacional de Saúde Pública, com efeito retroactivo a Janeiro de 2024.