O director-geral da Afrosondagem, José Semedo, revelou que o número de cabo-verdianos aumentou significativamente em comparação a 2017, antes da crise provocada pela pandemia da COVID-19, quando cerca de 57% dos cabo-verdianos manifestaram o desejo de emigrar. Além disso, diminuiu a proporção de pessoas que afirmam nunca emigrar, passando de 46% para 30%.
José Semedo destacou que o desejo de emigrar é particularmente elevado entre os jovens. Cerca de 76% dos jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos ponderam emigrar. Esse interesse também abrange outras faixas etárias e níveis de educação: 76% das pessoas com nível secundário e 65% das pessoas com nível superior indicaram que, de alguma forma, pensam em emigrar. O estudo também revelou que 75% dos trabalhadores afirmaram já ter considerado a emigração.
Emigração dos jovens
O interesse em emigrar varia entre os géneros, sendo mais pronunciado entre os homens (70% contra 59% das mulheres), assim como entre os residentes urbanos (65%) em comparação com os rurais (60%). A Europa continua a ser o destino preferido para emigração, com 61% dos entrevistados a indicar países europeus, seguidos pelos Estados Unidos, com 28%. Outros países de emigração mencionados incluem Portugal, França, Espanha, Suíça e Luxemburgo.
Sobre a emigração dos jovens nos últimos dois anos, 27% dos entrevistados consideram que houve uma emigração em massa. A maioria (67%) acredita que a saída dos jovens é benéfica para os países da Europa e dos Estados Unidos.
“Alguma rejeição” dos cabo-verdianos em acolher imigrantes
Em relação à imigração, a opinião dos cabo-verdianos sobre o acolhimento de imigrantes está dividida. Cerca de 34% consideram que o arquipélago deve acolher menos imigrantes à procura de trabalho, 25% acreditam que o número de imigrantes deve aumentar e 16% consideram que o número deve permanecer o mesmo. José Semedo explicou que, embora Cabo Verde tenha uma tendência histórica para a emigração, existe também um receio sobre a entrada de imigrantes no país.
A presidente da Alta Autoridade para a Imigração, Carmem Barros, manifestou-se preocupada com “alguma rejeição” dos cabo-verdianos em acolher imigrantes, conforme dados da Afrosondagem, e prometeu reforçar o trabalho de sensibilização. Na ocasião, considerou que este estudo traz aspectos interessantes, apesar de não ser tão aprofundado.
“Há um aspecto interessante que eu acho que é mais ou menos pacífico e consensual, que é o reconhecimento, por parte dos residentes aqui em Cabo Verde, da importância económica da imigração”, realçou.
Entretanto, sobre o questionamento aos cabo-verdianos se acham que os níveis de imigração devem manter-se, diminuir ou aumentar, manifestou-se preocupada com alguma rejeição por parte da população.
“Porque os dados nos mostram que, mais ou menos, 20 e tal por cento dizem que acham que se deve manter o nível da vinda de estrangeiros que vêm para trabalhar. Algo muito semelhante, em torno também de 20 e tal % dizem que deve aumentar a vinda de estrangeiros”, sublinhou a presidente da Alta Autoridade para a Imigração.
Por outro lado, mostrou que cerca de 34% dizem que deve diminuir os níveis de estrangeiros em comparação com os que dizem que deve aumentar, afirmando ainda que há um pequeno percentual, correspondendo a nove por cento de pessoas que acham que não deve vir nenhum imigrante para Cabo Verde.
“E estas indicações, por aquilo que nós conhecemos, a nível das tendências internacionais, dos tradicionais países que recebem migrantes, inclusive os nossos, têm esta tendência de alguma repulsa”, afirmou Carmem Barros, para quem era preciso o estudo ter mais elementos para se compreender esta repulsa. Porque, lembrou, em Cabo Verde existem comunidades de diferentes países e de diferentes continentes e com perfis diferenciados em termos de nível de escolaridade, qualificação profissional e vivência sociocultural.
“Portanto, é genérico, mas, de alguma forma, também nos preocupam a reforçar este trabalho em nível daquilo que é a contribuição, que não é só económica, da imigração. E é interessante para um país como Cabo Verde, em que os dados mostram exactamente uma grande propensão para a saída”, frisou.
Para Carmem Barros, este estudo constitui uma reflexão para a sociedade e para a Alta Autoridade para a Imigração enquanto instituição, reforçando o trabalho de sensibilização. Ainda sobre o estudo, a responsável manifestou-se preocupada com o posicionamento contrário dos cabo-verdianos em relação à questão do asilo e do acolhimento dos refugiados, apontando para muita desinformação sobre estes assuntos.
O inquérito envolveu 1.200 indivíduos das ilhas de Santiago, São Vicente, Santo Antão e Fogo, representando mais de 85% da população cabo-verdiana. A margem de erro do estudo é de 3%, com um intervalo de confiança de 95%. Os dados foram divulgados no âmbito do 10º inquérito da Afrobarometer/Afrosondagem sobre a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde.
Com Inforpress e Lusa
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1204 de 24 de Dezembro de 2024.