Em declarações à agência Lusa, esta terça-feira, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, destacou a importância de diminuir a dependência de evacuações para Portugal, com ênfase na implementação do programa de transplante renal, que permitirá realizar transplantes directamente em Cabo Verde.
“Esta parceria que temos com Portugal na saúde e nas evacuações é uma das áreas mais importantes, porque, apesar de representar custos para o sistema de saúde português, é uma vertente de cooperação muito importante e é para continuar”, disse, ao lado do primeiro-ministro português, anfitrião do encontro.
O “Programa de Transplante Renal” é uma das iniciativas da cimeira, com o objectivo de realizar transplantes de rins em hospitais centrais em Cabo Verde. O primeiro-ministro mencionou que essa medida contribuirá para a autonomia no tratamento de doenças renais crónicas, evitando que os cidadãos cabo-verdianos tenham de se deslocar para Portugal. A cidade da Praia [ilha de Santiago] e São Vicente serão beneficiadas com a implementação dessa capacidade médica, permitindo que muitos pacientes em diálise possam ser tratados localmente.
Sobre o mesmo, Ulisses Correia e Silva afirmou que Cabo Verde vai realizar transplantes renais em pelo menos um dos hospitais centrais, o que considerou ser “um passo significativo” na autonomização de “condições técnicas, humanas e de especialidade tecnológica para fazer este tipo de intervenção”.
“Aí reduzimos a necessidade de evacuação externa para Portugal e damos conforto a pessoas que estão hoje em processos de diálise na Praia e em São Vicente, além da possibilidade de terem acesso à resolução definitiva dos seus problemas de saúde com transplantes”, disse.
“As pessoas que vêm [para Portugal] para tratamentos com problemas renais, enquanto não tiverem soluções de transplante, ficarão sempre em situação de evacuação”, apontou.
Um novo hospital
Na conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo português, Luís Montenegro, Ulisses Correia e Silva observou ainda que está em curso um projecto para a construção de um novo hospital no país e que este irá dispor de especialidades com maior procura no âmbito das evacuações, como é o caso das especialidades de oncologia, neurologia, traumatologia e cardiologia.
Ulisses Correia e Silva destacou que o governo está “a trabalhar nestes projectos. Está a levar o tempo que é necessário. Para além da componente física da construção, temos toda a componente tecnológica e especializações, para podermos erigir esse hospital. É mais um instrumento que vai depois reduzir a demanda para a evacuação.”
Sobre este caminho que “Cabo Verde está a trilhar”, com a ajuda de Portugal, o governante sublinhou: “Não é só dar ajuda, é apoiar para que Cabo Verde seja autónomo e crie condições para o seu processo de desenvolvimento.”
Esta terça-feira, entre os vários acordos assinados entre representantes dos governos português e cabo-verdiano, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, um deles foi um Memorando de Entendimento para o Desenvolvimento do Programa de Saúde.
Na área da saúde, foi também assinado um Memorando de Entendimento entre o Ministério da Saúde da República Portuguesa e o Ministério da Saúde da República de Cabo Verde no âmbito da Saúde Digital, e um Protocolo de Entendimento e de Cooperação Técnica e Científica na Área da Saúde entre a Unidade Local de Saúde de Coimbra, E.P.E., e o Hospital Central da Praia - Hospital Dr. Agostinho Neto.
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1.845 doentes evacuados em 3 anos
Dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicam que, entre 2021 e 2023, Cabo Verde foi o país que mais doentes transferiu para tratamento em Portugal, dos 4.296 doentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) aí tratados nesse período.
Cabo Verde transferiu 43% do total de doentes dos PALOP, seguindo-se a Guiné-Bissau (29%), São Tomé e Príncipe (24%), Angola (3%) e Moçambique (2%).
com Lusa
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1209 de 29 de Janeiro de 2025.
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