Discursos feitos do sábado durante a sessão evocativa do cinquentenário da independência nacional, realizada em frente ao Quartel Jaime Mota, na Praia.
Num discurso marcado por elogios à trajectória cabo-verdiana, o Grão-Duque recordou a sua primeira visita a Cabo Verde, há dez anos, descrevendo-a como uma das melhores experiências do meu reinado.
Regressa agora ao país naquela que será a sua última deslocação oficial ao estrangeiro enquanto Chefe de Estado.
“Cabo Verde se tornou um modelo de estabilidade em sua região e uma nação respeitada internacionalmente. Suas instituições económicas e democráticas sólidas fazem do seu país uma referência. Esta ano de 2025 também marcaram os 25 anos do meu reinado”.
“Durante este quarto século, o Luxemburgo teve o prazer de acompanhar Cabo Verde. Na verdade, a nossa cooperação iniciada nos anos 90 ilustra o que podem realizar duas pequenas nações unidas pelas mesmas maneiras”, discursou.
Na sua intervenção, o soberano fez também referência à comunidade cabo-verdiana no Luxemburgo, presente há cerca de 60 anos, a quem chamou de ponte entre os dois povos.
“A sua contribuição para as nossas duas sociedades reforça a admiração”, afirmou, elogiando a capacidade dos cabo-verdianos de se integrarem, preservando as suas raízes.
Dirigindo-se ainda à juventude cabo-verdiana, o Grão-Duque disse que são os guardiões desta memória colectiva (independência) e responsáveis por vencer os desafios actuais com inteligência, responsabilidade e determinação.
Rebelo de Sousa
Durante o seu discurso, o Chefe de Estado português destacou o compromisso de Cabo Verde com o Estado de Direito, o respeito pelos direitos humanos e o funcionamento regular das instituições democráticas.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ser grato e ter admiração e confiança no futuro promissor do país, saudando fraternalmente o percurso cabo-verdiano desde a independência.
Sublinhou que Cabo Verde trilhou um caminho marcado pela maturidade política, sendo hoje uma referência entre as democracias do continente africano.
Na sua intervenção, o Presidente português estruturou a mensagem em seis palavras-chave, entre as quais destacou a solidariedade, o reconhecimento e a gratidão.
“Terceira palavra, o reconhecimento pela vossa inteligência, sabendo usar a nossa língua comum (…), mas sabendo também enriquecê-la com os vossos crioulos juntando língua com plataforma universal entre oceanos, continentes e povos e língua com uma afirmação própria e inconformidade”, disse.
Marcelo Rebelo de Sousa evocou também os laços históricos entre Portugal e Cabo Verde e a capacidade dos dois povos em transformar relações complexas em proximidade e cooperação genuína.
O Presidente português concluiu com uma nota de esperança, afirmando que a juventude cabo-verdiana representa a certeza de um futuro sólido para o país, que está preparado para enfrentar os próximos 50 anos.
Secretária-geral adjunta das Nações Unidas
No seu discurdo, a Secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Amina Mohammed, referiu que o 5 de Julho é para celebrar não apenas o passado partilhado, mas também o compromisso com um futuro mais justo, mais humano, para todos.
Amina Mohammed reforçou a importância de lembrar os fundamentos da Carta das Nações Unidas. “Hoje somos a ONU80 e precisamos realmente de nos lembrar porque é que a Carta existe”, disse, considerando que muitos dos princípios da organização estão espelhados nas constituições dos países africanos pós-independência.
Em relação ao progresso de Cabo Verde, apontou os avanços registados nas últimas décadas, com ênfase na área da saúde e da educação. Referiu, como exemplo, a redução da taxa de mortalidade materna de 112 para cerca de 11 por 100 mil nascimentos.
“No meu país, esse número já foi de 1.200, e ainda estamos nos 500 ou 600. Ver estes resultados aqui é algo extraordinário”, elogiou.
Sobre o futuro da cooperação internacional, Amina Mohammed defendeu uma mudança de paradigma. Considera que o modelo tradicional de ajuda externa deve ser substituído por investimentos em desenvolvimento humano e acção climática.
“Ainda precisamos de apoio, mas com uma nova mentalidade: investimento na humanidade. É preciso responder às aspirações dos países e não aplicar soluções padronizadas”, referiu.
Para a dirigente da ONU, o futuro passa por parcerias mais honestas, baseadas na escuta mútua e na valorização das visões nacionais. “Muitos dos nossos países hoje têm visões muito claras e estão a avançar com ou sem nós. E seria melhor que avançassem connosco”, afirmou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1232 de 9 de Julho de 2025.