Numa análise geral ao estado da nação. Como está o país, na sua opinião?
Cabo Verde está hoje mais resiliente, mais dinâmico, mais competitivo e está melhor do que estava uns anos atrás e está mais preparado e mais ambicioso para daqui a uns anos estar muito melhor, respondendo aos desafios que ainda persistem. Saímos de uma conjuntura difícil provocada por crises globais sucessivas, pandemia, crises energéticas, conflitos geopolíticos, inflação global, com estabilidade macroeconómica reforçada e sinais claros de retoma económica.
Cabo Verde vive hoje um momento de afirmação no contexto africano e mundial. Não estamos aqui para negar as dificuldades, mas sim, enfrentá-las. O País voltou a crescer, com um desempenho económico notável: 7,3% de crescimento em 2024, inflação controlada, o turismo superou os níveis pré-pandemia, ultrapassando a meta de um milhão de turistas; o desemprego caiu para o patamar mais baixo de sempre desde a nossa independência e a dívida pública registou uma redução significativa, investimento privado em alta, a pobreza a diminuir de forma sustentável e consistente, contas públicas controladas, o deficit habitacional a diminuir, apesar de ainda subsistir desafios.
O reconhecimento internacional, como a recente reclassificação de Cabo Verde pelo Banco Mundial como País de Rendimento Médio-alto é um marco histórico, que reconhece o percurso de reformas estruturais, modernização económica e aposta contínua no capital humano e na transição digital e energética.
Temos plena consciência de muitos dos problemas que enfrentam os Cabo-verdianos, das dificuldades e das suas inquietações, mas estamos a trabalhar para os resolver. Particularmente no domínio dos transportes, reconhecemos que temos ainda um longo caminho a percorrer para a sua consolidação, mas estamos melhor do que a herança em 2016.
Como analisa o diálogo do governo com os cidadãos e as respostas às suas necessidades?
O Governo do MpD tem colocado os cidadãos no centro da acção governativa e os resultados demonstram. Esse é um dos nossos maiores compromissos e, diria, também uma das nossas maiores forças. Apostamos numa governação próxima, participativa, e sobretudo, transparente.
A governação tem privilegiado o princípio da subsidiaridade e da proximidade, seja através de visitas às ilhas e comunidades, da auscultação pública na elaboração de políticas, ou da digitalização de serviços que colocam o cidadão no centro da acção pública. O Executivo tem ouvido, dialogado e actuado, com resultados visíveis: mais apoio às famílias vulneráveis, políticas para a juventude, soluções para o sector agrícola e pesqueiro, novos programas habitacionais e investimentos em educação e inovação.
Numa altura em que o populismo começa a tomar conta do espaço político global, acha que o governo tem feito tudo o que pode para promover a transparência, o combate à corrupção e o fortalecimento das instituições democráticas?
Sem qualquer dúvida, Cabo Verde é e continuará a ser uma referência em termos de boa governação a nível mundial e respeito pelos princípios democráticos. Sabemos que o populismo alastra de uma forma galopante na Aldeia Global como a maior ameaça ao Estado de Direito Democrático. Reconhecemos as novas formas de se fazer política, recorrendo-se ao populismo e à demagogia. No entanto, sabemos que este não é, nem pode ser, o caminho para a resolução dos problemas. Cabo Verde continua firme e forte a dar combate sem tréguas a estes fenómenos, impulsionando o seu crescimento económico, através de implementações de medidas estruturantes de índole económico-social.
Temos a consciência que há um longo caminho a percorrer e que é urgente reforçar a capacidade das famílias. O Governo do MpD liderado por Ulisses Correia e Silva tem a consciência que Transparência não é apenas um compromisso ético. É o alicerce do desenvolvimento sustentável. A transparência afeta a confiança e a confiança é importante no relacionamento do Estado com os cidadãos e na relação com os parceiros de desenvolvimento, com as empresas e com os investidores.
A boa reputação internacional de Cabo Verde tem-se construído na base da estabilidade, da boa governação e de baixos riscos relacionados com a corrupção nos últimos nove anos.
Rankings internacionais produzidos por instituições credíveis colocam Cabo Verde bem classificado nos Índices da Democracia, daPercepção da Corrupção, da Boa Governação, da Liberdade de Imprensa e da Liberdade Económica.
O Governo dotou o país de mecanismos de reforço da informação e fiscalização da atividade financeira e administrativa do Estado: O novo Estatuto do Tribunal de Contas; o novo Estatuto da Inspecção Geral das Finanças; A criação do Portal do Ministério das Finanças ; A criação do Conselho de Finanças Públicas; A Lei de Acesso e Reutilização de Documentos Administrativos, aprovada em 2022; o Código de procedimento Administrativo, aprovado 2023; Cabo Verde foi dotado do II Plano de Acção Nacional de Governação Aberta para 2023; o Portal da Transparência e dotamos o país de uma instituição de prevenção da corrupção - o Conselho de Prevenção da Corrupção - criado para detectar e prevenir riscos de corrupção.
O mundo nunca será melhor se governado por populistas; não protegemos os mais necessitados se continuarmos a validar a fomentação do ódio e a divisão das sociedades em novas “lutas de classes”. Não iremos sobreviver enquanto sociedade se não nos focamos na essência, as pessoas. Vivemos numa era de “likes” e “soundbites”. A política passou a ser feita de frases fortes que enchem manchetes de jornais ou são repetidas até à exaustão por um exército de perfis numa busca constante por criar uma única verdade social que, na maioria das vezes, não corresponde à realidade do mundo.
O que podemos esperar para o futuro do país em termos de desenvolvimento económico e social?
O país está no caminho seguro. No ano em que celebramos 50 anos de independência, Cabo Verde alcançou um marco histórico no seu percurso de nação soberana e resiliente.
O futuro de Cabo Verde é promissor porque estamos a construir hoje as bases para um amanhã mais sustentável e inclusivo. Estamos a investir fortemente na economia azul, digital e verde, porque sabemos que o nosso mar e os nossos recursos naturais são riquezas que devem ser bem geridas para gerar mais empregos e rendimento.
Estamos igualmente comprometidos com a transição energética, rumo a um Cabo Verde mais independente e mais amigo do ambiente, e com a transformação digital, que é essencial para preparar os jovens para os empregos do futuro e serem cidadãos do mundo.
Além disso, queremos continuar a reduzir as desigualdades sociais e a garantir que ninguém fica para trás. É uma visão ambiciosa, mas é isso que nos move: criar um Cabo Verde justo, competitivo e com oportunidades para todos. Tudo isso deverá passar pela diversificação da nossa economia, inovação e sustentabilidade.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1234 de 23 de Julho de 2025.