“Há momentos em que as pessoas devem sair à rua, em que é preciso mostrar que não estamos satisfeitos, porque só assim se resolvem os problemas”, disse à Lusa, João Cardoso, responsável pela página no Facebook.
João Cardoso disse que a falta de adesão à manifestação de terça-feira, contra os apagões que duram há um mês, na capital, foi a gota de água.
Apesar de a mensagem que partilhou ter tido um alcance superior a 90 mil visualizações e de mais de 300 pessoas terem confirmado presença, só 20 compareceram.
“Cansámo-nos de carregar sozinhos o peso dessa luta cívica. Estamos esgotados e frustrados. Não podemos continuar a ser os únicos a remar contra a maré, enquanto os outros observam. Por isso, anunciamos que o Provedor da Praia CV chegou ao fim”, escreveu, na última mensagem publicada na página.
Engenheiro civil, 62 anos, criou a página em abril de 2016, de forma voluntária, para “preencher um vazio” e “melhorar a qualidade de vida” na capital.
O projeto foi crescendo e ganhando seguidores: quase todos os dias havia publicações e encaminhamento de queixas sobre ruturas de condutas de água, esgotos, estradas danificadas, problemas de telecomunicações, energia ou dificuldades de atendimento nos bancos ou serviços públicos.
“Pessoas amedrontadas, que não queriam dar a cara com medo de represálias, queixavam-se e eu fazia essa triagem, publicava os assuntos e muitos problemas ia sendo resolvidos”, descreveu.
Algumas empresas públicas chegaram a estabelecer canais de comunicação com a página, para dar tratamento mais célere às reclamações, explicou.
A crise de energia que se vive na ilha de Santiago, com avarias sucessivas na central elétrica e sem prazo para resolução, motivou uma “avalanche” de queixas, mas “na hora de sair à rua”, faltou mobilização, disse João Cardoso.
“Já tenho muitos inimigos, já me agrediram verbalmente nas redes sociais e na via pública”, por conta das publicações, acrescentou, ao justificar o fim da página.
Segundo referiu, “há qualquer coisa que não bate certo”, entre as avaliações que apontam Cabo Verde como um exemplo de democracia em África e a falta de participação cívica da população.
“Quando se faz uma atividade musical, a adesão é rápida. Mas quando se trata de assuntos do dia-a-dia, ninguém aparece”, concluiu.