“Santa Cruz está a mudar” - Carlos Alberto Silva

PorAntónio Monteiro,28 jul 2019 10:41

Quem visitar a Cidade de Pedra Badejo por estes dias de festa ganha logo a impressão que a capital do município está mais atractiva, mais segura e com casas mais coloridas. Mas o grande objectivo, como firma Carlos Alberto Silva nesta entrevista, é transformar Santa Cruz no maior centro produtor e distribuidor de produtos da região de Santiago Norte.

Para a materialização deste objectivo o autarca enumera as principais peças deste puzzle: a construção das estradas de penetração das principais ribeiras como forma de garantir uma rede de circulação de produtos agrícolas para os mercados vizinhos. As obras estão em curso ou já fazem parte da agenda do governo. Outra peça importante é o dossiê Justino Lopes com vista a reabilitar aquele que já foi o maior complexo agroalimentar e o maior exportador de bananas do país nas décadas de 60, 70 e 80. O dossiê está sendo trabalhado entre a câmara, o governo e outros parceiros e já está praticamente a chegar ao fim. A outra peça é a criação de um parque industrial e de uma central de compras de Cabo Verde que também está num ritmo bastante avançado. A última peça é a construção de um porto comercial na Cidade de Pedra Badejo que pelos elevados custos não teria de ser construído exclusivamente pelo Estado, mas numa parceria público/privado. “É este o caminho que já estamos a andar e já com bons resultados”, enfatiza Carlos Alberto Silva.

As festividades já estão se aproximando do ápice.

As festividades de Nhu Santiago Maior e do Dia do Município de Santa Cruz decorrem desde meados do mês de Maio com actividades culturais, desportivas e recreativas e já estão caminhando para o fim. No domínio da cultura, o ponto alto foi o festival de música da Praia de Areia Grande. Estamos a falar de um dos melhores festivais de Cabo Verde que já vai na sua 27ª edição. As festividades culminarão esta quinta-feira com uma missa solene, em honra do santo padroeiro.

Tem afirmado desde o início do seu mandato que o seu maior desafio é tornar o município cada vez mais atractivo. A pouco mais de um ano do final de mandato que ganhos pode apresentar?

Na verdade, o município de Santa Cruz está a mudar para melhor. Desde o início do nosso mandato assumimos como principal desafio tornar Santa Cruz num município desenvolvido com um bom nível de qualidade de vida e justiça social. Este foi o nosso foco e está sendo trabalhado nesta perspectiva. Os que visitam Santa Cruz terão seguramente oportunidade de confirmar aquilo que foi o nosso compromisso para este mandato. É certo que estamos a falar de um mandato que ainda não completou sequer três anos e que pelo meio convivemos com dois anos consecutivos de seca. Sabendo da realidade e da especificidade deste município com grande vocação agrícola e pecuária, torna-se claro que é um dos concelhos mais fustigados e afectados pela seca. Mesmo assim, tendo em conta o foco e a nossa agenda, creio que conseguimos manter viva a esperança dos santa-cruzenses e constatamos no nosso dia-a-dia que há cada vez maior auto-estima das pessoas e que estão a acreditar num Santa Cruz melhor. De facto, a maior obra que queremos materializar neste concelho é elevar a auto estima das pessoas. Estamos a falar de uma obra intangível, daquilo que não se vê, mas para garantirmos o desenvolvimento do município de Santa Cruz temos que apostar na auto-estima das pessoas. As pessoas têm que acreditar para podermos juntar as mãos e juntos trabalharmos para conseguirmos um futuro melhor. Como disse, Santa Cruz está a mudar e nós queremos que seja o maior centro produtor e distribuidor de produtos da região de Santiago Norte e que seja uma referência a nível da segurança alimentar. Já estamos nessa caminhada porque desde o início do mandato nós desenhamos essa agenda económica para podermos fazer com que a economia local cresça para podermos realizar o social. Isso tem sido a nossa aposta em parceria com o governo e com outros parceiros estratégicos do desenvolvimento de Santa Cruz no sentido de dinamizar todo o potencial económico do município. Desde o início definimos as grandes prioridades para o desenvolvimento do concelho em forte articulação com o governo. Posso garantir que, na verdade, o governo compreendeu a visão da câmara. Estamos bem alinhados e já estamos a ter sucesso.

Quais são as grandes prioridades para o desenvolvimento do município?

Uma das nossas grandes prioridades foi desde o início a construção de estradas de penetração das ribeiras de Santa Cruz. Estamos a falar de um município feito de ribeiras. São cerca de oito ribeiras com grande potencial agrícola e também turístico. O governo lançou agora a primeira pedra para a construção da estrada de penetração da maior ribeira agrícola de Cabo Verde, nomeadamente a Ribeira dos Picos que tem impacto a nível nacional, pois consegue colocar os seus produtos nos mercados do país, sobretudo nas ilhas turísticas, com repercussão nos preços desses mesmos produtos.

Concretamente o que já foi feito para dinamizar o potencial económico do município?

Para materializar o nosso desejo de tornar Santa Cruz no maior centro produtor e distribuidor de produtos da região teríamos de começar pelas estradas de penetração. Como sabe a agricultura é praticada nos vales e nas ribeiras e tínhamos que desencravar as ribeiras para que os produtos escoassem com maior fluidez e num curto espaço de tempo. Então isso já temos. Felizmente todas as ribeiras do município de Santa Cruz já fazem parte da agenda do governo e a construção das estradas já está publicada no Boletim Oficial. A questão agora é a sua calendarização. Como disse, começamos com a estrada de penetração da Ribeira dos Picos, já foi lançada a primeira pedra e acredito que a obra já esteja a andar para a construção da estrada que liga Boa Entradinha, no município de Santa Catarina, passa pelo município de São Salvador do Mundo e chega a Santa Cruz. A seguir temos as outras ribeiras que já estão também publicadas no B.O., cuja calendarização depende do governo. Em princípio, também vai já ser lançada a primeira pedra para a construção da estrada que liga Porto Madeira-Baixo a São Cristóvão, Caiumbra e Ribeira Seca. E assim sucessivamente vai-se continuando com as outras ribeiras até as obras serem concluídas. Esse foi o primeiro passo para chegarmos a um município produtor e distribuidor de produtos da região. Primeiro tínhamos que desencravar as ribeiras para podermos dinamizar o potencial agrícola de Santa Cruz. Isto já está. A seguir temos o dossiê Justino Lopes. A maior parte das pessoas ainda se lembra que Justino Lopes já foi o maior complexo agro-alimentar do país e já foi o maior exportar de banana do país nas décadas de 60,70 e 80. Queremos revitalizar esse antigo complexo agro-alimentar. É claro que isso exige um trabalho devidamente articulado entre a câmara, o governo e outros parceiros, mas esse dossiê já está praticamente a chegar ao fim. Portanto, a primeira peça para a transformação do município no maior centro produtor e distribuidor de produtos da região são as estradas de penetração das ribeiras de Santa Cruz, outra peça é Justino Lopes, estamos a falar de um parque agro-industrial que está sendo também trabalhado, estamos a falar também da primeira central de compras de Cabo Verde que também está num ritmo bastante avançado e a última peça é a construção de um porto comercial na Cidade de Pedra Badejo. Portanto, já estamos nesse caminho, trabalhando peça por peça e depois vamos montar todas essas peças como um puzzle. Ou seja, estradas de penetração, Justino Lopes, parque agro-industrial, central de compras e naturalmente viria o porto que, pelos custos que acarreta, não teria que ser construído exclusivamente pelo Estado, mas numa parceria público/privado. Portanto, é este o caminho que já estamos a andar e já com bons resultados. Obviamente tudo isso pressupõe uma aposta forte na capacitação e na qualificação do capital humano.

Leio que a taxa da execução do plano de actividades de 2018 atingiu os 72%. Está dentro da média nacional?

Sim, a média nacional situa-se entre 70 e 80 por cento. Não é possível ir muito mais além, porque dentro do município há muitos desafios. Veja, estamos agora na época das chuvas. É claro que a expectativa agora é que chova e que haja boas azáguas. É isso, mas pode não chover e aí a edilidade terá que fazer alterações ao que já estava planificado. Permita-me que exponha aqui uma pequena reflexão sobre a problemática da chuva. Nós os cabo-verdianos estamos sempre a falar da chuva, mas a chuva é algo que não existe em Cabo Verde. Por outro lado, se chover mesmo, o Estado de Cabo Verde tem de recorrer ao exterior pedindo ajuda para corrigir os estragos causados pela chuva. Se não chover, o Estado terá também que recorrer à ajuda externa para salvar as pessoas e os animais. Por isso, na minha opinião, devíamos falar menos da chuva e mais da água. É que o problema não está na chuva, mas na mobilização da água. Paradoxalmente Cabo Verde está cercado de água por todos os lados, entretanto somos ciclicamente fustigados pela seca. Por isso propunho que se criasse um Ministério da Água. Neste sector muitas coisas já foram feitas, mas, na verdade, é necessário uma política forte voltada para o sector da água. É esta situação que nos inquieta sempre e complica a materialização de qualquer plano de actividade aprovado num ano económico num município como Santa Cruz.

Santa Cruz é dos poucos municípios de cor política diferente do partido que suporta o governo. Como tem sido o relacionamento entre as duas partes?

Há um bom relacionamento entre a Câmara Municipal de Santa Cruz e o Governo. Basta ver que as grandes prioridades que nós elencamos para o município de Santa Cruz já fazem parte da agenda do governo. Eu digo sempre que os autarcas devem criar condições para facilitar o governo na implementação da sua política local, porque quem sabe das suas reais necessidades são os autarcas. Não é o governo que vem da Praia dizer ao autarca para fazer isto e aquilo. Eu acho que o autarca é que deve identificar os projectos e ir ao governo dizer-lhe “olhe, para o município são essas as dificuldades, são esses os desafios que queremos trabalhar em parceria”. Portanto, é desta forma que vejo o relacionamento e a esse nível estamos satisfeitos, porque na verdade somos bem-recebidos, as nossas ideias foram sempre acatadas, as nossas preocupações foram levadas sempre em conta. É claro que há sempre espaço para muito bom, pois quando se fala de bom significa que de bom para muito bom ainda há muito caminho a percorrer. Mas até aqui eu posso garantir que o relacionamento tem sido bom.

Estamos a pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas. Já pensou numa eventual recandidatura?

Para responder à sua pergunta, diria o seguinte: estou sempre disponível para servir o meu município. Posso afirmar aqui que gosto do meu concelho e tenho orgulho do meu povo. Não estou a falar do povo de partidos, mas do povo de Santa Cruz. Não é por acaso que o projecto que estamos a materializar chama-se ‘Santa Cruz acima de tudo’. Estou preocupado sim, não com as próximas eleições, mas em terminar o mandato com desempenho positivo. Ou seja, cumprindo os compromissos da nossa plataforma eleitoral. Temos ainda um ano para trabalhar, mas é claro que não vamos começar a trabalhar agora, começamos desde o início. Na verdade, temos projectos, temos financiamentos, mas a sua materialização nem sempre se concretiza apenas com dinheiro e projectos. Isso depende de muitas coisas. Isso preocupa-nos bastante e vamos agora acelerar para atingirmos a nossa meta que é terminar o mandato com desempenho positivo. Estou sempre disponível para servir o meu município e se eu receber um convite bem feito, seguramente que irei analisá-lo e me posicionar. Sendo possível estarei disponível para continuar, pois sei que tenho ainda muito para dar. Estou seguro de que se eu for para o próximo mandato o município irá ganhar muito mais. Obviamente que num mandato de apenas quatro anos ninguém conseguiria pôr de pé os grandes projectos para o desenvolvimento do município. Como eu disse, estou disponível para mais um mandato, mas se houver um convite como deve ser, não para disputas internas dentro do meu partido. Para ser presidente da câmara é necessário muito sacrifício, é preciso ceder e é preciso pôr o interesse do município acima de tudo. Se for nesta direcção, estarei disponível.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 921 de 24 de Julho de 2019. 

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Autoria:António Monteiro,28 jul 2019 10:41

Editado porJorge Montezinho  em  28 jul 2019 12:48

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