Fernando Rocha Delgado: “Sou o candidato mais focado e considero-me já um dos candidatos mais fortes nesta luta”

PorSheilla Ribeiro,26 set 2021 8:13

Fernando Rocha Delgado considera que mesmo sendo o candidato mais pobre, em termos financeiros, é o mais focado e um dos mais fortes na corrida presidencial. Para este cidadão, se vencer as eleições do próximo dia 17, o país também será vencedor por ele ser um “homem de diálogo, equilibrado e com algum grau de sensibilidade”.

O que motiva a sua candidatura?

A minha motivação veio na sequência de ter visto vários desequilíbrios a nível nacional. Esta candidatura foi motivada há mais de 17 anos, quando pela primeira vez, com 22 anos, elaborei um abaixo-assinado a favor de um salário mínimo em Cabo Verde. Era precisamente quando os empresários chineses tinham chegado ao país e, principalmente as mulheres, tinham um salário entre cinco e cinco mil e quinhentos escudos. Foi num momento em que parei por um período de três meses a minha formação em psicologia para uma breve reflexão. Acabei por fazer esse abaixo-assinado para que em Cabo Verde pudesse haver um salário mínimo. Recolhi 3.900 assinaturas em Santo Antão, São Vicente, Sal, Boa Vista e Praia que foi entregue à Direcção-Geral do Trabalho. A deslocação de São Vicente para Praia foi auxiliada pela então presidente da Câmara, Isaura Gomes, a quem devo grande respeito e um grande favor até hoje. Esta é uma das motivações da minha candidatura. Depois de me formar em Engenharia Naval, tendo já iniciado as minhas funções no sector, vi muito desequilíbrio e desigualdade no sector marítimo em relação a outros sectores profissionais. Um deles é que é anormal que um marítimo, que entra no sector marítimo aos 17 anos, só aos 65 anos vá para a reforma. Sem falar de outros constrangimentos que afectam esta classe. Estando eu como presidente da Associação dos Marítimos, tentei ver o que poderia fazer para ajudar esse sector mas a minha voz nunca foi ouvida. Como tal, é uma das grandes motivações também para estar nesta candidatura para Presidente da República.

O que faz de si um candidato diferente dos demais?

Eu sou um candidato cujo objectivo primordial é reforçar a democracia e estimular os jovens ao espírito de liderança, responsabilidade pelo comando e lutar pelo equilíbrio em todas as classes sociais.

Procurou algum apoio partidário?

Não. Logicamente, nenhum desses partidos iria apoiar-me. Sou independente, nunca tive filiação em nenhum desses partidos, uma vez que nunca nenhum deles me transmitiu confiança. Os cabo-verdianos já estão cansados com a venda de ilusões da maior parte dos políticos que estão integrados nos dois grandes partidos. No tempo da campanha prometem ouro e prata, mas depois, quando estão a exercer as funções, não cumprem o que prometeram.

Então, com que apoios é que conta?

Sou um jovem que já está a dar que falar em Cabo Verde. Um jovem que está a arrastar muita juventude consigo, de Santo Antão à Brava. Inclusive ontem, perguntaram-me se já tinha estado em algum município e respondi que já visitei todos os 22 municípios. Sou engenheiro, mas nessa candidatura, ou mesmo antes, tenho vindo a funcionar como sociólogo. Acho que sou a pessoa ideal para exercer esta função e, sinceramente, penso que o cheiro do meu perfume e a minha voz já estão a criar muitas especulações.

Do seu ponto de vista, como está o país?

O país, sem dúvida, está uma lastima, está mal, começando pela segurança, justiça, saúde, educação, transportes marítimos e aéreos. Sinceramente, está péssimo, mas quem está cá dentro está a ver aquilo de que estou a falar. De Santo Antão à Brava, o país precisa de um choque porque está numa hipnose profunda. Ou seja, um atraso profundo e o país precisa ser acordado. Por exemplo, na Justiça. Todos estamos a ver como ela está a funcionar. A nossa Segurança está com fraudes e fracturas, os transportes marítimos e aéreos são uma lástima. No meu caso, quero deslocar-me a todas as ilhas durante esta campanha, mas não estou a ver muito essa possibilidade por causa dos transportes. E não há, provavelmente, um consenso, para facilitar a transmissão da nossa mensagem. Eu, por ser um candidato independente e um dos candidatos a Presidente da República mais pobres da história da política, não estou com medo. Sinceramente, mesmo sendo o mais pobre em termos financeiros, sou aquele que está mais focado e considero-me já um dos candidatos mais fortes nesta luta.

Se vencer, como será a sua relação com o governo?

Se eu vencer a minha relação será para o bem do povo. Não vou, em nenhum momento, criar argumentos contra o governo e nem quero ser um supra Ministro. Mas, sinceramente, se eu for o representante do povo, e é isto que eu quero ser caso seja eleito, vou forçar o governo a respeitar todos os direitos dos trabalhadores e de toda a população em geral. Porque precisamos de um Presidente que faça respeitar os direitos fundamentais de qualquer trabalhador.

E se perder? Voltará a candidatar-se em 2026?

Sim, vou estar por aqui. Vou dar continuidade àquilo que faço todos os dias. Para além da função que desempenho, tenho três livros para serem lançados, um intitulado “A Vida dos Marítimos”, um sobre a minha mãe que já não está entre nós e outro sobre os aventureiros do norte. Todos os livros estão quase a sair e caso não seja eleito, vou-me dedicar a eles e a outros projectos sobre perfume que pretendo lançar em Cabo Verde.

Mas voltará a candidatar-se?

Estas eleições ainda não aconteceram e eu não tenho dúvidas de que serei o vencedor. Então só depois das eleições poderei responder a esta questão.

Acredita que a actual Constituição cabo-verdiana serve para os dias de hoje?

A Constituição não ajuda em nada, precisa de uma mexida o mais urgente possível. Sem contar que os poderes do Presidente da República são limitados. Precisamos de uma Constituição que dê mais poderes ao Chefe do Estado e que não fique apenas no papel, que seja cumprido.

Quando fala de mais poderes para o Chefe de Estado, o que está a defender especificamente?

Há já candidatos que querem uma revisão na totalidade, eu não digo isso, porque está fora de questão. Acho que seria um exagero. Mas, é lógico que precisa de alguma revisão por exemplo nas questões judiciais. Os poderes atribuídos ao Presidente da República em relação aos desfechos judiciais. Os juízes tomam as decisões que bem entendem e o Presidente fica de lado. O Presidente várias vezes já disse que os processos estão nos Tribunais e se ficarem 50 anos nos Tribunais têm de se deixar lá? Não. Por isso é preciso fazer uma revisão neste sector. O Presidente teria que ter um poder para que pudesse forçar os juízes, para, além de trabalharem com seriedade, que façam as coisas acontecerem a tempo.

Se vencer, como irá exercer a sua presidência?

Será uma Presidência focada nos cidadãos. O meu foco estará centrado nas aulas de cidadania, irei ter constantemente ter encontros com o Chefe do governo para que, juntos, possamos atacar os problemas de Cabo Verde. Irei encontrar-me com todos os órgãos da soberania, o Governo, a Assembleia Nacional e os Tribunais e, juntos, com o diálogo, é possível. E porque Cabo Verde é um país pequeno, estou com expectativas e ideias próprias, e algumas baseadas no Presidente de El Salvador, um dos presidentes mais novos do mundo, Nayib Bukele. Ele diz que não força ninguém a fazer, você é obrigado a fazer desde que saiba a sua missão.

E o que é que o país ganha consigo como Presidente da República?

Cabo Verde é um país jovem, em relação a outros países, porque estamos a poucos anos da independência, e precisa de um jovem. Sinceramente, os outros que já lá estiveram, já deram provas do que fazem e o que vão fazer. Como Presidente da República, o país vai, sem dúvida, ganhar porque sou um homem de diálogo, bom cidadão, equilibrado e com algum grau de sensibilidade. É como digo, hoje não sou apenas um engenheiro, sou um sociólogo. Um bom Presidente da República tem de estar no terreno, junto da sociedade, saber como está o país está, para que quando estiver a falar, fale em primeira pessoa. Para que não fale aquilo que lhe foi transmitido, em terceira pessoa. Cabo Verde precisa de um Presidente activo e é isso que eu quero ser. Quero ser um Presidente activo, presente e consciente da realidade do povo e do nosso país.

Já que mencionou que é o candidato jovem, que medidas considera que devem ser tomadas para combater o aumento da taxa de abstenção e da quantidade de jovens cada vez menos informados em relação à política?

Em princípio, acho que é necessário fazermos uma campanha séria, porque os jovens não estão tão tolos assim. Os jovens têm visto os políticos como vendedores de ilusões. Então, a razão desta alta taxa de abstenção advém disso. Estou a falar em primeira pessoa, pois é a conversa que tenho tido com vários jovens. Vários jovens já me disseram que não vão votar porque os políticos são todos mentirosos. Esta é a expressão que estão a usar, [dizem] que não confiam em nenhum e essa é a razão porque não vão votar. Tenho-lhes garantido que sou uma peça nova que está a entrar na área e com um objectivo diferente. Tenho os jovens na linha da frente. Caso seja eleito vou-me sentar com o governo e traçar metas a favor dessa camada jovem. Teremos que fazer uma política séria, mostrar aquilo que temos para lhes dar e quais são as vantagens e desvantagens em não votar. Se for eleito, quando entrar, irei inteirar-me de muita coisa. Tenho que entrar e saber como é que a casa está e só depois delinear algo, dado que os jovens precisam da atenção dos políticos. A alta taxa de abstenção advém de várias razões. Alguns queixam-se que, estando licenciados ou formados em qualquer área, estão sentados em casa porque outros que são reformados estão a tomar-lhes lugar e isso é pura verdade. Respondendo a essa questão, quero é que o sistema procure expulsar todas as pessoas que estão reformadas e dar oportunidade aos jovens.

Que intervenções para a diáspora?

Tendo em conta que somos um país que é acarinhado pelos nossos emigrantes e pelos países irmãos, porque nós dependemos desses países, na qualidade de Presidente irei continuar com o diálogo junto desses países, para que esses emigrantes sejam úteis a Cabo Verde. E, sem dúvida que vou tentar levar a minha morabeza, a morabeza do país e a minha força de vontade, para tentar mobilizar algo para o nosso país.

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Quem é Fernando Rocha Delgado

Fernando Rocha Delgado, 40 anos de idade, natural de Santo Antão, é engenheiro naval e mestre em direito marítimo e comércio internacional. Com 15 anos deslocava-se frequentemente a São Vicente por ser amante do futebol e da moda. Aos 18 anos entrou no serviço militar e depois iniciou uma formação em psicologia. Entretanto, não concluiu a formação por considerar que já era um psicólogo enquanto conselheiro dos colegas. Actualmente presta serviço em engenharia naval quer a nível nacional, quer internacional.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1034 de 22 de Setembro de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,26 set 2021 8:13

Editado pormaria Fortes  em  30 jun 2022 23:28

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