"Nas próximas eleições vamos ter uma mulher à frente de uma lista para a Câmara Municipal"

PorAndre Amaral,25 nov 2022 8:00

​A autarca de Santa Catarina, Jassira Monteiro, diz ter a certeza que nas próximas autárquicas vai liderar a lista do MpD à Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago. Quanto à sua gestão diz que passados dois anos o balanço é positivo.

Vai cumprir dois anos como Presidente da Câmara, como tem sido o mandato?

Passados dois anos faço um balanço positivo, porque o primeiro ano foi difícil não só pela consequência da crise provocada pela crise, mas também pelo choque que tivemos com a morte do Presidente. De repente cai-me a gestão da Câmara em cima e havia que estudar os dossiers e estar à vontade com certos assuntos e pastas. Agora, passados dois anos, o balanço que eu faço é positivo. O município já está outra vez na onda do desenvolvimento com obras, com infraestruturas a serem reabilitadas, com projectos novos, com concursos, com apoios nas diversas áreas, com retoma económica, com a nossa economia local a ser todos os dias desenvolvida e potencializada. A Câmara está sempre a mediar ou a apoiar. O balanço é claramente positivo, sobretudo nesta altura em que o município comemora 188 anos. Quem anda na cidade sente o burburinho, o barulho das festas e das actividades culturais que culminam no dia 25 com a celebração da missa de Nha Santa Catarina. O balanço tem de ser positivo, hoje temos a nossa auto-estima em alta, porque o município já sente o pulsar desta nova equipa nas várias áreas.

Tem recebido críticas por causa do cartaz que fez para o festival. Críticas que dizem que a Câmara deveria canalizar a verba gasta em outras prioridades...

Nós temos de aprender a lidar com as críticas, elas vão existir sempre. Ou é porque o cartaz é muito ousado ou porque fica aquém do esperado. Nós queremos entrar na senda dos grandes festivais e para isso temos de ser ousados. Agora o festival não pode ser visto como um gasto, porque o festival tem retorno. Há toda a economia local a girar à volta do festival: as unidades hoteleiras, os operadores económicos, os próprios artistas. Depois quisemos fazer um festival grande para chamar as pessoas a visitar o nosso município, não só pessoas de Santiago, mas das outras ilhas ou até do estrangeiro. Queremos igualmente que parte da receita reverta para a área social, para a reabilitação de casas de famílias carenciadas. Sobretudo porque temos aqui no município uma grande necessidade a nível da habitação social. Ainda que a Câmara esteja a dar uma resposta satisfatória, ainda não é o expectável porque ainda precisamos de mais. Todos os dias temos audiências de pessoas que vêm pedir apoio seja para cestas básicas, apoio com propinas, apoio para assistência médica e medicamentosa. Portanto, parte das receitas do festival revertem a favor das famílias mais carenciadas. Para além de todo o ganho que a economia local tem, a área social também sai a ganhar. Consideramos que o festival é um investimento e não um gasto.

É a única mulher à frente de uma autarquia em Cabo Verde. É diferente ser uma mulher a liderar uma câmara municipal?

É diferente porque as mulheres têm as suas particularidades assim como os homens. Eu acho que já causou mais espanto e mais choque. Culturalmente ainda são caminhos que estamos a começar de percorrer. A Lei da Paridade fez um trabalho excelente ditando a percentagem de participação de mulheres nas listas, mas na prática ela ainda não é suficiente porque ainda é preciso ultrapassar alguns obstáculos culturais. Por exemplo sou a única mulher presidente. Mas não tivemos nas eleições nenhuma mulher a encabeçar as listas para as câmaras. Aquilo que eu sinto é que temos caminho para fazer, mas fora o choque inicial de ser uma mulher à frente da Câmara, eu acho que neste momento as coisas correm de forma natural. Sou presidente, sou mulher, tenho as minhas particularidades que até são benéficas sobretudo para tratar as questões do género, as questões relacionadas com as mulheres, sem que isso signifique que não tenha sensibilidade para tratar das questões dos homens. Eu acho que para termos uma sociedade cada vez mais paritária, justa e equitativa temos de trabalhar ambos os sexos.

Nas próximas vamos ter?

Vamos. Sem dúvida. Nas próximas vamos ter uma mulher à frente de uma lista para a Câmara Municipal.

O que é que a move?

Eu entrei na política activa em 2016 por convite do candidato Beto Alves, na altura ainda não era Presidente. É a vontade de servir, o que nos move todos os dias é a vontade de servir, a vontade de deixar Santa Catarina cada vez melhor.

E Santa Catarina está a ficar melhor?

Santa Catarina está a ficar melhor. Basta visitar e ver as obras em curso e as obras que em breve se vão iniciar. O nosso mercado está cheio. Assomada está neste momento a conhecer uma nova largada e uma largada de desenvolvimento, sem dúvida.

Sente que está a conseguir que Santa Catarina seja uma alternativa à Praia?

Santa Catarina é alternativa à Praia. Temos toda uma série de infraestruras para ser alternativa à Praia a nível da Cultura, do Desporto, do Turismo. Sabendo que não temos o potencial do turismo de praia, a nossa paisagem tem de ser potencializada, tal como a nossa cultura. Daí que a nossa oferta turística esteja muito virada para o turismo rural, o turismo de montanha, o turismo cultural, religioso e até gastronómico. Nós somos conhecidos por termos uma gastronomia rica, uma cultura rica. Nós somos a terra das revoltas. Temos projectos para centros interpretativos que vão dar a conhecer as várias revoltas que aconteceram no município. Vamos reabilitar algumas infraestruturas e vamos construir algumas no sentido de criar ofertas para que haja realmente mais e melhores condições e para que quem venha a Santa Catarina tenha vontade de ficar, de voltar e de sugerir a outros para que nos visitem.

Um município do interior tem sempre outras dificuldades. Quais são os grandes problemas que estão a afectar Santa Catarina?

Desafios a nível social. O próprio país tem esse desafio de erradicar a pobreza e Santa Catarina não é excepção. Temos de trabalhar as famílias no sentido de as empoderar, tirar as famílias do assistencialismo. Nós somos um município com tradição de comércio, em feira e grande parte das pessoas que vão à feira são mulheres. Temos de trabalhar com essas mulheres para que deixem essa vertente informal do comércio e fazer com que se formalizem cada vez mais. Temos também de trabalhar as famílias para que ela seja empoderada e no sentido que cada um tenha o seu rendimento, mas de forma sustentável. E depois, claro, como em qualquer município temos de falar das obras, do desencravamento das localidades, temos o desafio das ligações de água. Temos ainda o desafio da construção das casas de banho, porque cada família merece ter uma casa de banho. Os desafios são muitos e em várias áreas, mas eu diria que erradicar a pobreza, trabalhar a mão de obra e a empregabilidade, sobretudo a empregabilidade jovem, são os nossos grandes desafios. Ainda que os desafios sejam muitos há formas de os combater.

Como dizia há pouco as críticas vão surgir sempre e uma das críticas que mais se tem visto à sua gestão é que a cidade não está a ter os investimentos por parte da Câmara. Como responde a essas críticas?

A cidade está a ter investimentos. Nós em breve vamos inaugurar um parque infantil que é um parque que teve sempre muitas críticas, justas, porque estava ao abandono. Havia lá alguns actos de delinquência também. Mas é um grande investimento que vai servir as nossas crianças e as famílias. Temos também na fase final o Parque Poilão, em Boa Entrada, um investimento que vai certamente atrair turistas e onde há espaços de lazer, com áreas verdes. São investimento bem pensados e estruturantes. Se formos a Achada Riba verão que estamos a calcetar toda a via até à escola técnica. Temos estrada em Achada Lém. Houve um período, sim, em que todas as cidades ficaram paradas por causa da pandemia, porque infelizmente não se podiam fazer investimentos em obras tendo famílias a sofrer com a crise. As rubricas foram transferidas para a área social. Agora, mesmo neste contexto com a guerra, já estamos em condições de dizer que as obras foram retomadas e que a cidade está em obras. Basta visitar o centro da cidade para ver e mesmo até nos arredores vamos estar em obras. Em breve vamos fazer a reabilitação da entrada da cidade. A cidade não pára.

Cidades que crescem são cidades que acabam por atrair problemas e Assomada não é diferente havendo já alguma criminalidade. O que é que a Câmara está a fazer, em conjunto com as autoridades competentes, para controlar esse problema?

A Câmara está sempre em diálogo com todas as instituições que estão aqui sediadas no município e com a Polícia Nacional não é diferente. É claro que o desenvolvimento também traz alguns malefícios, mas ainda assim nós consideramos que somos uma cidade segura e a Polícia está sempre a agir tanto na prevenção, com o policiamento de proximidade, mas também na acção. Nós tivemos, há algum tempo, acesso a um relatório da Polícia e somos considerados uma cidade segura. Há casos, sim. Há casos de roubo, de delinquência, mas são resolúveis.

Texto publicado originalmente na edição nº1095 do Expresso das Ilhas de 23 de Novembro

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Autoria:Andre Amaral,25 nov 2022 8:00

Editado porAndre Amaral  em  5 fev 2023 23:27

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